A Vida depois do Nobel (entrevista de Saramago à BRAVO!)
Para a seção Conversas Literárias, organizada por Iracy de Souza.
Abril de 2011.
“O Nobel muda as coisas de muitas maneiras", disse certa vez o escritor canadense Saul Bellow. "Conheço gente, como John Steinbeck, para quem o prêmio foi o beijo da morte." Nobel de Literatura em 1976, Bellow se referia, naturalmente, à morte para o ofício de escrever, com os laureados ameaçados de atingir uma espécie de limiar: obtida a mais importante honraria do mundo, não haveria muito mais a fazer. Como se escrever não fizesse mais sentido, restaria, na condição de "pessoa oficial" (na expressão de outro Nobel, a polonesa Wislawa Szymborska, em 1996), participar de incontáveis e intermináveis mesas-redondas, conferências, sessões de autógrafos etc. Haveria, ainda, a tentação de colocar a fama a serviço de alguma causa política, coisa que a Academia Sueca — que costuma valorizar essas questões extraliterárias nas suas escolhas — aprovaria.
Em junho de 1999, confrontado com a frase de Bellow, José Saramago torceu: "Oxalá não seja", disse, em uma entrevista concedida à revista BRAVO!, durante uma viagem de trabalho ao Brasil. Na ocasião, fazia apenas alguns meses que ele havia se tornado o primeiro escritor de língua portuguesa a receber um Nobel de Literatura. "Este é o meu ano de miss universo", brincou, ainda que se queixasse da absoluta falta de tempo para escrever diante da multiplicação de compromissos que o fato, extraordinário, havia provocado. "Simplesmente não posso, não poderia e não poderei continuar nesse ritmo... Então seria mesmo o beijo da morte", afirmou na época.
Seria? Dez anos depois do Nobel, concedido a ele em outubro de 1998, Saramago volta ao Brasil neste mês para lançar mais um livro, A Viagem do Elefante, classificado pelo autor de "conto", embora tenha "exatamente 258" páginas, como ele próprio frisa em nova entrevista à BRAVO!
No "conto", Saramago ensaia uma volta ao romance histórico, com o enredo que descreve a insólita caravana que acompanhou o elefante salomão (assim mesmo, em minúscula) pela Europa no século 16. Lembra, em muito, momentos de Memorial do Convento, talvez sua melhor obra. Engenhoso e engraçado, o livro exibe ainda a maestria de um escritor que se dispôs a pagar o preço de buscar a clareza do pensamento no excesso; a construir uma prosa cujo ritmo compassado, intercalando fatos e diálogos, tem uma capacidade singular tanto de atrair admiradores quanto de semear detratores.
Além do lançamento de A Viagem do Elefante, Saramago experimenta um momento de popularidade raro para qualquer autor. Até meados de outubro, o filme Ensaio sobre a Cegueira, baseado na obra homônima do escritor, já tinha sido visto por quase 600 mil pessoas só no Brasil — o dobro do que o diretor, Fernando Meirelles, projetava antes da estréia, em setembro. O sucesso ajudou a reconduzir o romance às listas de mais vendidos. Relançado pela Companhia das Letras em maio, o livro teve 40 mil exemplares acrescentados a uma já assombrosa vendagem de 220 mil desde o seu lançamento, em 1995.
Para completar este novo mês de "miss universo" no Brasil, Saramago será tema de uma grande exposição no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, chamada de A Consistência dos Sonhos. A mostra, que contará com a presença do escritor, reunirá manuscritos, vídeos, fotografias, gravações e primeiras edições, totalizando um acervo de mais 500 peças que abrangem toda a vida desse português nascido em 1922 na minúscula freguesia rural de Azinhaga, na Província do Ribatejo, lugar que ele trouxe à luz no livro Pequenas Memórias (2006), outra bela obra de sua vida pós-Nobel.
CUBA E INTERNET
A jornada de Saramago além do rubicão da Academia Sueca não esteve, contudo, imune a acidentes e imprevistos. Já no primeiro romance dessa nova fase, o escritor parecia se encaminhar para o destino aziago de tantos notáveis — além de Steinbeck, também os americanos William Faulkner (1949) e Ernst Hemingway (1954), por exemplo, tiveram a medalha e o diploma recebidos em Estocolmo transformados em lápide e testamento literário. Com A Caverna (2000), Saramago ressurgiu como sombra de si mesmo: argumento, personagens e acabamento, claramente inferiores, potencializavam os defeitos que os críticos de sua obra até ali apontavam. Maniqueísta, panfletário e escrito numa prosa pedregosa, o livro era chato, simplório e difícil de ler.
