Contos Fantásticos
Espectros Capitulo 02 - A origem
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Conto para a seção Fantástica escrito por Vagner Silva
No princípio de nossa Orbe a terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas tudo era trevas, e nosso planeta estava mergulhado na escuridão profunda do espaço, então Deus Ordenou “que se faça a luz”, e assim se fez, mas juntamente com a luz surgiram as sombras. Deus chamou à luz dia, e às trevas noite.
Este dia era um dos mais importantes, atacavam o inimigo sem piedade, sabiam que os mesmos não teriam com eles. Maurus Avelas General da lendária 13º Legião estava à frente da batalha, comandava seus homens, valentes guerreiros de bravuras imagináveis e verdadeiros companheiros, seriam capazes de dar as próprias vidas pela de seu General. Centenas de subordinados queimavam no chão caído naquele território infértil, seus corpos a carne queimava até os ossos muitos mortos, outros ainda agonizando, as flechas flamejantes do inimigo caiam sem cessar sobre eles.
Olhando para aquele Céu estrelado não se podia notar uma sequer nuvem, a Lua cheia revelava a localização ao inimigo.
Se pudesse comparar com algo o que os olhos cansados do General o faziam ver, aquelas saraivadas de flechas incandescentes pareceriam com. “um imenso enxame de vagalumes de fogo”.
Em segundos ele se viu como em um pesadelo, distanciava do corpo ali inerte naquele chão úmido, seu sangue encharcava aquela terra morta, algo o puxava para longe, escutava vozes gritos, gemidos por todos os lados. Será que são os meus homens pedindo ajuda ao seu General? - Pensava ele. Juntamente com ele outros eram levados por uma força ainda não conhecida, ele os sentia.
Caindo em um abismo, parecia não ter fim a escuridão era quase total, conseguia perceber que junto muitos outros caiam.
Prezo como em um furacão, uma força descomunal arrebentava o corpo e jogava para todos os lados, a dor era tanta que perdeu a consciência.
Ficou ali desacordado por muito tempo, quando abriu os olhos percebeu que não estava mais em seu continente, - que lugar é esse? Seria esse o inferno os deuses estariam me castigando por tantas mortes. Pensava o General Maurus Avelas, o corpo quase nu somente a vestis da parte de baixo do traje de batalha sentia frio, os membros relutavam a obedecer, os pensamentos eram confusos quase não se sustentava em pé.
O esforço foi imenso para poder levantar e começar a andar, tinha de procurar uma forma de sair daquele local, andou até seus pés não agüentarem mais.
A paisagem era estranha tudo parecia noite, em alguns pontos o fogo rompia a terra e queimava o solo iluminando por alguns minutos aquele vale dos mortos. Não se percebia passar o tempo, mais passava a fome e a sede já se faziam sentir, o General não entendia, achava que estava morto, mas ao mesmo tempo pensava. – “Como posso estar morto se sinto todas as dores da carne”.
Chegou ao alto do vale. No outro lado viu centenas de pessoas gritando, outras agonizando em meio a pântanos negros caudalosos e o fogo que hora ou outra queimava.
Era até difícil descrever algo já mais visto por ele. Como esse lugar ele viu inúmeros, sempre caminhando tentando encontrar algo ou alguma coisa que o pudesse ajudar a sair ou pelo menos entender aquele lugar.
Assim ele caminhou por vales umbralinos, até quase esquecer completamente quem fora em vida, aquele grande general estrategista, um dos maiores guerreiros do império Lemúria, agora parecia um cadáver ambulante, protegia o frágil corpo com restos de trapo que encontrara pelo caminho se um dos seus o vissem assim nunca o reconheceriam pensava ele.
Parou para descansar encostou-se a uma pedra e ficou ali em meio a centenas de outros, alguns desfigurados outros mutilados, indiferente aquilo para Maurus já não causava espanto ele mesmo parecia um cadáver em decomposição.
Alguém gritou ao longe. – “eles estão vindo”.
