I Concurso Literário Benfazeja

Maluquices da Malu



Conto, por Cláudia Banegas

"Ah, Malu... fala sério... é assim que você vai tratar o seu tchutchuquinho?"




Malu chega em casa, após um dia muito atarefado. Tudo o que tinha que dar errado, deu. Seu chefe estava de mal humor e adivinha só quem ele pegou como bode expiatório... a coitadinha da Malu. Mas graças a Deus, a jornada de trabalho terminara e finalmente ela estava em casa. Um bom banho quente e um sushi “delivery” do restaurante japonês fariam seu dia valer a pena. Mal colocou a chave na porta, percebeu que a mesma já estava aberta.


_ Ah, meu Deus... ladrão não, ladrão não....! - ela sussurra baixinho enquanto abre a porta devagarzinho. Uma voz cantarolava dentro do apartamento e soava familiar.

_ Ai, não acredito....não pode ser... - lamenta.

Andando pela casa, ela vai recolhendo peças de roupa. Uma calça jeans, uma camiseta, meias, uma cueca... um par de tênis... uma toalha molhada...

_ E aí, Malu?! Tudo bem, gata?!

_ Ai, meu Deus! - agora gritando de susto, Malu se vê abraçada fortemente pelo Reinaldo, um antigo namorado que ficara com a chave do seu apartamento.

“Eu sabia que tinha que ter pego a chave de volta... arghhh..”

Ondas de pensamentos assassinos invadem o cérebro de Malu.

_ Reinaldo! Meu Deus, como é que você vai entrando na casa dos outros assim?! Não pooode, não pode...! Quase me matou de susto... eu ia chamar a polícia, sabia?!

_ Relaxa, gata.. sou eu... fala aí, tu gostou da surpresa, não gostou?! Pensou que ia encontrar um ladrão e encontrou um gatão, fala sério, hein?! E olha que nem precisei molhar a mão do porteiro... ele e meu primo são amigos de balada...

_ Ô, Reinaldo, olha só... a gente terminou tudo, lembra? Nós não somos mais namorados, então... você não deveria ter entrado na minha casa com a minha chave, isso é invasão de domicílio!

_ Invasão você vai ver o que é daqui a pouco, gata... Deixa só eu dar uma relaxada com aquela bebidinha ali, que meu dia não foi fácil... Você só gosta de coisa chique, então essa bebida deve ser coisa boa, né não?!

_ Seu dia não foi fácil?! O meu também não... e olha que ele ainda não terminou...

Com as roupas do cara nas mãos e o tênis pendurado entre os dedos, Malu continua parada no meio da sala.

_ Olha só, Reinaldo, escuta, eu não quero você aqui, entendeu bem? E não abre essa garrafa! Ela tá reservada pra uma ocasião especial!

_ Ué, gata, quer ocasião mais especial do que essa?! Eu voltei, pô...! - dizendo isso ele pega Malu pela cintura e dá um amasso.

_ Reinaldo!! Pára com isso! Eu já disse, a gente terminou tudo, cara! Sai do meu apê!

_ Ahhhhh Malu, faz isso comigo não.... - ele faz cara de cachorro carente - _ Meus pais “tão” se separando, eu tô na maior deprê, eu vim aqui porque só você pode deixar melhor, gata... você sempre me deixava melhor quando eu tava numa pior, lembra?

_ Lembro, lembro sim, como não? Você melhorava “pras” outras, e quem ficava na pior era eu... não, eu não vou mais cair no seu papo furado, Reinaldo.. olha aqui a sua roupa, seu tênis... vai pondo essa roupa toda que... ah, meu Deus! Agora que reparei que você tá pelado! - ela se vira tapando os olhos - _ Vai, vai logo, pelo amor de Deus, veste a sua roupa e vaza!

_ Ah, Malu... fala sério... é assim que você vai tratar o seu tchutchuquinho?

_ Que?! Pelo amor de Deus, Reinaldo, eu não te chamo assim faz séculos!

_ Pô, eu sinto a maior falta, gata... - ele vai se aproximando, mas ela o rechaça.

_ Reinaldo, pela última vez... veste a sua roupa e... e.... pera aí... o que é aquilo ali no chão do banheiro? Meu sabonete de linhaça e manteiga de carité?! Reinaldo, você teve a coragem de tomar banho com o meu sabonete “carésimo” de linhaça e manteiga de carité?! Não acredito! Agora é que você vai embora mesmo e larga essa garrafa! Agora!

A garrafa de Metaxa cai ao chão, desperdiçando o líquido tão caro.

_ Reinaldo.... - Malu fala o nome do ex entre os dentes - _ Você sabe quantos anos tinha essa garrafa que você quebrou?

_ Mas você mandou eu largar a garrafa, Malu! Pô, é por isso que a gente não deu certo, tá vendo? Eu não te entendo!

_ Reinaldo, essa garrafa tinha trinta anos, Reinaldo.. trinta anos!!! Eu vou te matar!!!

_ Ah, você disse isso da última vez e acabou acordando do meu lado... vem cá, gata, vamos esquecer o passado e viver um presente legal que comigo teu futuro tá garantido!

_ Ah, não, isso é que não meeesmo!!

Malu empurra o ex-namorado porta afora, joga suas roupas pela janela e senta no chão.

_ Malu, sua doida! Eu tô pelado, esqueceu?! Abre essa porta, Malu! Abre essa porta!

_ Vai procurar suas roupas na rua e pede ajuda ao porteiro teu amigo! Ai... meu Metaxa... tão caro... tão quebradinho... hmmm...

Entristecida, Malu vai juntando os cacos... da garrafa e da vida.


*

Para ler mais textos de Cláudia Banegas, clique aqui.


Créditos da imagem

Nenhum comentário