I Concurso Literário Benfazeja

PoeSZeja Especial: Os Tietês



No aniversário da MEGA pole latino-americana, da cosmópole, nada mais injusto seria não homenagear seus poetas, seus artistas e todos que psicografam os murmúrios da cidade que ecoam dentro de nós.

Apresento, então, um grupo de poetas que se organizam para poetarem pelas ruas por onde andamos. Os 'Poetas do Tietê. A exemplo do 'grupo' do Laerte, os tietês também navegam pela cidade predando o marasmo absurdo e veloz das águas turvas. Em pescarias no próprio rio, sarais ambulantes pelo centro-velho ou interagindo com outros grupos: a eles basta um mega-fone para vencer o murmúrio da cidade e uma câmera para vencer o tempo. Basta isso e ter o cosmo da pole com palco.

Este trabalho, que tive a honra de assistir e me atrevi a fazer um making-off, tem como pano de fundo a intervenção 'Errante - ou - árvores suspensas sobre um rio quase morto' do artista mexicano Hector Zamora sob curadoria do arquiteto brasileiro Guilherme Winisk. Participam da intervenção do vídeo os poetas Paulo D'Auria, André Dia (s/z)?, Marcelo Tadeu e Caranguejúnior.

Abaixo: vídeo e os poemas.

Boa degustação!

Wellington Souza
Coordenador Geral

Hoje, dia 25/01, os poetas estarão em frente no viaduto do Chá a partir das 15:00. (E não se preocupem em achá-los, pois eles são a referência!)


Filmagem e edição: Paulo D'Auria


CARANGUEJUNIOR

VERDEMAISVEZES

Verde
que te quero
verde

verdeperto
verdelonge
verdelá
verdecá
verdemaisvezes
verdemaisverde

verde não se vá
o cinza já está aqui
no ar
nas paredes
nos pensamentos
dos que só querem
Te VERDESTRUÍDO!!!



DO ALTO DA ÁRVORE

“Eu tive que subir, lá no alto, para ver...”

Do alto da árvore
Eu vi pássaros
Pessoas
Passos
Pretos
Pobres
Brancos
Ricos
Do alto da árvore
Vi um mundo diferente do que não via aqui embaixo
Sorri cada vez que subi
Sorri cada vez que desci
Mas
Foi por pouco tempo aquela visão
De uma cidade verdadeira
Veio uma empreiteira
E cortou a árvore
Lamentei
No lugar daquela árvore
Cresceu uma pedra evoluída
Aí chorei...





PAULO D'AURIA

Valsa da Farsa

Creia, caro leitor, Tamanduateí já foi
o rio dos tamanduás mas
nem todo verde é verdade
na cidade da iluSão-Paulo
e nem todo cinza é mentira
É um pássaro, é um avião?
Não! É o super oh, man...
É um pássaro, é um avião?
Não! É o super ar ar ar (cof cof cof)
Árvores flutuantes
letras esparramadas
ideias derretendo-se
Nem tudo é lucidez
na cabeça do poeta uma dose
de esquizofrenia batida
no liquidificador do pós-modem
Creia, caro leitor, nem tudo é
valsa nem tudo é farsa:
árvores hidropônicas
oxigeônicas, fumaçopônicas
Nesta idade a cidade não
tem mais a vaidade da verdade
make-up pó de arroz
make-up pó de estrelas
make-up pó de mico
Moto-Descontínuo
dentro do verde tem o cinza dentro
do automóvel tem o rio dentro da velocidade
tem a cidade dentro do homem
dentro da cidade, eu

e assim pra sempre
de trás pra frente de frente pra
traz
neste moto-descontínuo sem
paz

dentro da velocidade a cidade dentro da gan
ância a ânsia a anciãdade que não se sacia v
icia o vício sem saciedade a sociedade vazia

pelos vão da labirinticidade de concreto escorre
a lucidez a ludicidade das ideias da razão
da ilusão de ótica de fibra ótica entre
o ótimo átomo da robótica e
o átimo sujo do chã
o





ANDRÉ DIA (S/Z)?


Sonhos Suspensos

O caos me cerca,
Os carros,
Os bandidos,
Pessoas me rodeiam,
Quero respirar,
Por isso
tenho àrvores na cabeça,
Frutos de poesia
Que não apodrecem,
Sonhos suspensos
Acima de todo o lixo humano,
Esse grande cocô
Chamado progresso!





MARCELO TADEU


A Espera do Lixo

A margem de sua vida
Existe alguém, que observa
A margem de sua vida
Existe alguém, que espera
Sem pressa
Pelo fim de sua janta
Pelo fim de sua festa
E sem você perceber
Acompanha
Seu filho crescer

A margem de sua vida
Existe alguém, que gosta
Do que você não gosta mais
E observa
Da rua, da janela
Seja a onde for
Está ali
Esperando, sem pressa
Você decidir
O que não presta.



Paisagismo

Na Minha Floresta
Tudo é bem arrumado
O mato é bem aparado
Em cada canto
Uma Arvore
Esbanjando seu charme
Os muros das casas são enfeitados
Com plantas, com galhos
Os rios são canalizados
E os animais têm a sua casa
E de uma forma bem organizada
Para todos os lados
O verde se espalha
A Minha Floresta
É Bonita de se vê
O verde e o cinza se entendem
E cada um
Tem sua vez
E tem mais!
Na minha floresta
Onde não tem mato
Tem um Quadro.



ESPELHO

Entre as Montanhas
Dizem que existe
Um povo enfeitiçado
Vivem cantando
Vivem em abraços
Falam que lá, o mau não entra
Sobre as pedras
Formaram-se desenhos
Sabe-se lá de onde veio
Numa sincronia perfeita
Homens, animais, plantas, caminham
Em completa harmonia com a natureza
E como se não bastasse
De longe pode-se ver
É lá
Que sol nasce
Povos de outros lados
Querem entender o segredo
De tanta felicidade
De muito distante
Olhares curiosos
Fazem sua oração
Como uma prece
Para um lugar
Que nem mesmo conhecem
Alguns dizem que é
A Casa dos Anjos
A Terra dos Deuses
Falam que todos os dias
As pessoas se reúnem em um templo
Cheio de luz,
Que fica brilhando
O tempo todo
Até o sol sumir
E como se fosse milagre
Este lugar reflete
A verdadeira imagem, de você
Conta história
Que homens valentes
Guerreiros
Que tentaram chegar até lá
Caíram num buraco
E foram condenados
A viver para sempre
Na escuridão
Por isso
Ninguém se atreve
Mas um homem, diz um velho
Que ninguém acreditava
Sem espadas
Apenas com o seu coração
Se aventurou
E como uma espécie de permissão
Foi guiado, pelos pássaros
E lá encontrou um homem
Que deveria ser o líder
O mestre do povo de lá
Sentado nas pedras
Ele o recebeu,
Como se estivesse o esperando
Olhou pra ele, sorridente, alegre
Feliz em vê-lo
O fez sentir importante
E disse:
-Vejo todo o seu brilho
Sinto o seu espírito
Vá até ali
Naquela pedra, tem um espelho
Olhe para ele
Sorrindo, sem medo
Então, verás o que eu vejo
O viajante voltou e perguntou:
-Onde está a terra sagrada?
Não vejo nada!
Em gargalhadas
O homem respondeu:
-Este é o segredo
Acalma-se
Tudo que escutou falar
Daqui pouco, irá perceber
Que tudo isto
Está em você.


*
Blog dos poetas:

Um comentário:

  1. O melhor da expressão urbana na poesia está aqui. Parabéns a todos e o meu abraço. paz e bem.

    ResponderExcluir