I Concurso Literário Benfazeja

Xis Coração | Minimetragem





Por  Giselle Jacques
Argumento original – Xis Coração

Cozinha da lancheria. O chapista prepara um xis com todos os ingredientes coloridos. Apanha uma faca e vai até o quartinho dos fundos. Uma moça está amarrada a uma cadeira. Ele entra no quarto escuro e fecha a porta. Sai de lá com um coração sangrento na mão e a faca suja de sangue. Ele fatia o coração, frita e bota no xis. Bota o xis na prensa, retira, e serve no balcão à mesma menina que antes estava no quartinho. Ela morde o xis. Fade.



Ficha Técnica:
Minimetragem em vídeo digital, 1 min., cor, 2010.
Roteiro, direção e edição: Giselle Jacques
Fotografia e câmera: Mateus Bassols
Produção e Arte: Eduardo Mendes, Giselle Jacques e Mateus Bassols
Elenco: Karen Lampert e Eduardo Mendes



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A Originalidade do Minimetragem


Xis coração foi meu primeiro experimento em estética de minimetragem. Uma tentativa de reduzir-me e contar uma historia inteira em um minuto. Produção independente, gravada em vídeo digital, no espaço de duas tardes.

Creio que o minimetragem, o vídeo/filme que não ultrapassa um minuto (que, por vezes, se estende de um a três minutos) chegou junto com a tecnologia das câmeras de celular. Não que não existissem antes produções nesses moldes, mas o advento tecnológico ampliou a percepção das pessoas ditas comuns. Vemos através de olhos eletrônicos e captamos cenas rápidas, pequenos cernes dramáticos. Alguns sem fluxo contínuo, outros praticamente roteirizados. E transformar esses minidramas em arte é o que vários vêm fazendo.

A velocidade receptiva da Internet também contribuiu para difundir o “ver rápido”. Vídeos longos não atraem, cansam. Para isso, temos a televisão! E até os curta-metragens vêm gradualmente reduzindo seu tempo. Já é mais comum encontrar curtas em festivais, mesmo as grandes produções em película, com menos de dez minutos. Alguns com seis ou quatro minutos. E que dizem tudo a que se propuseram! Nada falta, nada sobra.

O lado bom, a criatividade já não é bitolada pelo tempo, nem pela dificuldade de produção. É possível encontrar – com bastante frequência até – grandes obras em pequenas metragens. Um exemplo excelente é o site do Festival do Minuto, que disponibiliza produções das mais variadas em até 60 segundos. Trabalhos que vão da pura criatividade amadora do celular até a animação mais rebuscada, até o 35mm mais requintado.

O lado ruim é que os vídeos que não são arte, que não dizem nada em termos de cinematografia, invadem descaradamente o espaço virtual. E somos obrigados a uma peneira bastante mais trabalhosa para separar o joio do trigo.

Em todo caso, é a criatividade ilimitada, a originalidade despretensiosa e despojada de rédeas do minimetragem que vale seu peso em ouro. Mais realizadores, mais histórias, mais arte! Quantos grandes cineastas não estarão, nesse exato momento, ligando a câmera pela primeira vez, seja ela de um celular ou um modelo HDV de última geração, e entrando para o futuro da história do cinema com seu primeiro minuto de criação?


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