Saramago nunca escondeu suas convicções políticas e ateístas em suas obras — mas ele havia conseguido transformar essas características numa distinção literária. Contudo, na alegoria do Centro — misto de condomínio de luxo e shopping center que encerra a vida das pessoas em A Caverna —, só restava o tosco manifesto pré-industrial em favor de oleiros, contra o progresso capitalista que aliena a todos, o tal que, a exemplo da caverna de Platão, nos impede de enxergar "a verdade".
Diante desse cenário desolador que se anunciava, é ainda mais notável que o homem Saramago tenha se disposto, já devidamente galardoado, a rever (flexibilizar, ao menos) algumas de suas posições — ainda mais numa idade em que a maioria dos homens opta pelo imobilismo. Ele está longe de abdicar de suas crenças, mas causou rebuliço entre os camaradas do Partido Comunista Português ao romper publicamente com Cuba, em 2003. Diante da execução sumária de três cubanos que haviam seqüestrado uma balsa para tentar chegar aos Estados Unidos, o escritor se pronunciou: "Cuba não ganhou nenhuma batalha heróica fuzilando esses três homens, mas perdeu minha confiança, quebrou minhas esperanças, traiu meus sonhos", escreveu num breve texto publicado no jornal espanhol El País.
Tão surpreendente quanto, talvez, tenha sido a iniciativa de Saramago em aderir à blogosfera. Em setembro último, o defensor das terrinas de barro e crítico das louças de plástico de A Caverna colocou no ar o Caderno de Saramago (http://caderno.josesaramago.org ). O escritor posta praticamente um único (e imenso) texto por dia, todos fechados para comentários. Como nem tudo pode mudar, no dia 16 de outubro passado, por exemplo, publicou um texto com o título Deus como Problema. Que assim, inconfundivelmente, principia: "Se eu próprio pertencesse ao grémio cristão, o catolicismo vaticano teria de interromper os espectáculos estilo cecil b. de mille em que agora se compraz para dar-se ao trabalho de me excomungar, porém, cumprida essa obrigação disciplinária, veria caírem-se-lhe os braços".
Como se vê, nem tudo pode ser mudado. Mas o que Saramago oferece, nesse mau humor espirituoso numa grafia que está a ponto de ser extinta pela reforma ortográfica, é o melhor que o escritor poderia ter conservado. Ainda mais militando em um meio tão inusitado para um homem que, no dia 16 deste mês, completa 87 anos.
A IDADE A MORTE
Saramago, é preciso dizer, está acostumado a vencer o tempo. Depois de estrear desastrosamente na literatura aos 25 anos, com o romance Terra do Pecado (1947), colecionou durante três décadas uma série de insucessos, principalmente com livros de poesia. Em 1977, aconteceu de lançar um novo romance, Manual de Pintura e Caligrafia, ao qual se seguiram Levantado do Chão (1980), alguns contos e peças de teatro e, por fim, o megassucesso Memorial do Convento (1982). Tinha exatamente 60 anos de idade.
Dez anos depois, já tinha publicado O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), Jangada de Pedra (1986), História do Cerco de Lisboa (1989) e O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), livros que o conduziram — não sem polêmica — à condição de maior escritor da língua portuguesa. Até hoje são renhidas as disputas entre os partidários de Saramago e os de António Lobo Antunes, também eles desafetos mútuos. No mundo da futricas literárias, o autor de Os Cus de Judas (1979) e Manual dos Inquisidores era, para os seus defensores, o verdadeiro merecedor do Nobel.
Em 1988, o viúvo Saramago casou-se com uma entusiasmada jornalista espanhola, María del Pilar del Río Sánchez, que, dois anos antes, o havia procurado após se encantar com a visionária Blimunda, o soldado maneta Baltasar e o padre voador Bartolomeu Lourenço, personagens de Memorial do Convento. Mais uma vez, a idade não foi problema: ela estava com 38 anos e ele, com 66. Foi ela quem teve a idéia, em 1992, de morar em Lanzarote, uma ilha vulcânica de 860 km2 no arquipélago das Canárias, distante pouco mais de 100 km da costa africana. Na ocasião, Saramago subestimou-se. "Viver em Lanzarote nesta altura da vida?" Mas acabou se convencendo: tinha 70 anos quando promoveu mais essa reviravolta.
Pilar del Río foi, sem dúvida, um acontecimento crucial na vida de Saramago, coincidentemente, nos dez anos que antecederam o Nobel. Dona de opiniões fortes, ela por vezes era tão ou mais linha-dura que o marido nas questões políticas. Desde 2007, Pilar está à frente da Fundação José Saramago, para, segundo declaração de princípios do escritor, "lutar por grandes e pequenas causas", com ênfase nos direitos humanos e nos "problemas do meio ambiente e do aquecimento global do planeta".