O ex-general se quer esboçou levantar o rosto permaneceu ali cabisbaixo, face escondida pelo capuz, os outros apavorados tentavam fugir de algo que aproximava, aquela região umbralina era escura por natureza tudo parecia noite, mas se podia enxergar e perceber as coisas, as estranhas criaturas pareciam escurecer ainda mais o local, como uma tempestade negra, escondendo qualquer feixe de luz que pudera haver ali.
Passaram pela região aparentemente não iriam parar, mas parecia que procuravam alguma coisa ou alguém em meio à multidão, do alto eles olhavam as almas dos aflitos, e os enxergavam diferente, eles podiam ver como se fosse a áurea uma assinatura de cores das almas e em meio a tantos correndo um deles identificou o que procurava.
Eles começaram a descer um a um agora mantos negros que cobriam totalmente o corpo era um total de 7, tomou a frente um parecia ser o líder, se aproximou de Maurus Avelas que permanecia ali cabisbaixo sem interesse no que estava acontecendo a sua volta.
- Levante se condenado. Falou o ser.
Maurus permaneceu do mesmo modo, não se importando com mais nada.
- Eu te ordeno! Falou o ser.
Maurus então levantou levemente o rosto à criatura aproximou sua mão com pele avermelhada, ressecada e com dedos longos de unhas negras e falou.
- Te procuramos há tempos. - soubemos que desencarnou e tínhamos planos para você.
Maurus sem entender pergunta;
- Quem são vocês criaturas das trevas?
- Somos espectros a serviço de nossos senhores da escuridão os magos negros. Respondeu o ser.
- Você estava sendo aguardado. - nossos senhores já o sondavam em vida.
- Mas porque eu? Pergunta Maurus.
O espectro responde. – Você e um estrategista nato, um grande líder e acima de tudo um pecador. – Nossos superiores querem você em nossas tropas de espectros.
- Você será como eu um espectro de primeira grandeza o levaremos deste local e ficara a nossa custodia te ensinarei pessoalmente tudo que devera aprender e fazer. Fala o espectro.
O ex-general já cansado de tudo que vivera naquele inferno não pensa duas vezes, sentindo que pudera novamente ser aquilo que nascera para fazer comandar e lutar diz ‘’sim’’.
Os espectros o rodeiam e começam a novamente modificar a roupa fluídica, eles o levantam suas vestis vão saindo de seu corpo, castigado pela permanência naquela região, com os braços abertos ele grita os espectros vão proferindo algumas palavras incompreensíveis. Maurus agora com o corpo sem ferimentos some juntamente com os espectros na mesma nuvem negra de antes.
*
Espectros Capitulo 3 - A médium e o zelador de santo
Uma das versões mais aceitas popularmente, sobre a origem da Umbanda fala sobre o médium Zélio Fernandino de Moraes em meados do ano de 1908, acometido de doença misteriosa, foi levado por familiares a Federação Espírita de Niterói em determinado momento dos trabalhos da sessão Espírita manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina). Mais tarde, naquela noite, os espíritos se nomearam como Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio.
Devido à hostilidade e a forma como foram tratados (como espíritos atrasados por se manifestarem como índio e um negro escravo). Essas entidades resolveram iniciar uma nova forma de culto, em que qualquer espírito pudesse trabalhar, as entidades começaram a atender na residência de Zélio todos àqueles que necessitavam. Fundou a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade. Essa nova forma de religião inicialmente foi chamada de Alabanda, mas acabou tomando o nome de Umbanda. Uma religião sem preconceitos que acolheria a todos que a procurassem: encarnados e desencarnados, em todas as bandas.
Suzete de Lins era uma pessoa extraordinária de extrema sensibilidade espiritual, ela freqüentava há anos um terreiro de Umbanda no interior da grande metrópole São Paulo.
Considerada pelo Pai de Santo que nunca ostentou esse titulo, uma das mais fortes médiuns da casa. – Sua mediunidade vem de berço. Dizia ele.
