I Concurso Literário Benfazeja

Black Swan - Um interpretação


Crônica, por Mariana Collares.

Só a morte poderia me trazer a perfeição que eu preciso pra viver.



Assisti ao filme “O Cisne Negro” (Black Swan) e não me choquei. Na verdade, só teria me chocado se não pudesse compreender a triste vida descrita no filme. Quem não quis (ou quer) ser perfeito? Conheço poucas pessoas a quem o estereótipo da perfeição não domina. A perfeição exterior – vamos deixar claro – essa é a que exige o nosso mundo “straigth a pose”. A perfeição interior é aparentemente destinada às gentes da religião. E dependendo, nem a estes.



“Sede perfeito” foi, definitivamente, alçado à escala material. “Sede perfeito” para fazer uma boa faculdade que te dê uma profissão rentável. “Sede perfeito” para constituir família em tempo hábil. “Sede perfeito” para poder comprar tudo o que o capitalismo exibe na TV. “Sede perfeito” em um corpo esculturado a qualquer custo. “Sede perfeito” para encontrar um afeto ou um amor que enalteça ou justifique a existência. “Sede perfeito” para viajar o mundo e mostrar “enentas” fotos em alguma rede social bacana. “Sede perfeito” para conseguir tudo aquilo que quase todo mundo não consegue. “Sede perfeito” para integrar alguma “casta superior” da antropologia dos molóides.

“Sede perfeito” é a frase por trás do filme. Seja perfeita, menina, ainda que tenhas que romper com todos os teus vínculos e sucumbir à própria morte!

Vejo anoréxicas morrendo, perfeitas, vejo cadáveres mortos no trânsito, perfeitos, vejo autômatos, viciados, alcoólatras perfeitos. Todos os que não suportam a própria humanidade sendo extirpados por atos seus, morrendo perfeitos. Deixando de existir, perfeitos. Todos sucumbindo à escala auto-imposta de assunção pessoal. Perfeito pra quem? Para o mundo, quem mais? A tua perfeição, aquela que só poderia dizer respeito a ti e aos teus valores (quais são, sabes?), – essa não te interessa porque não tem publicidade, não vende jornal, não rende notícia. A "famosidade", então, é que dá o tônus e a medida da perfeição individual de cada um. Black Swan é a trajetória de uma menina igual a tantas outras. Perdida em uma doença psicológica cuja bomba-relógio é o pânico (e sorte de quem ouve a sirene e pára em tempo de sucumbir). É um filme absolutamente profundo e necessário. E o final é a triste constatação de que a perfeição não tem realmente lugar neste mundo.


***

Para ler mais textos da autora, clique aqui

Créditos da imagem:
Divulgação

3 comentários:

  1. Incrível como esse filme inspira. Escrevi algo sobre ele assim que assisti. Sua visão do filme foi impressionante e apesar de saber que gosta da discórdia, devo concordar com seu ponto de vista, mas vou além. Para mim, o cisne negro também representa aquilo que queremos alcançar, mas não entendemos exatamente a razão até que a mesma se mostre clara e objetiva pela escola da vida. O desejo é tão intenso pela liberdade que não sabemos já estarmos livres. O querer deixa de ser o bastante e passa a ser uma constante e no fim, explode como um grito preso por muito tempo na garganta.

    ResponderExcluir
  2. Texto fantástico. Sem comentários.

    ResponderExcluir
  3. Sempre além, Leonard! Jamais estagnar numa "verdade". Esse filme suscita isso mesmo. Fiquei impressionada quando o vi. Tanto que assisti 2 x seguidas antes de me dignar a escrever algo. Mas tinha que escrever. E como diz o título, é "uma" interpretação. Uma só. Bjo e obrigada!!!! ;)

    ResponderExcluir