O Que Perdemos Antes
“Acredito que a principal razão de eu ter criado esse roteiro sobre um suicídio de um jovem é o fato de ter tantos bilhões de pessoas no mundo tão ligadas a sua própria vida e ao seu egocentrismo, e acaba que muitos se sentem sozinhos. E estes mesmos, procuram por uma válvula de escape. A morte.” – palavras da diretora.
Aparas para o suicídio
Por Giselle Jacques
Vamos falar de morte? O minimetragem O Que Perdemos Antes, de Gabbiana Fonseca, fala de morte. Mais do que isso, fala de desistência. Aborda um tema que já nos parece corriqueiro, tamanho o lugar-comum adquirido: o suicídio adolescente. A grande maioria pensa nisso, muitos tentam, alguns conseguem!
Como alguém que nem viveu ainda pode pensar em se matar? – você perguntaria. Eu respondo. Não só pode, como pensa. Não só pensa, como age. Segundo estatísticas, suicídio é considerado a segunda principal causa de morte de jovens entre 15 e 19 anos, perdendo apenas para os acidentes de trânsito. Dados abordados nas pesquisas apontam depressão e desavenças familiares como fatores de risco.
É sobre isso, exatamente, a produção de pouco mais de um minuto. Gabbi Fonseca consegue mostrar, em tão curto tempo, as reações mais diversas, na pele da personagem adolescente e sem nome. Uma garota bonita, com uma vida confortável – vista pelos objetos no quarto –, que é levada pela depressão e pela sensação de inutilidade. Numa carta escrita à mão, revela a falta de atenção, a precária relação com os pais, a ausência de perspectiva.
O roteiro é simples, não há grandes efeitos ou tomadas arrojadas. Há apenas o desespero da personagem, sua caneta correndo sobre o papel e o ato final, antecipado pela lâmina ao alcance da mão.
Difícil de acreditar? Claro que não. Quantos de nós, há tempos passados, não deliramos com a ideia do não-ser, do não mais existir, do fugir dos problemas e martírios e crises e traumas de uma adolescência conturbada? Felizmente, não tivemos coragem ou fomos apanhados – e salvos – antes do trágico desfecho. Quantos iguais a nós não tiveram a mesma sorte...
O Que Perdemos Antes fala de falta de amor, falta de metas, falta de apoio, falta de estima por si mesmo. Incrível como um filme tão pequeno pode conter tanto. Como tão poucas palavras podem dizer tamanhas verdades. Meus parabéns à roteirista-diretora. Um excelente trabalho!
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