Durante uma entrevista publicada em setembro de 2007 no jornal The New York Times, Saramago declarou à mulher: "Se eu tivesse morrido antes de conhecer você, Pilar, eu teria morrido me sentindo muito mais velho". Talvez não por coincidência, A Viagem do Elefante tem a seguinte dedicatória: "A Pilar, que não deixou que eu morresse". Segundo ela mesma conta, num texto publicado no blog da Fundação, Saramago temeu não conseguir concluir o livro, debilitado gravemente por uma forte pneumonia no fim de 2007, da qual levou meses para se recuperar.
Na soma de todas as suas vidas e de seus renascimentos, em todas as reviravoltas de uma trajetória rara, Saramago conseguiu driblar o fim a que parecia destinado nos papéis de escritor fracassado, de viúvo sessentão, de velho obsoleto de opiniões antiquadas e, finalmente, do escritor tocado pela fúnebre Academia Sueca. Como Bellow — que à maldição acrescentou o antídoto, ao criar depois do prêmio obras-primas como Ravelstein e ao ter um filho aos 84 anos —, Saramago foi bem-sucedido na decisão de escolher, ele mesmo, "o próprio beijo da morte", qualquer que seja ele. "dei largas, na linguagem, à imaginação que me restava"
José Saramago conta como a criação de "A Viagem do Elefante" o ajudou a superar uma doença grave e faz um balanço de sua obra por Almir de Freitas.
BRAVO!: Na dedicatória de A Viagem do Elefante, o sr. anotou: "A Pilar, que não deixou que eu morresse". Como foi esse período difícil, em que o sr. enfrentou a doença que o fez até temer não concluir o livro?
Saramago: Foi difícil, muito difícil. Não concluir o livro seria mau, mas pior seria morrer. Portanto, tratava-se de salvar a vida, embora as esperanças fossem quase nulas. Felizmente tive a sorte de encontrar no hospital de Lanzarote uma excelente equipe médica, pessoas ao mesmo tempo de uma grande qualidade humana. E havia Pilar com sua coragem, a sua determinação, a sua vontade de ferro. Como eu disse algumas vezes, ela agarrou-me pela gola do casaco e não me deixou cair ao poço.
De alguma maneira, esse período difícil se refletiu em A Viagem do Elefante? O livro mostra que o sr. não perdeu o bom humor.
Digamos que se refletiu ao revés. Em lugar do tom melancólico, mesmo desesperado, que seria de prever numa situação em que tudo parecia apontar a um desenlace fatal, foi como se a mente se me tivesse aberto mais. Reduzido a uma sombra de mim mesmo, fui capaz de manter diálogos vivíssimos com os médicos. Tinha relativizado a minha situação, esquecido de alguma maneira o corpo, uma vez que não podia fazer nada por ele, e dei largas, na linguagem, à imaginação que me restava.
No livro persistem, ainda, as farpas direcionadas ao Estado e à Igreja, que são características de sua obra. A Igreja Católica não trouxe nada de bom à humanidade?
As religiões, todas elas, nunca serviram para aproximar os seres humanos uns dos outros. Pelo contrário. E o catolicismo, neste particular, deu os piores exemplos ao mundo, basta que recordemos as torturas e as fogueiras da inquisição, essa associação criminosa cujos herdeiros ainda não pediram perdão às suas vítimas. Os crimes que desde sempre se cometeram em nome dos deuses são, como se dizia dantes, de bradar ao céu… Mas, como já deveríamos saber, o céu é surdo de nascença.
O sr. define o livro, de pouco mais de 250 páginas, como "conto". Gostaria que o sr. explicasse melhor essa definição que o sr. reivindica para essa narrativa.
São exatamente 258. Quando se anunciou o próximo aparecimento do livro, toda a gente, sem nada saber dele, começou a chamar-lhe romance. Ora, A Viagem do Elefante não é um romance, faltam-lhe os ingredientes que nos habituamos a encontrar no gênero. Por exemplo, não há história de amor. E também não há uma personagem feminina importante, daquelas a que os leitores dos meus livros se habituaram. Quanto a mim, já desisti de classificações. Entenda cada um o livro como melhor lhe parecer e chame-lhe o que quiser.
Em obras recentes, o sr. abordou tanto as suas memórias de infância, em As Pequenas Memórias, quanto a morte, na ficção As Intermitências da Morte. O sr. considera que esses são temas de que não podemos escapar quando envelhecemos?
Mais a recordação dos primeiros anos que a proximidade da morte. Em todo o caso, se repararmos bem, As Intermitências não é sobre a morte, mas sobre a necessidade dela para que possamos viver. E que desejar viver eternamente, esse antigo sonho da espécie humana, significaria ser velho eternamente, velho cada vez mais velho, uma vez que não se pode parar o tempo.
Dez anos se passaram desde o Prêmio Nobel de Literatura. O que mudou em sua rotina de lá para cá — se é que mudou?
Os compromissos, as intervenções multiplicaram-se, mas, no essencial, nada mudou. O Nobel tornou-me mais visível e mais audível, criou-me essa responsabilidade. Fiz e continuo a fazer o possível para estar à altura.
