O jogo de armar
Crônica, por Mariana Collares
Desde que conheci o sentimento de amor passei meu tempo procurando a peça que se encaixaria no meu jogo de armar. Mas minha primeira história de amor/paixão veio por acaso - não estava preparada pra ela – e veio de onde menos esperava – porque na verdade não esperava nada.
Eu nunca havia me apaixonado. Então só depois de me sentir envolvida em tamanho sentimento entendi que “contra” determinado tipo de ser humano não havia vacina possível para evitar a catástrofe (sim, amigos, amor/paixão pra nós, seres modernos e individualistas, é doença).
Com o passar dos anos compreendi que determinadas pessoas, muito raras de encontrar, tinham determinados tipos de características que, somadas a algo que eu nem sei o que é, poderiam me inspirar amor-romântico. E efetivamente inspiravam.
Era tão raro de ocorrer (pouquíssimas vezes aconteceu em uma vida que já dobra a esquina em tempo e distância) que eu passei então a valorizar muito os poucos momentos em que minha respiração se continha.
Valorizava tanto que, no momento da chegada da pessoa à minha vida, eu já prenunciava a alegria e infelicidade que estavam à minha espera. E então eu me desesperava. Amor é e era um desespero-feliz.
Depois do primeiro caso de amor/paixão, que veio sem fórmula porque era novidade, eu passei a identificar os protótipos de pessoas que, possivelmente, me envolveriam e chamei-as de “pessoas perfeitas pra mim”. No meu caso, especificamente, “homens perfeitos pra mim”.
Eles tinham ou deveriam ter tais e quais qualidades subjetivas, e quiçá objetivas, mas, necessariamente, deveriam ter um mínimo indispensável para que meu coração começasse a acelerar em descompasso com a cabeça.
Tudo isso foi ciência porque eu me fiz de objeto de análise diante dos casos de amor/paixão que me arrebataram. Foram poucos, mas convincentes, e passíveis de formular um relatório com alguma certeza de dados. Coisa louca e que não escrevemos... Ele existe lá, dentro do nosso subconsciente-consciente.
Olhamos uma pessoa, convivemos com ela um tempo e notamos algumas dessas características.
Num dia qualquer a pessoa mostra que possui 100% daquilo que julgamos o mínimo indispensável e aí foi: nos apaixonamos.
Acordamos num dia e tudo está cor-de-rosa e aquelas outras características que fazem parte daquele ser humano não chegam a afetar a nossa “doença”.
Podemos conviver com as imperfeições porque de perfeitos não temos nada, e porque sabemos que ninguém é perfeito e pronto.
Amamos o imperfeito com o mínimo indispensável perfeito para o amor que nos inspira. E inspira, é fato. Não temos como controlar. Ele é.
Mas acontece de determinados tipos conterem um cabedal tão grande de imperfeições, diametralmente opostas às nossas, que o convívio ou o amor-vivido com aquele ser “perfeito” se torna intolerável.
E então nascem os amores-sofridos, que teriam tudo para dar certo se não proviessem de seres humanos contraditórios entre si.
Amam-se, mas não conseguem conviver. E para exercitar o amor diário há que se possibilitar o convívio. O dia a dia.
Alguns desses casos lhes parecem comuns? E são. Há mais por aí do que imaginamos. Porque as características subjetivas que nos apaixonam não tem nada a ver com as características objetivas que permitem que possamos conviver e crescer juntos.
Sim, amigos, amor que nos desfaz e paralisa num mesmo lugar não é bom pra ninguém.
Queremos um parceiro que, mais do que nos compreender, lá no fundo da alma, nos ajude a trilhar a nossa estrada. A nossa. Não aquela que ele/ela traçou pra nós, baseada em seus próprios sonhos individuais (a redundância foi proposital).
Então amor-sentido tem que andar de mãos dadas, feito namorado mesmo, com o amor passível de viver. Um não vive sem o outro. E se vive, faz sofrer.
Na falta do amor-sentido, tem-se um contrato de união-romântica pra inglês ver. Na falta do amor com possibilidade de convivência, tem-se uma relação doente (aí sim, doente, e fadada ao sofrimento).
Tudo isso lhes parece científico demais para quem está falando de sentimentos? Também acho. E, sinceramente, não gosto disso.
Aliás, sou muito romântica para ser tão pragmática.
Porém, a experiência tem feito com que eu repense minha maneira de existir e lidar com o amor/paixão.
Não sei se pra melhor, mas me propicia compreender (ou tentar verdadeiramente) o que nos faz “doentes” de amor/paixão. E como isso pode nos destruir ou elevar.
O que me faz pensar que a gente, antes de namorar o outro, tem que namorar a si mesmo. Auscultar de pertinho o coração pra sentir se tudo aquilo que nos emociona vale a pena. Nos faz bem. Nos constrói.
Então para amar e viver o amor, talvez seja necessário sermos mais do que românticos. Temos que ser “científicos”, num sentido metafórico do termo.
Temos que nos entender, nos observar antes e durante a relação. Porque só quem se diagnostica entende o que lhe convém.
O remédio só faz efeito ante a doença. A correta. E, nesses casos, o melhor remédio é ouvir-se. É a síntese.
Amo sim, mas isso me faz feliz? E não se assustem se, em determinados casos, a resposta for um estrondoso e temível “não”.
