A esfinge do Posto 6
Conto, por Gil Rosza.
Soa meio esquisito falar em calmaria nos arredores do posto 6 num sábado de madrugada, ainda mais àquela hora, mas a verdade é que naquela noite havia sim e a prova disso era o franzino carioca itabirano sentado em bronze de pernas cruzadas, sem ser importunado. Pode-se dizer que a única coisa que o incomodava um pouquinho, era o vento frio da orla batendo-lhe nas costas sob a camisa fina. Uma vez, houve até um movimento que pretendia vira-lo para o Atlântico deixando-o de costas para a Atlântica, mas é sabido que poeta algum aceitaria ser tão comodamente poupado do castigo de Sísifo e do destino de Prometeu. O louro do poeta é ser maldito e ao contrário dos inocentes do Leblon, todos os chacais de Copa, seguem uivando, furiosamente arrastados Rainha Elizabeth acima até o Arpoador por um rio caudaloso de falsos pudicos.
Não é à toa que dentre os que jaziam penando no inferno de Dante, estavam dois reconhecidamente poetas. Dois párias que caminhavam calmamente entre os penados que agonizavam e gemiam implorando por refrigério. Dois poetas confessos, um numa procura inútil por Beatriz e o outro, em busca duma razão que fizesse tudo valer a pena até mesmo quando se sabe que a alma quase sempre é pequena.
Não é à toa que dentre os que jaziam penando no inferno de Dante, estavam dois reconhecidamente poetas. Dois párias que caminhavam calmamente entre os penados que agonizavam e gemiam implorando por refrigério. Dois poetas confessos, um numa procura inútil por Beatriz e o outro, em busca duma razão que fizesse tudo valer a pena até mesmo quando se sabe que a alma quase sempre é pequena.
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Foto: Riopravoce/Flickr
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