I Concurso Literário Benfazeja

Aos poucos...





Eu não quero escrever muito hoje.

Mas preciso falar sobre as coisas que deixamos de fazer aos poucos, sem perceber.

E assim perdemos, às vezes, as melhores coisas da nossa própria vida e da nossa própria pessoa.

Aos poucos a gente deixa de se exercitar. Aos poucos, de ler todo dia. De ligar para alguém. De se maquiar. De assistir a um programa. De fazer uma oração. De acreditar em alguma coisa. De acreditar em Deus. De ter tempo.

Somos camaleões. Quem dera não fôssemos. E as mudanças fossem sempre bruscas, para que pudéssemos reconhecê-las.

O perigo é o “aos poucos”. Lentamente, quase indolor.

O único antídoto em que eu consigo pensar é fazer uma análise periódica da própria vida. Ainda assim é difícil, nem sempre conseguimos enxergar ou, pior ainda, admitir certas mudanças.

“Quando se vê já são seis horas”, disse o senhor da Rua dos Cataventos, eterno Mario Quintana. Quando se vê, já não fazemos aquilo, já não pensamos assim, já somos outros.

E nem mesmo sabemos o que aconteceu.

Mantenha seus bons hábitos. Não desista de acabar com os maus.

Não desista de quem você poderia se tornar, se não tivesse desistido.

Hoje não quero escrever muito.

Apenas dizer que a gente pode sim e deve sim parar e reaver o que perdemos. (Às vezes.)

Não somos sapos na panela, que morrem sem perceber. Somos gente.

Somos gente que precisa persistir – tudo se resume a persistência.


A não desistir.

A não deixar de se ser, ou de se tornar o que se pode um dia ser.


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Foto: We Heart It 

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