Eu nunca havia me apaixonado. Então só depois de me sentir envolvida em tamanho sentimento entendi que “contra” determinado tipo de ser humano não havia vacina possível para evitar a catástrofe (sim, amigos, amor/paixão pra nós, seres modernos e individualistas, é doença).
Com o passar dos anos compreendi que determinadas pessoas, muito raras de encontrar, tinham determinados tipos de características que, somadas a algo que eu nem sei o que é, poderiam me inspirar amor-romântico. E efetivamente inspiravam.
Era tão raro de ocorrer (pouquíssimas vezes aconteceu em uma vida que já dobra a esquina em tempo e distância) que eu passei então a valorizar muito os poucos momentos em que minha respiração se continha.
Valorizava tanto que, no momento da chegada da pessoa à minha vida, eu já prenunciava a alegria e infelicidade que estavam à minha espera. E então eu me desesperava. Amor é e era um desespero-feliz.
Depois do primeiro caso de amor/paixão, que veio sem fórmula porque era novidade, eu passei a identificar os protótipos de pessoas que, possivelmente, me envolveriam e chamei-as de “pessoas perfeitas pra mim”. No meu caso, especificamente, “homens perfeitos pra mim”.
Eles tinham ou deveriam ter tais e quais qualidades subjetivas, e quiçá objetivas, mas, necessariamente, deveriam ter um mínimo indispensável para que meu coração começasse a acelerar em descompasso com a cabeça.
Tudo isso foi ciência porque eu me fiz de objeto de análise diante dos casos de amor/paixão que me arrebataram. Foram poucos, mas convincentes, e passíveis de formular um relatório com alguma certeza de dados. Coisa louca e que não escrevemos... Ele existe lá, dentro do nosso subconsciente-consciente.
Olhamos uma pessoa, convivemos com ela um tempo e notamos algumas dessas características.
Num dia qualquer a pessoa mostra que possui 100% daquilo que julgamos o mínimo indispensável e aí foi: nos apaixonamos.
Acordamos num dia e tudo está cor-de-rosa e aquelas outras características que fazem parte daquele ser humano não chegam a afetar a nossa “doença”.
Podemos conviver com as imperfeições porque de perfeitos não temos nada, e porque sabemos que ninguém é perfeito e pronto.
Amamos o imperfeito com o mínimo indispensável perfeito para o amor que nos inspira. E inspira, é fato. Não temos como controlar. Ele é.
Mas acontece de determinados tipos conterem um cabedal tão grande de imperfeições, diametralmente opostas às nossas, que o convívio ou o amor-vivido com aquele ser “perfeito” se torna intolerável.
E então nascem os amores-sofridos, que teriam tudo para dar certo se não proviessem de seres humanos contraditórios entre si.
Amam-se, mas não conseguem conviver. E para exercitar o amor diário há que se possibilitar o convívio. O dia a dia.
Alguns desses casos lhes parecem comuns? E são. Há mais por aí do que imaginamos. Porque as características subjetivas que nos apaixonam não tem nada a ver com as características objetivas que permitem que possamos conviver e crescer juntos.
Sim, amigos, amor que nos desfaz e paralisa num mesmo lugar não é bom pra ninguém.
Queremos um parceiro que, mais do que nos compreender, lá no fundo da alma, nos ajude a trilhar a nossa estrada. A nossa. Não aquela que ele/ela traçou pra nós, baseada em seus próprios sonhos individuais (a redundância foi proposital).
Então amor-sentido tem que andar de mãos dadas, feito namorado mesmo, com o amor passível de viver. Um não vive sem o outro. E se vive, faz sofrer.
Na falta do amor-sentido, tem-se um contrato de união-romântica pra inglês ver. Na falta do amor com possibilidade de convivência, tem-se uma relação doente (aí sim, doente, e fadada ao sofrimento).
Tudo isso lhes parece científico demais para quem está falando de sentimentos? Também acho. E, sinceramente, não gosto disso.
Aliás, sou muito romântica para ser tão pragmática.
Porém, a experiência tem feito com que eu repense minha maneira de existir e lidar com o amor/paixão.
Não sei se pra melhor, mas me propicia compreender (ou tentar verdadeiramente) o que nos faz “doentes” de amor/paixão. E como isso pode nos destruir ou elevar.
O que me faz pensar que a gente, antes de namorar o outro, tem que namorar a si mesmo. Auscultar de pertinho o coração pra sentir se tudo aquilo que nos emociona vale a pena. Nos faz bem. Nos constrói.
Então para amar e viver o amor, talvez seja necessário sermos mais do que românticos. Temos que ser “científicos”, num sentido metafórico do termo.
Temos que nos entender, nos observar antes e durante a relação. Porque só quem se diagnostica entende o que lhe convém.
O remédio só faz efeito ante a doença. A correta. E, nesses casos, o melhor remédio é ouvir-se. É a síntese.
Amo sim, mas isso me faz feliz? E não se assustem se, em determinados casos, a resposta for um estrondoso e temível “não”.
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Créditos da imagem: Site olhares - fotografia online
Cotidiano, por Zezo Mais.
É simplesmente lindo o seu texto. E sim é fato, não há amor que sobreviva a algumas incompatiblidades naturais.
ResponderExcluirObrigada, Aline! Fico feliz que tenhas gostado. Seja sempre bem-vinda! Grande abraço!
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