Alguns passeios pelos bosques da ficção, de Umberto Eco (parte 3)
Teoria literária, por Rosane Tesch.
"A ficção permite que se transpasse limites, limites entre a realidade e a ficção, entre o real e o imaginário."
Umberto Eco desdenha o leitor empírico, haja vista ser este ilimitado em suas interpretações. Entra em cena, então, o leitor-modelo e, antecedendo a este, o autor-modelo.
Se o leitor-modelo deve estar disposto a “jogar” seguindo as regras impostas pelo contexto em que se insere a proposta do autor, o autor-modelo também deve dispor estas regras em conformidade com o receptor, ou “adversário”. Teremos assim um “xeque mate” às avessas, pois, antes que fechar o jogo, o maior prazer estará em jogá-lo.
O perigo que ronda um jogo em que o autor (narrador) dá as cartas e não segue as regras deste jogo, ou um leitor que aceita as regras mas impõe seus próprios artifícios para jogar, pode significar a derrota para ambos os lados, ou o consequente prejuízo da obra.
Consideremos as possibilidades de se desvincular autor e narrador em que a simples utilização de um verbo impessoal afasta a imagem de “eu” escritor, ou que esse “eu” às vezes não passa de uma escolha pessoal do autor, mas que está fora deste, ou seja, no narrador.
É da interação autor-modelo e leitor-modelo que, poderíamos dizer, se sustenta uma obra. E essa sustentação merece cuidados. O leitor inserido no contexto (época) da obra deve ser obediente em sua leitura. O leitor fora do contexto deve se permitir entrar pelos caminhos propostos ou estará fadado aos equívocos.
(Uma pausa para refletirmos sobre o que significou a introdução de uma literatura nacional no contexto histórico-social do Brasil do século XIX)
Eu diria que o leitor-modelo faz parte do leitor-empírico, e o autor que precisa de um leitor que compactue com ele nos caminhos da ficção, não poderia, ou não deveria, confundi-lo. É o caso de “Gordon Pym”, de Poe, que poderia ser equiparado à “Moreninha”, de Joaquim Manoel de Macedo, sugerindo haver um autor-narrador-personagem, onde se abre espaço para um empirismo inevitável. Mas, se estamos falando de experimentação e no “processo de leitura em que as entidades, autor-modelo e leitor-modelo, se tornam claras uma para a outra”, o narrador intermedia o autor e o leitor-modelo formando uma trindade narrativa. Muitas vezes os valores expressos pelo autor não são exatamente o que ele diz (pensa) ser, mas o que ele gostaria (imagina) que fosse. A exteriorização das ideias do autor são: menos do que pensou e muito mais (para os outros) do que ele escreveu. O que se escreve não só passa ao domínio público, como esse público pode dar destino diferente ao inicialmente proposto pelo autor. A ficção permite que se transpasse limites, limites entre a realidade e a ficção, entre o real e o imaginário.
“O intérprete (...) compreende o autor melhor do que o autor compreende a si mesmo.” (P.H. Boeckh, in José Luiz Jobin)
Por este ponto de vista poderíamos dar destino a uma obra, não pela concepção (origem ideal) do autor, mas do leitor. Assim, ante a voz sem corpo, sem sexo, sem história, apresentemo-nos (leitores) como ponto de partida e de entrada no “bosque da ficção”, mesmo que para tal precisemos ignorar a crítica clássica, e “pagar o nascimento do leitor com a morte do autor” (Roland Barthes). Mesmo que esse autor possa significar nós mesmos.
Se o leitor-modelo deve estar disposto a “jogar” seguindo as regras impostas pelo contexto em que se insere a proposta do autor, o autor-modelo também deve dispor estas regras em conformidade com o receptor, ou “adversário”. Teremos assim um “xeque mate” às avessas, pois, antes que fechar o jogo, o maior prazer estará em jogá-lo.
O perigo que ronda um jogo em que o autor (narrador) dá as cartas e não segue as regras deste jogo, ou um leitor que aceita as regras mas impõe seus próprios artifícios para jogar, pode significar a derrota para ambos os lados, ou o consequente prejuízo da obra.
Consideremos as possibilidades de se desvincular autor e narrador em que a simples utilização de um verbo impessoal afasta a imagem de “eu” escritor, ou que esse “eu” às vezes não passa de uma escolha pessoal do autor, mas que está fora deste, ou seja, no narrador.
É da interação autor-modelo e leitor-modelo que, poderíamos dizer, se sustenta uma obra. E essa sustentação merece cuidados. O leitor inserido no contexto (época) da obra deve ser obediente em sua leitura. O leitor fora do contexto deve se permitir entrar pelos caminhos propostos ou estará fadado aos equívocos.
(Uma pausa para refletirmos sobre o que significou a introdução de uma literatura nacional no contexto histórico-social do Brasil do século XIX)
Eu diria que o leitor-modelo faz parte do leitor-empírico, e o autor que precisa de um leitor que compactue com ele nos caminhos da ficção, não poderia, ou não deveria, confundi-lo. É o caso de “Gordon Pym”, de Poe, que poderia ser equiparado à “Moreninha”, de Joaquim Manoel de Macedo, sugerindo haver um autor-narrador-personagem, onde se abre espaço para um empirismo inevitável. Mas, se estamos falando de experimentação e no “processo de leitura em que as entidades, autor-modelo e leitor-modelo, se tornam claras uma para a outra”, o narrador intermedia o autor e o leitor-modelo formando uma trindade narrativa. Muitas vezes os valores expressos pelo autor não são exatamente o que ele diz (pensa) ser, mas o que ele gostaria (imagina) que fosse. A exteriorização das ideias do autor são: menos do que pensou e muito mais (para os outros) do que ele escreveu. O que se escreve não só passa ao domínio público, como esse público pode dar destino diferente ao inicialmente proposto pelo autor. A ficção permite que se transpasse limites, limites entre a realidade e a ficção, entre o real e o imaginário.
“O intérprete (...) compreende o autor melhor do que o autor compreende a si mesmo.” (P.H. Boeckh, in José Luiz Jobin)
Por este ponto de vista poderíamos dar destino a uma obra, não pela concepção (origem ideal) do autor, mas do leitor. Assim, ante a voz sem corpo, sem sexo, sem história, apresentemo-nos (leitores) como ponto de partida e de entrada no “bosque da ficção”, mesmo que para tal precisemos ignorar a crítica clássica, e “pagar o nascimento do leitor com a morte do autor” (Roland Barthes). Mesmo que esse autor possa significar nós mesmos.
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