Suze como era carinhosamente chamada pelo Pai de Santo “Antonio de Oliveira” o auxiliava nos trabalhos da casa. Em uma das cessões que acontecia sempre rigorosamente aos sábados, Suze atendera um homem aparentando não mais de 30 anos de idade, totalmente debilitado física e psicologicamente.
Ela percebera pela sua clarividência aflorada que o homem sofria de um quadro extremo de “parasitismo”, em processo avançado de obsessão, notou que seu corpo era tomado pela cólera, e inúmeras larvas mentais estavam prezas ao seu perispírito, e um feixe muito sutil quase impercebível na cor roxa ligava o seu cordão de prata, diretamente do umbigo a algo ainda desconhecido.
Por Suze ser uma médium clarividente sua função no terreiro era, triagem dos que la procuravam ajuda para os diversos males do corpo e da alma, ao avaliar o caso mais grave da noite ela pede esclarecimento ao dirigente da casa:
- Esse irmão esta sofrendo um forte ataque de forças de extrema grandeza.
- Um dos casos mais graves que já tivemos em nossa casa, em todo esse tempo, que a freqüento. – gostaria que o senhor desse-me o entendimento se assim for permitido pelos nossos irmãos espirituais. – O que esta fazendo isso com ele?
- Primeiramente Suze, novamente eu lhe digo. – não sou “Pai do Santo”, e sim Zelador e acima de tudo chame-me pelo meu nome. Falou ele.
O Zelador de Santo como gostava de ser chamado o Pai Antônio de Oliveira era uma pessoa de temperamento forte, mais amável e acima de tudo humilde, seus quase 40 anos à frente do terreiro já havia visto muitas coisas ajudado inúmeras pessoas. Atuado em diversos casos de obsessões, ele sabia como o ser humano podia ser infinitamente bom ou ruim. E fazia sua parte para ajudar o próximo buscando sempre o bem.
Antônio de Oliveira pede para Suzete esperar que suas perguntas e dúvidas sejam sanadas pela entidade que abriria os trabalhos da noite.
Suzete então se contêm e pede para o obsediado sentar em um dos bancos que ficava à disposição da assistência que aguardava para ser atendida pelas entidades que ali desceriam.
Após algum tempo os trabalhos são iniciados, todos de véstis brancas simbolizando a pureza, a paz e acima de tudo a luz. Os ogans como eram chamados os filhos da casa responsáveis por tocar os atabaques (tambores feitos de madeira e pele animai), entoavam os pontos, cantigas que tinham um significado importantíssimo nas reuniões. Eles tocavam e cantavam. Os outros trabalhadores da casa cantavam juntos.
“Preto- velho quando tem luz
Ele arria em qualquer lugar
Primeiro cumprimenta Zambi
Sarava coroa
Sarava Conga”.
Simultaneamente os médiuns da casa vão recebendo as entidades, Suzete desenvolvera o dom da clarividência, mas não recebia entidades, e ficava como cambone e sustentação dos trabalhos.
A gira era de Preto-Velho, entidades tidas como as mais fortes e sabias dos terreiros, que às vezes enganava os leigos por sua aparência velha e frágil.
Na assistência o rapaz tremia como que influenciado pela força dos atabaques, Suzete atendia a entidade do dirigente da casa, mas sempre observando o rapaz, ela tinha o dom de ver os espíritos das sombras e os da luz.
O preto-velho do dirigente pede que Suzete conduza o rapaz até ele. Sentado em um toco de madeira a entidade toma seu café bem forte sem açúcar e da pitadas em seu cachimbo.
O rapaz se aproxima e senta em um banco já posicionado a frente da entidade, ela pega nas mãos do rapaz e diz:
- Meu fio voz micê ta muito ruim. – o vozinho ta bizoiando muita maldade em cima de oce.
Fazendo o sinal da cruz com os dedos banhados com óleo benzido na testa do mesmo, inúmeras vezes enquanto ia falando sem deixar que o rapaz pronuncia-se nada, como deve ser entidades serias que descem em médios preparados para caridade.