Algo mudou para a literatura de língua portuguesa, de alguma maneira o Nobel atraiu atenções para essa língua tão pouco falada no mundo?
Duzentos milhões de pessoas não são pouca gente. Com o Brasil como barco almirante, esta esquadra tem muito que navegar. Assim haja vontade política e meios materiais, isto é, dinheiro, porque sem ele não se poderá ir longe. Sobre a outra parte da pergunta, há que reconhecer que o interesse da edição internacional pelos autores portugueses cresceu muito a partir da atribuição do Nobel.
Já se falou que sua prosa lembra, pelo ritmo compassado, uma narrativa oral, em que os fatos e as falas se entrelaçam. O sr. concorda com esta idéia? Em caso positivo, seria esta característica que define a "voz" que o sr. encontrou para escrever?
Os sinais de vírgula e ponto, únicos que uso nas minhas ficções, são, como prefiro dizer, sinais de pausa, um mais breve, outro mais longo. Mas não é daí que vem a tal "voz". A "voz" vem do tom narrativo, que é muito mais que a simples oralidade, vem da proximidade com o leitor que é talvez a máxima preocupação do narrador, vem do uso de cadências e ritmos diversificados, todos tendentes a suscitar uma atmosfera especial no ato de ler.
Como tem sido a experiência do sr. com a internet, com o blog? Tem valido a pena, estabeleceu-se a comunicação com os leitores que um blog supostamente traz?
Creio que tem sido positiva. E com um aspecto curioso que mostra até que ponto podemos ser contraditórios. Inúmeras vezes convidado a colaborar na imprensa, sempre me tenho negado, e agora eis-me a escrever grátis com a maior regularidade naquilo a que já chamei a página infinita de internet…
Foi muito marcante a sua reação emocionada à adaptação para o cinema de Fernando Meirelles de Ensaio sobre a Cegueira. Qual seria a grande qualidade que o sr. destacaria no filme?
O escrúpulo de Fernando em respeitar o espírito do romance sobre todas as coisas. Tudo no filme está posto ao serviço dessa preocupação.
O que o sr. tem achado da recepção do filme no mundo?
Creio que ainda é cedo para falar. Até agora tem-me parecido muito favorável, não obstante as incompreensões de certa crítica que diz que o filme é demasiado violento. Pelos visto esses críticos não costumam ver televisão.
O sr. acha que algum outro livro do sr. renderia uma adaptação tão boa quanto Ensaio sobre a Cegueira? Memorial do Convento, talvez?
Memorial do Convento certamente, mas há outros como, por exemplo, O Homem Duplicado.
O sr. acha que o mundo — ou o governo de Portugal, pelo menos — estaria mais preparado hoje para O Evangelho Segundo Jesus Cristo?
Com o atual governo seria impossível que o fato se repetisse. Mas como é perigoso apostar no futuro (imaginemos que a direita volte ao poder) estejamos atentos.
Faz alguns anos, em uma entrevista ao jornal El País, o sr. rompeu com o regime cubano. Mas ainda se definiu como um "comunista libertário". No entender do sr., qual futuro pode haver para o socialismo no mundo?
Em minha opinião, Marx nunca teve tanta razão como hoje. O problema está na desorganização estrutural das esquerdas atuais, na sua incapacidade para criar modelos originais. A social-democracia, que é, como devíamos ter a obrigação de não esquecer, a cara amável do capitalismo mais duro, logrou a proeza de minar, às vezes pela corrupção, as bases sociais dos partidos de esquerda e dos sindicatos. Enquanto não tivermos uma alternativa política capaz de travar batalha em todos os níveis da sociedade, não será possível desalojar o capitalismo do poder.
O que o sr. acha da eventual eleição de Barack Obama nos Estados Unidos?
As expectativas são grandes. Esperemos que a nova realidade (na hipótese previsível do triunfo) se manifeste. Já tivemos muitas decepções.
O sr. sempre fez questão de que as edições de seus livros nos demais países de língua portuguesa conservassem a grafia de Portugal. O que o sr. acha da reforma ortográfica que começará a vigorar no ano que vem, na tentativa de uniformizar as grafias de todos esses países?
Oxalá tenha terminado o que já parecia um interminável folhetim, reforma sim, reforma não, reforma talvez. Por muito que desagrade a um número considerável de pessoas responsáveis, a reforma era necessária. Não escreveremos pior com ela, e isso é o que importa.
A epígrafe de A Viagem do Elefante é: "Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam". Este lugar é o mesmo para todos nós?
Sim e chama-se morte.
O Livro
A Viagem do Elefante, de José Saramago. Companhia das Letras, 258 págs., preço a definir.
A Exposição
A Consistência dos Sonhos. Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo, 0++/11/2245-1900). 3ª a dom., das 11h às 20h. De 28/10 a 15/2/2009. Grátis.
