I Concurso Literário Benfazeja

Venusianamente





Conto, por Gil Rosza.


Percebi sim o quanto você achou engraçado quando falei que adoro tua boceta. Tentou disfarçar um pouco que havia ficado desconsertada, forçando aquele riso técnico, querendo me convencer do quanto é safo, descoladinha! Mas não adiantou nada, vi você mordendo os lábios, envergonhada. Pois saibas que amar assim a tua boceta não é nem um pouco a parte áspera da minha libido. Saibas também que dizer isso assim na lata, sem rodeios, não é um galanteio previsível a fim manter tuas pernas bem abertas enquanto acesso uma vaga disponível para o meu já conhecido descarrego fálico matinal.

Posso desejar todas as bocetas que couberem nas minhas fantasias, já que na nossa intimidade é permitido dizer que não há absolutamente nada em sua boceta, que não esteja próximo de tantas outras asseadamente desejáveis que conheço entre tantas mulheres deste mundo. Sendo assim o que torna a sua boceta um objeto único é o óbvio, o fato dela ser a sua.

Se eu fosse crente o bastante para ser cristão zeloso digno de ser arrebatado, quem sabe, um brâmane ciente duma injusta roda carmica e que devido a esse grau de iluminação, tivesse o privilégio de no post mortem, escolher um novo recipiente para tornar a viver, certamente, excluiria o corpo de alguém adorado como sábio, santo ou mago. No plano dos desejos carnais, rejeitaria também voltar como o mais belos dentre os belos, entre os capazes de enlouquecer até as sereias que tentaram Ulisses no mastro do Argo. Recusaria retornar como poderes supremos, bilionário hedonista ou imperador da Manchúria, mas gostaria de voltar para me tornar você. Não apenas estar no seu corpo, como uma entidade alienígena usurpando algo que um dia foi seu, uma roupa nova com as minhas medidas, mas verdadeiramente renascer você, ver surgir entre as minhas pernas um lótus vivo, delicado e rosáceo. Sua boceta, minha ninféia.

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Crédito da imagem:
Ben Fernon

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