- Isso que suga sua energia fio é um espírito muito veio que há tempo não volta para carne, “Reencarna”. – Ele foi mandado, isso preto-velho tem certeza, só num posso afirmar por que.
- Temo que faze um trabaio de limpeza no seu cazua, para tirar esse mau doce. – e descobri quem o mando fio.
À medida que a entidade ia conversando, com dialeto simples, de origem escrava, ia retirando os vermes do rapaz eles caiam um a um no chão e iam sumindo. Suzete via os vermes e o efeito do óleo na áurea dele, que ia mudando a tonalidade e o tamanho, equilibrando novamente seu espírito. Sabiam que aquilo seria uma ação de alivio, mas que os vermes voltariam causar dor nele se a limpeza espiritual não fosse realizada em sua casa e o verdadeiro vampiro de suas energias não fosse destruído.
Assim o preto velho termina a sessão com o rapaz Suzete o conduz novamente para o banco da assistência e pede que ele fique até o termino do trabalho para anotar o seu endereço e nome para o trabalho de limpeza que deveria ser realizado em seu lar. O preto velho e as demais entidades continuam o atendimento as outras pessoas que ali também estavam à procura de ajuda.
Ao termino do trabalho agora já sem as pessoas da assistência, o Zelador de Santo Antonio Oliveira e Suzete de Lins explicam os procedimentos que deveram ser tomados pelo jovem ao retornar para seu lar, coisas simples mais que serviam de proteção mesmo que provisória até a limpeza definitiva de sua casa.
- Você deve colocar um copo com água e sal grosso atrás de sua porta de entrada. – também começar ter o hábito de acender uma vela de sete dias e oferecer para seu anjo da guarda.
E continua o Zelador. – não se esqueça do mais importante. – hoje ao chegar a seu lar antes de qualquer coisa tome um banho de sal grosso para afastar possíveis vermes e a entidade que o obsedia.
Após as explicações e recomendações o Zelador deixa Suzete encarregada de anotar os dados do rapaz e sai.
- Qual é o seu endereço. – pergunta Suzete.
- Moro na Rua Tenente Pek. – numero 300. – Vila Imperador.
- Qual seu nome. – ela pergunta.
- Me nome Amadeus Siqueira. – ele responde
*
Vagner Silva , nasceu em São Paulo, Capital, em 1978. Formado em Ciencias Biologica, trabalha, atualmente, como Funcionario publico na cidade de Poá. Possui vários poemas e contos expostos no saite recanto das letras, www.recantodasletras.com.br, um livro publicado no saite Clube de Autores .
perfil do autor no facebook
fan page do livro 'Weigon Estrander e a Sociedade da Espada Negra'.
* * * *
A Passageira
Por Luis Bacedoni
Por vezes, a viagem à capital se torna monótona, mesmo com o entra-e-sai de passageiros no pinga-pinga lotado. Para Réris, que utiliza com frequência o ônibus para se deslocar a Porto Alegre, àquela viagem se transformaria numa experiência marcante. Ele perdera o último ônibus da tarde e obrigou-se a embarcar à noite, abaixo de chuva, típica do inverno sulino. Exausto da semana de trabalho, planejou dormir durante o trajeto, lentamente percorrido pelo coletivo, devido ao mau tempo.
Assim que o ônibus ultrapassou a ponte, Réuris esticou-se na poltrona e tentou pegar no sono, tarefa que se tornou difícil, já que o passageiro acomodado no banco 21, aos berros, falava ao celular. Mesmo com as luzes do ônibus apagadas, o homem não se tocava e tagarelava em alto e bom tom com seu interlocutor. Irritado, Réris levantou-se e foi ao sanitário, passou uma água no rosto e, ao retornar ao seu assento, deparou-se com uma ruiva, de pele muito clara, aparentando entre 26 a 30 anos de idade, comodamente sentada na última poltrona do pinga-pinga, com uma perna sobre a outra.