Abril de 2011.
Revista BRAVO! | Novembro/2008
“O Nobel muda as coisas de muitas maneiras", disse certa vez o escritor canadense Saul Bellow. "Conheço gente, como John Steinbeck, para quem o prêmio foi o beijo da morte." Nobel de Literatura em 1976, Bellow se referia, naturalmente, à morte para o ofício de escrever, com os laureados ameaçados de atingir uma espécie de limiar: obtida a mais importante honraria do mundo, não haveria muito mais a fazer. Como se escrever não fizesse mais sentido, restaria, na condição de "pessoa oficial" (na expressão de outro Nobel, a polonesa Wislawa Szymborska, em 1996), participar de incontáveis e intermináveis mesas-redondas, conferências, sessões de autógrafos etc. Haveria, ainda, a tentação de colocar a fama a serviço de alguma causa política, coisa que a Academia Sueca — que costuma valorizar essas questões extraliterárias nas suas escolhas — aprovaria.
Em junho de 1999, confrontado com a frase de Bellow, José Saramago torceu: "Oxalá não seja", disse, em uma entrevista concedida à revista BRAVO!, durante uma viagem de trabalho ao Brasil. Na ocasião, fazia apenas alguns meses que ele havia se tornado o primeiro escritor de língua portuguesa a receber um Nobel de Literatura. "Este é o meu ano de miss universo", brincou, ainda que se queixasse da absoluta falta de tempo para escrever diante da multiplicação de compromissos que o fato, extraordinário, havia provocado. "Simplesmente não posso, não poderia e não poderei continuar nesse ritmo... Então seria mesmo o beijo da morte", afirmou na época.
Seria? Dez anos depois do Nobel, concedido a ele em outubro de 1998, Saramago volta ao Brasil neste mês para lançar mais um livro, A Viagem do Elefante, classificado pelo autor de "conto", embora tenha "exatamente 258" páginas, como ele próprio frisa em nova entrevista à BRAVO!
No "conto", Saramago ensaia uma volta ao romance histórico, com o enredo que descreve a insólita caravana que acompanhou o elefante salomão (assim mesmo, em minúscula) pela Europa no século 16. Lembra, em muito, momentos de Memorial do Convento, talvez sua melhor obra. Engenhoso e engraçado, o livro exibe ainda a maestria de um escritor que se dispôs a pagar o preço de buscar a clareza do pensamento no excesso; a construir uma prosa cujo ritmo compassado, intercalando fatos e diálogos, tem uma capacidade singular tanto de atrair admiradores quanto de semear detratores.
Além do lançamento de A Viagem do Elefante, Saramago experimenta um momento de popularidade raro para qualquer autor. Até meados de outubro, o filme Ensaio sobre a Cegueira, baseado na obra homônima do escritor, já tinha sido visto por quase 600 mil pessoas só no Brasil — o dobro do que o diretor, Fernando Meirelles, projetava antes da estréia, em setembro. O sucesso ajudou a reconduzir o romance às listas de mais vendidos. Relançado pela Companhia das Letras em maio, o livro teve 40 mil exemplares acrescentados a uma já assombrosa vendagem de 220 mil desde o seu lançamento, em 1995.
Para completar este novo mês de "miss universo" no Brasil, Saramago será tema de uma grande exposição no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, chamada de A Consistência dos Sonhos. A mostra, que contará com a presença do escritor, reunirá manuscritos, vídeos, fotografias, gravações e primeiras edições, totalizando um acervo de mais 500 peças que abrangem toda a vida desse português nascido em 1922 na minúscula freguesia rural de Azinhaga, na Província do Ribatejo, lugar que ele trouxe à luz no livro Pequenas Memórias (2006), outra bela obra de sua vida pós-Nobel.
CUBA E INTERNET
A jornada de Saramago além do rubicão da Academia Sueca não esteve, contudo, imune a acidentes e imprevistos. Já no primeiro romance dessa nova fase, o escritor parecia se encaminhar para o destino aziago de tantos notáveis — além de Steinbeck, também os americanos William Faulkner (1949) e Ernst Hemingway (1954), por exemplo, tiveram a medalha e o diploma recebidos em Estocolmo transformados em lápide e testamento literário. Com A Caverna (2000), Saramago ressurgiu como sombra de si mesmo: argumento, personagens e acabamento, claramente inferiores, potencializavam os defeitos que os críticos de sua obra até ali apontavam. Maniqueísta, panfletário e escrito numa prosa pedregosa, o livro era chato, simplório e difícil de ler.
Saramago nunca escondeu suas convicções políticas e ateístas em suas obras — mas ele havia conseguido transformar essas características numa distinção literária. Contudo, na alegoria do Centro — misto de condomínio de luxo e shopping center que encerra a vida das pessoas em A Caverna —, só restava o tosco manifesto pré-industrial em favor de oleiros, contra o progresso capitalista que aliena a todos, o tal que, a exemplo da caverna de Platão, nos impede de enxergar "a verdade".
