I Concurso Literário Benfazeja

Poemas de Janaina Oliveira



Numa noite dessas
Janaina Oliveira (Negra Luna)

Sentados à beira da calçada
Rindo em plena madrugada
Conversando, filosofando...
As pessoas se entreolhando, pensam que estamos embriagados
Na verdade estamos indignados
Colocando a Vida contra a parede, querendo respostas
Entre um gole e outro destilamos nossos sonhos, anseios, loucuras, incertezas
Hoje não temos mais ideais, apenas desejos
Não somos undergrounds, hippies ou grunges
Mas adultos, cidadãos, sociáveis...
Amamos, sofremos com a mesma intensidade de antes
Mas hoje pagamos as nossas contas e as consequências dos nossos atos.



Resposta para certo poeta

Meu nobre poeta, quem não sabe o que é a boemia, o caos, o devaneio, a embriagês?
Quem não sabe ou não teve os cotovelos em carne viva por ser preterido ou chorar uma perda ou rejeição?
Quem não sabe o que é sereno, sarjeta, calçada, onde sentam bêbados, meretrizes, moribundos?
Ah, meu nobre artesão das letras e lapidador dos sentimentos
Sabes pouco sobre mim
O que vi e vivi antes de conhecer-te
Conheço a vida não só de olhar pela janela
Mas por sentir cada gota de suor e sangue
Escorrendo pelo meu corpo, dedos, pés.
Pareço ser feita de louça, mas vi do mesmo barro que foste criado
(não atrevo-me a pretensão de ser tua costela perdida)
Carrego no peito Amor, saudades, desejos infindos
Sofremos dos mesmos males, nobre escritor
Somos homens, mulheres, anônimos, arquétipos, pensadores, leigos, autodidatas
Criaturas que produzem belas coisas, mas que destroem seu semelhante com uma palavra torpe ou um gesto vil.



Fuga lírica

O que aconteceu com você?
Vejo suas fotos e não te reconheço mais
Onde está aquele sorriso lindo?
Aquela voz estridente que tomava a sala, o quarto
Seus discursos calorosos, onde estão?

Luna, menina negra, cara de lua
cheia de fases e subterfúgios
Sua falta é quase um absurdo
Vivo num silêncio horrível depois que você se foi
Estou entre letras que leio e não compreendo
Entre pessoas desconhecidas,
Neste quarto opaco, vazio

Ninguém me aguenta mais
Ando sujo, mau humorado, cansado,
Sentado na sarjeta à sua espera
Choroso toda vez que falam de você
Ou vejo seu retrato na parede

Luna, traga teu afeto,
A doce inspiração que sinto em cada nota do seu perfume
Em cada detalhe, pose, suspiro
Volta, nem que seja para dizer
"Também estava com saudades"



Ansiedade

Os dias passam devagar
As horas arrastam-se, e eu fico mais impaciente
Já fui a festas, celebrei 300 aniversários, 20 despedidas e 10 regressos
E nada de você chegar
Mandei fazer vatapá, cocada, comprei cachaça, botei toalha de linho na mesa
Rede na varanda, engomei meu vestido branco, chinelos no canto direito da porta.
Só de teimosia, sorrio, brinco, faço cantigas, trovas e rimas
Teço fios de lã, poesia e canção
As lágrimas, a ansiedade, os medos escondi na gaveta embaixo da cama
Para que lá se percam, do tempo, dos meus olhos, da minha alma.

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