A ruiva era tão bela que afugentou até o sono do passageiro e nem cansaço sentia mais. Quando menos esperava, a mulher disparou à queima-roupa olhares sorrateiros e carregados de segundas intenções na direção de Réuris. Ele chegou a retornar à sua poltrona, mas não demorou muito e voltou ao banheiro, puro pretexto, só para ver novamente a ruiva. O passageiro queria ter certeza de que a mulher realmente lhe dera bandeira. Ao sair do sanitário, a mulher foi direta e lhe fez sinal, para que sentasse ao seu lado. Não restava mais dúvida, a ruiva esta mesmo disposta a transformar a viagem menos monótona.
Abancado ao lado da passageira, Réuris logo sentiu a mão da mulher, ornada de anéis com estranhas pedras, deslizar entre suas pernas. Ela o afagava como ninguém antes o fizera, de tal maneira que era impossível disfarçar tanta excitação. Alucinado de prazer, o passageiro logo retribuiu as gentilezas da ruiva, da qual o rosto revelava-se por instantes, entre uma luz e outra que quebrava a escuridão do ônibus. Ao tocar as coxas com pele aveludada, Réuris fez a mulher se retorcer na poltrona. Até mesmo o tagarela já havia dormido, quando os amantes entregaram-se completamente às delícias da inesquecível viagem.
Com a agilidade de um contorcionista, Réuris meteu-se entre os bancos e colocou o rosto entre as pernas da ruiva, que não conseguia conter os discretos gemidos, quase imperceptíveis ao ouvido humano, mas que cadenciavam o momento de prazer. A poltrona resistia bravamente ao movimento dos amantes e, vez por outra, deixava escapar um rangido, porém nada comparado ao tagarela, que ora dormia. Quase no auge da satisfação, os amantes foram obrigados a brecar orgasmos, pois, sem que percebessem o ônibus estacionou na parada de sempre, no meio do caminho para a capital. Cúmplices, os dois sequer desceram do coletivo, que após 10 minutos, seguiu viagem.
Na altura das minas de carvão, a ruiva atingiu o primeiro orgasmo. “Essa louca é fantástica,” imaginou Réuris, que também desfrutou daquele momento. As luzes de Porto Alegre despontavam na escuridão do horizonte, quando os dois experimentaram de novo àquela sensação mágica, de entrega total. Próximo ao destino, o passageiro preparava-se para voltar ao seu banco, convencido de que nunca havia conhecido uma mulher, como a ruiva com a qual acabara de transar.
Assim que ônibus estacionou na rodoviária de Porto Alegre, Réuris, ainda empolgado pela fascinante viagem, foi o primeiro a descer. Plantado ao lado do coletivo, aguardava o desembarque dos passageiros, para trocar breves palavras com a ruiva e ao menos perguntar qual o seu nome. Após alguns minutos, Réuris percebeu que o motorista fechava a porta do coletivo e chegou a lhe alertar que ainda havia uma mulher dentro do ônibus. Por precaução, o motorista ingressou no veículo, foi até a última poltrona, inspecionou o banheiro e não encontrou ninguém. “Moço, aqui não há ninguém e sequer vi alguma ruiva embarcar durante todo o trajeto,” revelou o motorista, para espanto e pavor do incauto passageiro.
*
Créditos da imagem: Site olharees - fotografia online
departer, por Monica B.
Conto para a seção Fantástica escrito por Vagner Penna
Uma das versões mais aceitas popularmente, sobre a origem da Umbanda fala sobre o médium Zélio Fernandino de Moraes em meados do ano de 1908, acometido de doença misteriosa, foi levado por familiares a Federação Espírita de Niterói em determinado momento dos trabalhos da sessão Espírita manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina). Mais tarde, naquela noite, os espíritos se nomearam como Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio.
