I Concurso Literário Benfazeja

Gatos e gatas em versos de Cristiane Grando



Poemas de Cris Grando


quanto silêncio é preciso para fazer um poema?


o silêncio da solidão e das portas,
da imaginação, do mundo,
do vento, das águas e dos gatos

o silêncio do branco

muito barulho para nada

silêncio, silêncio, o silêncio
e algumas palavras


In: “Caminantes”




Marnay-sur-Seine
4 de novembro de 2002

Jorge Bercht


sonhos e pensamentos em teu rosto transparente
um fundo de imagens que fluem

arco-íris em céus de paisagem profunda
asas de luz, gatos entre novelos de lã vermelha

e tua voz sussurrando poemas-estrelas de uma vida inteira

Cris G.

In: “Caminantes”



cinco mulheres, uma amiga

A Patricia Klinck
Na ocasião da exposição
Matisse-Picasso,Paris, 2002



às margens do rio
um velho tapete
verde escuro, vermelho e amarelo
evoca um cenário de beleza:

uma mulher nua sobre um fundo
púrpura, branco e rosa
- matinal -

três mulheres cubistas fundem-se
ao verde-alaranjado do cenário

uma gata, um cavalo e outra mulher
cantam imagens e palavras

em liberdade


In: “Caminantes”




jardim de poesia


a Violeta Martinez
a Franklin Mieses Burgo e Freddy Gatón Arce, in memoriam

gato esparramado sobre os móveis
familiares em fotos

entre as plantas em silêncio
poetas cantam
um furioso merengue e quatro círios brancos

em sua juventude
violeta nos olhos


In: “Gardens”




autorretrato


metade de mim é gato
e a outra, ágata

de um lado
dura como a rocha

do outro
um gato místico deslumbrado

pela música das palavras



In: “Gardens”




de noite ou com vento

com o vento
me dobro

nem caio
nem me quebro

esta noite
saio descalça pelas ruas
e olho

de noite
todos os gatos são azuis



In: “grãO”




sedução em sete atos


foram sete os pulos sinuosos da gata

faminta, lançou-me um olhar sedutor e frio
soltou sua voz rouca ao vento, um grito
sensual, lambeu suas patas macias

depois dançou o medo e o desejo
esbarrou seus pelos arrepiados na minha pele
lentamente passou a língua no dorso da minha mão
e me fez conhecer paixão e morte


eu que era apenas um homem



In: “Claríssima”




o teu nome inteiro


era mais que loucura te amar desde a infância
entre cavalos e gatos

ninguém sabia
que trinta anos mais tarde
eu declararia este amor
a um homem casado





In: “Embriágate”





carta ao poeta


amo os gatos que andam livres pelos telhados:
ouvir o quase silêncio de um gato
caminhando

seria perfeito um gato que falasse
e comesse chocolates

de ouro branco, preto, sonhos levemente adoçados
com um pouco de licor
e alguns poemas perversos

com palavras e patas incrustadas de diamantes
que fossem duradouras, poeta
como o espírito dos gatos


In: “Embriágate”



*

Créditos da imagem:
Arquivo pessoal do editor (Wellington Souza)

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