I Concurso Literário Benfazeja

Poemas: Ela





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Poemas, por Wellington Souza.

Três poemas e um sentimento: a saudade. Palavra, em seu sentido absoluto, intraduzível. Talvez, nos poemas, se confunda com o sentimento de mal-estar (inerente à civilização) ou de nostalgia (que nos acompanha desde o útero materno).





Versos livres e uma mulher em que não existo

Não vou culpá-la,
posto que somente tem culpa aquele que age,
e pelo mesmo motivo não haverá perdão
– só se perdoa a quem erra.

Essa melancolia
também
só existe de um lado:
só um lado viveu
e só em uma cabeça fatos reais aconteceram.

Não houve dialética.

É como uma balança que só pende para um lado
ou uma ponte,
que só cai em uma margem.

Nem ao menos posso julgá-la displicente,
pois só o é quem ignora o perigo
e nunca ofereci perigo algum.



Réplica

Entrou pela minha boca
e foi apalpando
assim como se enxerga no escuro:
órgãos e sentimentos.

Até que se encontrou
deitada, dormindo
e sua imagem duplicada
a aterrorizou
– o terror de se saber amada.

Tentei replicar o que ela fazia ali,
mas só fiz aumentar a angústia
de ter outra vida
fora de si.

E não me deixou ficar,
dormir
em nenhum canto agora seu.

Nem mais conseguiu dormir
sabendo que em outro corpo
serena
repousava.



Nostálgico

Todas as noites recebo a visita do homem
que fui
e de seus amigos e de suas mulheres.

E tento,
em vão,
reconciliação.

**

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Créditos da imagem:
(sem título), por Lisa Humes

2 comentários:

  1. Até que se encontrou
    deitada, dormindo
    e sua imagem duplicada
    a aterrorizou
    – o terror de se saber amada.

    Nem tenho palavras para dizer o quanto isso foi incrivelmente lindo.

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  2. Que bom que gostou e que sempre está por aqui!
    Abraços

    ResponderExcluir