Devido à hostilidade e a forma como foram tratados (como espíritos atrasados por se manifestarem como índio e um negro escravo). Essas entidades resolveram iniciar uma nova forma de culto, em que qualquer espírito pudesse trabalhar, as entidades começaram a atender na residência de Zélio todos àqueles que necessitavam. Fundou a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade. Essa nova forma de religião inicialmente foi chamada de Alabanda, mas acabou tomando o nome de Umbanda. Uma religião sem preconceitos que acolheria a todos que a procurassem: encarnados e desencarnados, em todas as bandas.
Suzete de Lins era uma pessoa extraordinária de extrema sensibilidade espiritual, ela freqüentava há anos um terreiro de Umbanda no interior da grande metrópole São Paulo.
Considerada pelo Pai de Santo que nunca ostentou esse titulo, uma das mais fortes médiuns da casa. – Sua mediunidade vem de berço. Dizia ele.
Suze como era carinhosamente chamada pelo Pai de Santo “Antonio de Oliveira” o auxiliava nos trabalhos da casa. Em uma das cessões que acontecia sempre rigorosamente aos sábados, Suze atendera um homem aparentando não mais de 30 anos de idade, totalmente debilitado física e psicologicamente.
Ela percebera pela sua clarividência aflorada que o homem sofria de um quadro extremo de “parasitismo”, em processo avançado de obsessão, notou que seu corpo era tomado pela cólera, e inúmeras larvas mentais estavam prezas ao seu perispírito, e um feixe muito sutil quase impercebível na cor roxa ligava o seu cordão de prata, diretamente do umbigo a algo ainda desconhecido.
Por Suze ser uma médium clarividente sua função no terreiro era, triagem dos que la procuravam ajuda para os diversos males do corpo e da alma, ao avaliar o caso mais grave da noite ela pede esclarecimento ao dirigente da casa:
- Esse irmão esta sofrendo um forte ataque de forças de extrema grandeza.
- Um dos casos mais graves que já tivemos em nossa casa, em todo esse tempo, que a freqüento. – gostaria que o senhor desse-me o entendimento se assim for permitido pelos nossos irmãos espirituais. – O que esta fazendo isso com ele?
- Primeiramente Suze, novamente eu lhe digo. – não sou “Pai do Santo”, e sim Zelador e acima de tudo chame-me pelo meu nome. Falou ele.
O Zelador de Santo como gostava de ser chamado o Pai Antônio de Oliveira era uma pessoa de temperamento forte, mais amável e acima de tudo humilde, seus quase 40 anos à frente do terreiro já havia visto muitas coisas ajudado inúmeras pessoas. Atuado em diversos casos de obsessões, ele sabia como o ser humano podia ser infinitamente bom ou ruim. E fazia sua parte para ajudar o próximo buscando sempre o bem.
Antônio de Oliveira pede para Suzete esperar que suas perguntas e dúvidas sejam sanadas pela entidade que abriria os trabalhos da noite.
Suzete então se contêm e pede para o obsediado sentar em um dos bancos que ficava à disposição da assistência que aguardava para ser atendida pelas entidades que ali desceriam.
Após algum tempo os trabalhos são iniciados, todos de véstis brancas simbolizando a pureza, a paz e acima de tudo a luz. Os ogans como eram chamados os filhos da casa responsáveis por tocar os atabaques (tambores feitos de madeira e pele animai), entoavam os pontos, cantigas que tinham um significado importantíssimo nas reuniões. Eles tocavam e cantavam. Os outros trabalhadores da casa cantavam juntos.
“Preto- velho quando tem luz
Ele arria em qualquer lugar
Primeiro cumprimenta Zambi
Sarava coroa
Sarava Conga”.
Simultaneamente os médiuns da casa vão recebendo as entidades, Suzete desenvolvera o dom da clarividência, mas não recebia entidades, e ficava como cambone e sustentação dos trabalhos.
A gira era de Preto-Velho, entidades tidas como as mais fortes e sabias dos terreiros, que às vezes enganava os leigos por sua aparência velha e frágil.
Na assistência o rapaz tremia como que influenciado pela força dos atabaques, Suzete atendia a entidade do dirigente da casa, mas sempre observando o rapaz, ela tinha o dom de ver os espíritos das sombras e os da luz.
