O não é não

Crônica, por Mariana Collares.

"O silêncio, ao contrário de afirmar, não diz coisa nenhuma."

O não é não. O sim é sim. E o talvez é só talvez mesmo.

Essa mania de ver psicologia em tudo, essa mania absolutamente feminina de tentar entender o sentido oculto das coisas e das pessoas... como se realmente houvesse um sentido oculto nas coisas e nas pessoas...

Não, Alberto Caeiro tinha razão ao dizer que uma árvore é somente uma árvore. Nada há por trás, não há nada escondido, não há meias-palavras. Assim no amor, assim no desamor mesmo, o que há é o que realmente há: aquilo que se diz é o que é.

O silêncio, ao contrário de afirmar, não diz coisa nenhuma.

Então de nada adianta toda essa lenga-lenga de perquirir o inimaginável, a linguagem do corpo e outras tantas pseudologias, e escrever livros e mais livros altamente empreendedores ensinando como retirar do nada algo que valha, e como dizer não sentindo que sim. Tudo mentira. No amor e no desamor não há essa tal filosofia empresária, onde tudo o que pode ser não é, tudo o que é não poderia... ah, sei lá.

No amor e no desamor a palavra peca por não ser dita. O olhar peca por não levar à boca o desejo escondido. A oportunidade passa sem que se diga eu te amo, eu te quero, eu te quis.

E então a roda gira novamente e leva com ela os amores findos, mal-entendidos que poderiam ter sido facilmente evitados, aquilo que alguém deveria saber e nunca soube. Porque o não é não, o sim é sim e o talvez é só talvez.

No amor e no desamor vale o dito. O não dito morreu só.



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Texto extraído do livro DEVANEIOS LITERÁRIOS, de Mariana Collares, Editora Bookess, 2010

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