Diante desse cenário desolador que se anunciava, é ainda mais notável que o homem Saramago tenha se disposto, já devidamente galardoado, a rever (flexibilizar, ao menos) algumas de suas posições — ainda mais numa idade em que a maioria dos homens opta pelo imobilismo. Ele está longe de abdicar de suas crenças, mas causou rebuliço entre os camaradas do Partido Comunista Português ao romper publicamente com Cuba, em 2003. Diante da execução sumária de três cubanos que haviam seqüestrado uma balsa para tentar chegar aos Estados Unidos, o escritor se pronunciou: "Cuba não ganhou nenhuma batalha heróica fuzilando esses três homens, mas perdeu minha confiança, quebrou minhas esperanças, traiu meus sonhos", escreveu num breve texto publicado no jornal espanhol El País.
Tão surpreendente quanto, talvez, tenha sido a iniciativa de Saramago em aderir à blogosfera. Em setembro último, o defensor das terrinas de barro e crítico das louças de plástico de A Caverna colocou no ar o Caderno de Saramago (http://caderno.josesaramago.org ). O escritor posta praticamente um único (e imenso) texto por dia, todos fechados para comentários. Como nem tudo pode mudar, no dia 16 de outubro passado, por exemplo, publicou um texto com o título Deus como Problema. Que assim, inconfundivelmente, principia: "Se eu próprio pertencesse ao grémio cristão, o catolicismo vaticano teria de interromper os espectáculos estilo cecil b. de mille em que agora se compraz para dar-se ao trabalho de me excomungar, porém, cumprida essa obrigação disciplinária, veria caírem-se-lhe os braços".
Como se vê, nem tudo pode ser mudado. Mas o que Saramago oferece, nesse mau humor espirituoso numa grafia que está a ponto de ser extinta pela reforma ortográfica, é o melhor que o escritor poderia ter conservado. Ainda mais militando em um meio tão inusitado para um homem que, no dia 16 deste mês, completa 87 anos.
A IDADE A MORTE
Saramago, é preciso dizer, está acostumado a vencer o tempo. Depois de estrear desastrosamente na literatura aos 25 anos, com o romance Terra do Pecado (1947), colecionou durante três décadas uma série de insucessos, principalmente com livros de poesia. Em 1977, aconteceu de lançar um novo romance, Manual de Pintura e Caligrafia, ao qual se seguiram Levantado do Chão (1980), alguns contos e peças de teatro e, por fim, o megassucesso Memorial do Convento (1982). Tinha exatamente 60 anos de idade.
Dez anos depois, já tinha publicado O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), Jangada de Pedra (1986), História do Cerco de Lisboa (1989) e O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), livros que o conduziram — não sem polêmica — à condição de maior escritor da língua portuguesa. Até hoje são renhidas as disputas entre os partidários de Saramago e os de António Lobo Antunes, também eles desafetos mútuos. No mundo da futricas literárias, o autor de Os Cus de Judas (1979) e Manual dos Inquisidores era, para os seus defensores, o verdadeiro merecedor do Nobel.
Em 1988, o viúvo Saramago casou-se com uma entusiasmada jornalista espanhola, María del Pilar del Río Sánchez, que, dois anos antes, o havia procurado após se encantar com a visionária Blimunda, o soldado maneta Baltasar e o padre voador Bartolomeu Lourenço, personagens de Memorial do Convento. Mais uma vez, a idade não foi problema: ela estava com 38 anos e ele, com 66. Foi ela quem teve a idéia, em 1992, de morar em Lanzarote, uma ilha vulcânica de 860 km2 no arquipélago das Canárias, distante pouco mais de 100 km da costa africana. Na ocasião, Saramago subestimou-se. "Viver em Lanzarote nesta altura da vida?" Mas acabou se convencendo: tinha 70 anos quando promoveu mais essa reviravolta.
Pilar del Río foi, sem dúvida, um acontecimento crucial na vida de Saramago, coincidentemente, nos dez anos que antecederam o Nobel. Dona de opiniões fortes, ela por vezes era tão ou mais linha-dura que o marido nas questões políticas. Desde 2007, Pilar está à frente da Fundação José Saramago, para, segundo declaração de princípios do escritor, "lutar por grandes e pequenas causas", com ênfase nos direitos humanos e nos "problemas do meio ambiente e do aquecimento global do planeta".
Durante uma entrevista publicada em setembro de 2007 no jornal The New York Times, Saramago declarou à mulher: "Se eu tivesse morrido antes de conhecer você, Pilar, eu teria morrido me sentindo muito mais velho". Talvez não por coincidência, A Viagem do Elefante tem a seguinte dedicatória: "A Pilar, que não deixou que eu morresse". Segundo ela mesma conta, num texto publicado no blog da Fundação, Saramago temeu não conseguir concluir o livro, debilitado gravemente por uma forte pneumonia no fim de 2007, da qual levou meses para se recuperar.
