I Concurso Literário Benfazeja

Senhor G, cá estou novamente!



Não leve a sério tamanho entusiasmo. O ponto de exclamação logo no enunciado é apenas para demonstrar o quanto de falta me faz. Está tão perto e eu, ao mesmo tempo, tão longe, e engasgada.

Tenho falado pouco, sabe? Horas há em que a garganta parece seca. Os dias de inverno me alegram, mas me secam as cordas vocais e também me tolhem os neurônios. Por outro lado, os dias de calor, que vieram antes, levaram-me ao auge da ansiedade e me embrulharam as letras na mente. Calei-me.

Agora, tento soltar algo. Aplico força presente no diafragma e tento sugar de baixo pra cima o dizer. Preciso dizer. Pelo menos ao senhor, preciso dizer alguma coisa, porque sei que posso. Sem pudor, sem medo, nenhum constrangimento. E o que tiver de ouvir de volta, não vai me machucar, pois que antes de tudo me compreende.

Concretamente é impossível juntar frases conexas, que exprimam de modo claro o que sinto no momento, depois de tantos dias em silêncio. E olhe que há uma coleção de nós de palavras a serem desatados; é prudente que se desvencilhe um a um, com serenidade e sabedoria. O senhor, claro, é companhia perfeita e ótimo conselheiro nesse processo, como sempre foi.

Como pode ver, ainda é complicado, para mim, atinar as ideias. Penso uma coisa; sai outra. Quero manifestar um sentimento, não sai exatamente como o percebo aqui dentro. Contorço-me para alcançar uma forma de oferecer inteligibilidade no que digo, embora saiba que possa me entender muito bem.

Mesmo com conhecimento de seus tumultuados afazeres, vou aguardar resposta. Suas palavras sempre têm o poder de reencaixar o espírito no corpo e penso que seja isso o que necessito agora.

Tento não esperar ansiosamente.

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Imagem: corbisimages.com

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