I Concurso Literário Benfazeja

A brevidade




Viver é, entre outras coisas, perder.

Hábitos, ideias, pensamentos, sonhos – tão triste deixá-los –, desejos, aparência física, saúde, paz. E também, é claro, bens materiais. Algumas dessas coisas a gente pode recuperar. E às vezes nós também perdemos a nós mesmos. Mas eu falo da perda principal, que é a perda da vida. Não metaforicamente, apenas: a perda definitiva, a retirada do mundo dos vivos.

É a vida gritando que esse é nosso destino. E foi sempre nosso destino, desde o começo. O primeiro épico conhecido pelo homem é o de Gilgamesh, que correu o mundo tentando descobrir o segredo da imortalidade. Não conseguiu, mesmo sendo dois terços divino e tendo muitos tesouros.


Sejam dez ou cem anos, a vida é fugaz, passageira, implacável em sua aliança com o tempo.

Tudo o que levaremos daqui serão os bons momentos que tivemos, e aqueles a quem amamos, e que talvez nos amaram também, os que ajudamos, os que fizeram alguma diferença na nossa vida. Levaremos, afinal, o que nós fomos e os que foram alguma coisa importante para nós. O que sentimos e fizemos sentir, isso nós levaremos de alguma forma e deixaremos como um legado.

Nus viemos a terra, nus sairemos dela.

É que nua é a alma, ela não se disfarça com roupas, ou joias, ou status, ela não é feita de palavras, promessas, nada disso. Ela é o que nós somos. Cuidemos da alma, do espírito, do coração, do que de eterno há em nós.


Enfim, o que fica, durante e após a vida, é o que nós deixamos dentro das pessoas. Quem nós amamos e cuidamos e ouvimos e abraçamos. E o quanto, ou para quem, talvez, não fizemos isso. Quem nós somos, o quanto amamos. O resto é superficial perto do essencial.

Não perca tempo, quer dizer, vida, longe de quem e do que você mais ama, e descubra o que é. Não fique longe de você mesmo. O tempo leva tudo, que não esmigalhe em sua boca má, Esfinge voraz que é, o melhor que há dentro de nós.


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Fonte da foto: We Heart It.

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