I Concurso Literário Benfazeja

O meu lugar




Devaneios, por Mariana Collares.


Nestas andanças de minha vida, dei por conhecer um lugar incomum. Trata-se de um local que mais parece um paraíso, desses que mostram as revistas de turismo, mas que possui algo que vai além da simples beleza natural. É uma praia de mar e de rio. É uma praia pequena e pouco habitada, mas que encanta pela filosofia. É um lugar onde os carros não têm espaço e as pessoas ainda caminham pelas ruas. Um lugar de pesca para homens e gaivotas. Um lugar de barcos à deriva, nos fins de tarde ensolarados. De riso doce, de pouca renda, mas muito viver. Um lugar pelo qual grandes advogados e empresários citadinos abandonaram tudo para estar nele. Um lugar onde as pessoas mais parecem índios - tanto a sua intimidade com a natureza. E que tiram das águas o seu sustento, isso quando o mar não está para o turismo. Um lugar que passa devagar, sob o barulho de pássaros e da correnteza do rio. Um lugar, enfim, que preza o bem viver. O viver com a dignidade que só a vida natural pode dar ao homem. Por isso me encontrei em meio às suas águas, turbulentas e tranqüilas. Nestes amanheceres ensolarados, sob a areia quente e fina que move as dunas. Encontrei minha alma no meio de seus morros verdejantes, ou de seu artesanato de conchas e pedras, e em meio a esse cotidiano que não tem hora pra acabar. Aqui vive-se não devagar, mas plenamente, absorvendo todas as horas do dia como se fossem eternas. Um lugar eterno. Feito de pessoas que não passam, mas ficam e se perpetuam. E meu sonho empíreo torna-se um local onde se pode estar à frente de uma fogueira, sob um céu estrelado e a lua minguando, para ver o baile noturno das gaivotas no seu diário namorar com o rio e o mar. Um lugar de poesia feita em estática e cor. Um lugar para não esquecer e voltar sempre, e não contar para ninguém o seu nome por medo da assustadora civilização e seu poder destruidor de belezas e paz.

O meu lugar se chama segredo.

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Créditos da imagem: Olhares.com
Paraíso, por Marcelo Seixas

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2 comentários:

  1. Hoje em dia, com o ritmo de vida (que, em muitos casos, não passa de mera existência) frenético do cotidiano, só mesmo na imaginação para nos sentirmos da forma como você tão brilhantemente descreveu em seu texto, Mariana.
    Valeu.

    Jacques Fonseca Beduhn
    http://relativaseriedade.blogspot.com/

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  2. Obrigada, Jacques! Fico feliz que tenhas gostado. Felizmente este lugar existe. Grande abraço!

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