O preto-velho do dirigente pede que Suzete conduza o rapaz até ele. Sentado em um toco de madeira a entidade toma seu café bem forte sem açúcar e da pitadas em seu cachimbo.
O rapaz se aproxima e senta em um banco já posicionado a frente da entidade, ela pega nas mãos do rapaz e diz:
- Meu fio voz micê ta muito ruim. – o vozinho ta bizoiando muita maldade em cima de oce.
Fazendo o sinal da cruz com os dedos banhados com óleo benzido na testa do mesmo, inúmeras vezes enquanto ia falando sem deixar que o rapaz pronuncia-se nada, como deve ser entidades serias que descem em médios preparados para caridade.
- Isso que suga sua energia fio é um espírito muito veio que há tempo não volta para carne, “Reencarna”. – Ele foi mandado, isso preto-velho tem certeza, só num posso afirmar por que.
- Temo que faze um trabaio de limpeza no seu cazua, para tirar esse mau doce. – e descobri quem o mando fio.
À medida que a entidade ia conversando, com dialeto simples, de origem escrava, ia retirando os vermes do rapaz eles caiam um a um no chão e iam sumindo. Suzete via os vermes e o efeito do óleo na áurea dele, que ia mudando a tonalidade e o tamanho, equilibrando novamente seu espírito. Sabiam que aquilo seria uma ação de alivio, mas que os vermes voltariam causar dor nele se a limpeza espiritual não fosse realizada em sua casa e o verdadeiro vampiro de suas energias não fosse destruído.
Assim o preto velho termina a sessão com o rapaz Suzete o conduz novamente para o banco da assistência e pede que ele fique até o termino do trabalho para anotar o seu endereço e nome para o trabalho de limpeza que deveria ser realizado em seu lar. O preto velho e as demais entidades continuam o atendimento as outras pessoas que ali também estavam à procura de ajuda.
Ao termino do trabalho agora já sem as pessoas da assistência, o Zelador de Santo Antonio Oliveira e Suzete de Lins explicam os procedimentos que deveram ser tomados pelo jovem ao retornar para seu lar, coisas simples mais que serviam de proteção mesmo que provisória até a limpeza definitiva de sua casa.
- Você deve colocar um copo com água e sal grosso atrás de sua porta de entrada. – também começar ter o hábito de acender uma vela de sete dias e oferecer para seu anjo da guarda.
E continua o Zelador. – não se esqueça do mais importante. – hoje ao chegar a seu lar antes de qualquer coisa tome um banho de sal grosso para afastar possíveis vermes e a entidade que o obsedia.
Após as explicações e recomendações o Zelador deixa Suzete encarregada de anotar os dados do rapaz e sai.
- Qual é o seu endereço. – pergunta Suzete.
- Moro na Rua Tenente Pek. – numero 300. – Vila Imperador.
- Qual seu nome. – ela pergunta.
- Me nome Amadeus Siqueira. – ele responde
*
Vagner Silva , nasceu em São Paulo, Capital, em 1978. Formado em Ciencias Biologica, trabalha, atualmente, como Funcionario publico na cidade de Poá. Possui vários poemas e contos expostos no saite recanto das letras, www.recantodasletras.com.br, um livro publicado no saite Clube de Autores .
perfil do autor no facebook
fan page do livro 'Weigon Estrander e a Sociedade da Espada Negra'.
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A Passageira
Por Luis Bacedoni
Por vezes, a viagem à capital se torna monótona, mesmo com o entra-e-sai de passageiros no pinga-pinga lotado. Para Réris, que utiliza com frequência o ônibus para se deslocar a Porto Alegre, àquela viagem se transformaria numa experiência marcante. Ele perdera o último ônibus da tarde e obrigou-se a embarcar à noite, abaixo de chuva, típica do inverno sulino. Exausto da semana de trabalho, planejou dormir durante o trajeto, lentamente percorrido pelo coletivo, devido ao mau tempo.
