I Concurso Literário Benfazeja

Negritude




Poemas de Márcio Rufino


Eu sou negro
Quero que meu tronco
Seja seu corpo
E minhas algemas e grilhões
Sejam seu abraço.

Eu sou negro
E não quero que você
Me venda
Quero que você me entenda
Quero que minha presença
Seja o real navio negreiro
Que me liberte do negro afro
E me leve a um sentimento ladino
Me leve ao encontro do negro latino
Dentro do complexo quilombo-continente
Que há em mim.

Pois, então venha
Que ainda sou negro
E meu maior segredo
É que nem abolições, nem cotas
São remédios, nem apagadores
Não desaparecem com as dores
De um passado cruel.

Por isso sou negro
Porque não quero
Que falsos sorrisos e hipócritas políticas
Substitua chibatas
Quero que o amor valha
Para além do samba e da cocada
Para muito além da feijoada.
Pois minha alma é incolor
E ao mesmo tempo tem todas as cores
Possui todos os odores
Que podes supor.

E não há como ser negro
Sem um pingo de maldade
Sem um pingo de piedade
Dentro do quengo.

Pois venha
E quando quizeres me seduzir
Não serei mais um simples negro
E sim a noite que se fez em homem
Pra te possuir.


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Créditos da imagem: Site olhares - fotografia online
:-)))))), por AnaPG.

Um comentário:

  1. Marcio, poesia encantadora, cheio de metáforas em maravilhosos versos, me encantei, parabéns

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