I Concurso Literário Benfazeja

Num dia Chuvoso




Crônica, por Ianê Melo


Chovia... Era uma chuva densa, de pingos grossos. Daquelas chuvas de verão que nos pegam de surpresa, sem nenhum guarda-chuva na bolsa. A roupa rapidamente se encharca e provoca na pele um leve arrepio. Pessoas correm de lá para cá, num alvoroço. A chuva costuma provocar esse tipo de reação. Parece que as pessoas podem se liquefazer quando expostas a água. Mas eu não sou diferente não. Procuro também por um abrigo, um lugar qualquer para me proteger. Encontro um barzinho aconchegante e cheirando a café e bolinhos recém saídos do forno.  É tudo que preciso agora... Está bem cheio, será que todos tiveram a mesma idéia que eu? Procuro uma mesinha discreta, pois não gosto de ficar muito exposta. Prefiro as mesas de canto, onde tudo vejo, mas não me torno o foco. Peço a garçonete o cardápio. Hum, quantas delícia tentadoras! Por que tudo que é gostoso engorda? Coisas de mulher. Sempre preocupada com a silueta. Ah, esquece, hoje é um dia incomum. Relaxa... Olho o cardápio com olhos de desejo, indecisa. Acabo optando por waffles com mel acompanhado de uma boa xícara de chocolate quente e cremoso. Que delícia! Enquanto aguardo meu pedido, olho ao redor, como boa observadora que sou. Não gosto de ser observada, mas gosto de observar. No café existem as pessoas mais diversas. Acompanhadas e sós, como eu. Em cada rosto uma expressão, em cada olhar uma visão, em cada gesto um pouco de cada um. As pessoas se diferem por tantos detalhes... Um gesticular excessivo de mãos ( as extrovertidas demais) ou até um não saber onde colocá-las (as excessivamente tímidas). Um olhar evasivo ou invasivo. Aquele olhar que olha e não vê, que parece passar através de você e aquele outro que parece te dissecar alma. Ui... desses eu fujo! Vozes contidas, comedidas, baixas e calmas e outras explosivas, altas e espalhafatosas, como se quisessem todas as atenções para si. Pessoas... cada qual com suas características tão peculiares, tão únicas.  Detalhes de um ser que se desvenda perante o mundo, em seus meandros, em suas vestes, em sua postura, em seus gestos, em seu olhar, em seu falar (ou calar). Cada ser humano é um mistério a ser desvendado. Cada ser humano é um universo em si. E é justamente isso que o torna tão instigante e rico.

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Crédito de imagem de:   Merle Keller

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