Poemas: Ela
Três poemas e um sentimento: a saudade. Palavra, em seu sentido absoluto, intraduzível. Talvez, nos poemas, se confunda com o sentimento de mal-estar (inerente à civilização) ou de nostalgia (que nos acompanha desde o útero materno).
Versos livres e uma mulher em que não existo
Não vou culpá-la,
posto que somente tem culpa aquele que age,
e pelo mesmo motivo não haverá perdão
– só se perdoa a quem erra.
Essa melancolia
também
só existe de um lado:
só um lado viveu
e só em uma cabeça fatos reais aconteceram.
Não houve dialética.
É como uma balança que só pende para um lado
ou uma ponte,
que só cai em uma margem.
Nem ao menos posso julgá-la displicente,
pois só o é quem ignora o perigo
e nunca ofereci perigo algum.
Réplica
Entrou pela minha boca
e foi apalpando
assim como se enxerga no escuro:
órgãos e sentimentos.
Até que se encontrou
deitada, dormindo
e sua imagem duplicada
a aterrorizou
– o terror de se saber amada.
Tentei replicar o que ela fazia ali,
mas só fiz aumentar a angústia
de ter outra vida
fora de si.
E não me deixou ficar,
dormir
em nenhum canto agora seu.
Nem mais conseguiu dormir
sabendo que em outro corpo
serena
repousava.
Nostálgico
Todas as noites recebo a visita do homem
que fui
e de seus amigos e de suas mulheres.
E tento,
em vão,
reconciliação.
**
Para ler mais contos do autor, clique aqui
Créditos da imagem:
(sem título), por Lisa Humes
Versos livres e uma mulher em que não existo
Não vou culpá-la,
posto que somente tem culpa aquele que age,
e pelo mesmo motivo não haverá perdão
– só se perdoa a quem erra.
Essa melancolia
também
só existe de um lado:
só um lado viveu
e só em uma cabeça fatos reais aconteceram.
Não houve dialética.
É como uma balança que só pende para um lado
ou uma ponte,
que só cai em uma margem.
Nem ao menos posso julgá-la displicente,
pois só o é quem ignora o perigo
e nunca ofereci perigo algum.
Réplica
Entrou pela minha boca
e foi apalpando
assim como se enxerga no escuro:
órgãos e sentimentos.
Até que se encontrou
deitada, dormindo
e sua imagem duplicada
a aterrorizou
– o terror de se saber amada.
Tentei replicar o que ela fazia ali,
mas só fiz aumentar a angústia
de ter outra vida
fora de si.
E não me deixou ficar,
dormir
em nenhum canto agora seu.
Nem mais conseguiu dormir
sabendo que em outro corpo
serena
repousava.
Nostálgico
Todas as noites recebo a visita do homem
que fui
e de seus amigos e de suas mulheres.
E tento,
em vão,
reconciliação.
**
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Créditos da imagem:
(sem título), por Lisa Humes
Até que se encontrou
ResponderExcluirdeitada, dormindo
e sua imagem duplicada
a aterrorizou
– o terror de se saber amada.
Nem tenho palavras para dizer o quanto isso foi incrivelmente lindo.
Que bom que gostou e que sempre está por aqui!
ResponderExcluirAbraços