Na soma de todas as suas vidas e de seus renascimentos, em todas as reviravoltas de uma trajetória rara, Saramago conseguiu driblar o fim a que parecia destinado nos papéis de escritor fracassado, de viúvo sessentão, de velho obsoleto de opiniões antiquadas e, finalmente, do escritor tocado pela fúnebre Academia Sueca. Como Bellow — que à maldição acrescentou o antídoto, ao criar depois do prêmio obras-primas como Ravelstein e ao ter um filho aos 84 anos —, Saramago foi bem-sucedido na decisão de escolher, ele mesmo, "o próprio beijo da morte", qualquer que seja ele. "dei largas, na linguagem, à imaginação que me restava"
José Saramago conta como a criação de "A Viagem do Elefante" o ajudou a superar uma doença grave e faz um balanço de sua obra por Almir de Freitas.
BRAVO!: Na dedicatória de A Viagem do Elefante, o sr. anotou: "A Pilar, que não deixou que eu morresse". Como foi esse período difícil, em que o sr. enfrentou a doença que o fez até temer não concluir o livro?
Saramago: Foi difícil, muito difícil. Não concluir o livro seria mau, mas pior seria morrer. Portanto, tratava-se de salvar a vida, embora as esperanças fossem quase nulas. Felizmente tive a sorte de encontrar no hospital de Lanzarote uma excelente equipe médica, pessoas ao mesmo tempo de uma grande qualidade humana. E havia Pilar com sua coragem, a sua determinação, a sua vontade de ferro. Como eu disse algumas vezes, ela agarrou-me pela gola do casaco e não me deixou cair ao poço.
De alguma maneira, esse período difícil se refletiu em A Viagem do Elefante? O livro mostra que o sr. não perdeu o bom humor.
Digamos que se refletiu ao revés. Em lugar do tom melancólico, mesmo desesperado, que seria de prever numa situação em que tudo parecia apontar a um desenlace fatal, foi como se a mente se me tivesse aberto mais. Reduzido a uma sombra de mim mesmo, fui capaz de manter diálogos vivíssimos com os médicos. Tinha relativizado a minha situação, esquecido de alguma maneira o corpo, uma vez que não podia fazer nada por ele, e dei largas, na linguagem, à imaginação que me restava.
No livro persistem, ainda, as farpas direcionadas ao Estado e à Igreja, que são características de sua obra. A Igreja Católica não trouxe nada de bom à humanidade?
As religiões, todas elas, nunca serviram para aproximar os seres humanos uns dos outros. Pelo contrário. E o catolicismo, neste particular, deu os piores exemplos ao mundo, basta que recordemos as torturas e as fogueiras da inquisição, essa associação criminosa cujos herdeiros ainda não pediram perdão às suas vítimas. Os crimes que desde sempre se cometeram em nome dos deuses são, como se dizia dantes, de bradar ao céu… Mas, como já deveríamos saber, o céu é surdo de nascença.
O sr. define o livro, de pouco mais de 250 páginas, como "conto". Gostaria que o sr. explicasse melhor essa definição que o sr. reivindica para essa narrativa.
São exatamente 258. Quando se anunciou o próximo aparecimento do livro, toda a gente, sem nada saber dele, começou a chamar-lhe romance. Ora, A Viagem do Elefante não é um romance, faltam-lhe os ingredientes que nos habituamos a encontrar no gênero. Por exemplo, não há história de amor. E também não há uma personagem feminina importante, daquelas a que os leitores dos meus livros se habituaram. Quanto a mim, já desisti de classificações. Entenda cada um o livro como melhor lhe parecer e chame-lhe o que quiser.
Em obras recentes, o sr. abordou tanto as suas memórias de infância, em As Pequenas Memórias, quanto a morte, na ficção As Intermitências da Morte. O sr. considera que esses são temas de que não podemos escapar quando envelhecemos?
Mais a recordação dos primeiros anos que a proximidade da morte. Em todo o caso, se repararmos bem, As Intermitências não é sobre a morte, mas sobre a necessidade dela para que possamos viver. E que desejar viver eternamente, esse antigo sonho da espécie humana, significaria ser velho eternamente, velho cada vez mais velho, uma vez que não se pode parar o tempo.
Dez anos se passaram desde o Prêmio Nobel de Literatura. O que mudou em sua rotina de lá para cá — se é que mudou?
Os compromissos, as intervenções multiplicaram-se, mas, no essencial, nada mudou. O Nobel tornou-me mais visível e mais audível, criou-me essa responsabilidade. Fiz e continuo a fazer o possível para estar à altura.