Assim que o ônibus ultrapassou a ponte, Réuris esticou-se na poltrona e tentou pegar no sono, tarefa que se tornou difícil, já que o passageiro acomodado no banco 21, aos berros, falava ao celular. Mesmo com as luzes do ônibus apagadas, o homem não se tocava e tagarelava em alto e bom tom com seu interlocutor. Irritado, Réris levantou-se e foi ao sanitário, passou uma água no rosto e, ao retornar ao seu assento, deparou-se com uma ruiva, de pele muito clara, aparentando entre 26 a 30 anos de idade, comodamente sentada na última poltrona do pinga-pinga, com uma perna sobre a outra.
A ruiva era tão bela que afugentou até o sono do passageiro e nem cansaço sentia mais. Quando menos esperava, a mulher disparou à queima-roupa olhares sorrateiros e carregados de segundas intenções na direção de Réuris. Ele chegou a retornar à sua poltrona, mas não demorou muito e voltou ao banheiro, puro pretexto, só para ver novamente a ruiva. O passageiro queria ter certeza de que a mulher realmente lhe dera bandeira. Ao sair do sanitário, a mulher foi direta e lhe fez sinal, para que sentasse ao seu lado. Não restava mais dúvida, a ruiva esta mesmo disposta a transformar a viagem menos monótona.
Abancado ao lado da passageira, Réuris logo sentiu a mão da mulher, ornada de anéis com estranhas pedras, deslizar entre suas pernas. Ela o afagava como ninguém antes o fizera, de tal maneira que era impossível disfarçar tanta excitação. Alucinado de prazer, o passageiro logo retribuiu as gentilezas da ruiva, da qual o rosto revelava-se por instantes, entre uma luz e outra que quebrava a escuridão do ônibus. Ao tocar as coxas com pele aveludada, Réuris fez a mulher se retorcer na poltrona. Até mesmo o tagarela já havia dormido, quando os amantes entregaram-se completamente às delícias da inesquecível viagem.
Com a agilidade de um contorcionista, Réuris meteu-se entre os bancos e colocou o rosto entre as pernas da ruiva, que não conseguia conter os discretos gemidos, quase imperceptíveis ao ouvido humano, mas que cadenciavam o momento de prazer. A poltrona resistia bravamente ao movimento dos amantes e, vez por outra, deixava escapar um rangido, porém nada comparado ao tagarela, que ora dormia. Quase no auge da satisfação, os amantes foram obrigados a brecar orgasmos, pois, sem que percebessem o ônibus estacionou na parada de sempre, no meio do caminho para a capital. Cúmplices, os dois sequer desceram do coletivo, que após 10 minutos, seguiu viagem.
Na altura das minas de carvão, a ruiva atingiu o primeiro orgasmo. “Essa louca é fantástica,” imaginou Réuris, que também desfrutou daquele momento. As luzes de Porto Alegre despontavam na escuridão do horizonte, quando os dois experimentaram de novo àquela sensação mágica, de entrega total. Próximo ao destino, o passageiro preparava-se para voltar ao seu banco, convencido de que nunca havia conhecido uma mulher, como a ruiva com a qual acabara de transar.
Assim que ônibus estacionou na rodoviária de Porto Alegre, Réuris, ainda empolgado pela fascinante viagem, foi o primeiro a descer. Plantado ao lado do coletivo, aguardava o desembarque dos passageiros, para trocar breves palavras com a ruiva e ao menos perguntar qual o seu nome. Após alguns minutos, Réuris percebeu que o motorista fechava a porta do coletivo e chegou a lhe alertar que ainda havia uma mulher dentro do ônibus. Por precaução, o motorista ingressou no veículo, foi até a última poltrona, inspecionou o banheiro e não encontrou ninguém. “Moço, aqui não há ninguém e sequer vi alguma ruiva embarcar durante todo o trajeto,” revelou o motorista, para espanto e pavor do incauto passageiro.
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Créditos da imagem: Site olharees - fotografia online
departer, por Monica B.
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