Algo mudou para a literatura de língua portuguesa, de alguma maneira o Nobel atraiu atenções para essa língua tão pouco falada no mundo?
Duzentos milhões de pessoas não são pouca gente. Com o Brasil como barco almirante, esta esquadra tem muito que navegar. Assim haja vontade política e meios materiais, isto é, dinheiro, porque sem ele não se poderá ir longe. Sobre a outra parte da pergunta, há que reconhecer que o interesse da edição internacional pelos autores portugueses cresceu muito a partir da atribuição do Nobel.
Já se falou que sua prosa lembra, pelo ritmo compassado, uma narrativa oral, em que os fatos e as falas se entrelaçam. O sr. concorda com esta idéia? Em caso positivo, seria esta característica que define a "voz" que o sr. encontrou para escrever?
Os sinais de vírgula e ponto, únicos que uso nas minhas ficções, são, como prefiro dizer, sinais de pausa, um mais breve, outro mais longo. Mas não é daí que vem a tal "voz". A "voz" vem do tom narrativo, que é muito mais que a simples oralidade, vem da proximidade com o leitor que é talvez a máxima preocupação do narrador, vem do uso de cadências e ritmos diversificados, todos tendentes a suscitar uma atmosfera especial no ato de ler.
Como tem sido a experiência do sr. com a internet, com o blog? Tem valido a pena, estabeleceu-se a comunicação com os leitores que um blog supostamente traz?
Creio que tem sido positiva. E com um aspecto curioso que mostra até que ponto podemos ser contraditórios. Inúmeras vezes convidado a colaborar na imprensa, sempre me tenho negado, e agora eis-me a escrever grátis com a maior regularidade naquilo a que já chamei a página infinita de internet…
Foi muito marcante a sua reação emocionada à adaptação para o cinema de Fernando Meirelles de Ensaio sobre a Cegueira. Qual seria a grande qualidade que o sr. destacaria no filme?
O escrúpulo de Fernando em respeitar o espírito do romance sobre todas as coisas. Tudo no filme está posto ao serviço dessa preocupação.
O que o sr. tem achado da recepção do filme no mundo?
Creio que ainda é cedo para falar. Até agora tem-me parecido muito favorável, não obstante as incompreensões de certa crítica que diz que o filme é demasiado violento. Pelos visto esses críticos não costumam ver televisão.
O sr. acha que algum outro livro do sr. renderia uma adaptação tão boa quanto Ensaio sobre a Cegueira? Memorial do Convento, talvez?
Memorial do Convento certamente, mas há outros como, por exemplo, O Homem Duplicado.
O sr. acha que o mundo — ou o governo de Portugal, pelo menos — estaria mais preparado hoje para O Evangelho Segundo Jesus Cristo?
Com o atual governo seria impossível que o fato se repetisse. Mas como é perigoso apostar no futuro (imaginemos que a direita volte ao poder) estejamos atentos.
Faz alguns anos, em uma entrevista ao jornal El País, o sr. rompeu com o regime cubano. Mas ainda se definiu como um "comunista libertário". No entender do sr., qual futuro pode haver para o socialismo no mundo?
Em minha opinião, Marx nunca teve tanta razão como hoje. O problema está na desorganização estrutural das esquerdas atuais, na sua incapacidade para criar modelos originais. A social-democracia, que é, como devíamos ter a obrigação de não esquecer, a cara amável do capitalismo mais duro, logrou a proeza de minar, às vezes pela corrupção, as bases sociais dos partidos de esquerda e dos sindicatos. Enquanto não tivermos uma alternativa política capaz de travar batalha em todos os níveis da sociedade, não será possível desalojar o capitalismo do poder.
O que o sr. acha da eventual eleição de Barack Obama nos Estados Unidos?
As expectativas são grandes. Esperemos que a nova realidade (na hipótese previsível do triunfo) se manifeste. Já tivemos muitas decepções.
O sr. sempre fez questão de que as edições de seus livros nos demais países de língua portuguesa conservassem a grafia de Portugal. O que o sr. acha da reforma ortográfica que começará a vigorar no ano que vem, na tentativa de uniformizar as grafias de todos esses países?
Oxalá tenha terminado o que já parecia um interminável folhetim, reforma sim, reforma não, reforma talvez. Por muito que desagrade a um número considerável de pessoas responsáveis, a reforma era necessária. Não escreveremos pior com ela, e isso é o que importa.
A epígrafe de A Viagem do Elefante é: "Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam". Este lugar é o mesmo para todos nós?
Sim e chama-se morte.
O Livro
A Viagem do Elefante, de José Saramago. Companhia das Letras, 258 págs., preço a definir.
A Exposição
A Consistência dos Sonhos. Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo, 0++/11/2245-1900). 3ª a dom., das 11h às 20h. De 28/10 a 15/2/2009. Grátis.
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