I Concurso Literário Benfazeja

José Luís Mendonça




Entrevista, por Iracy de Souza

Vamos conversar sobre a poesia de Angola com o Diretor do Jornal Cultura – Jornal Angolano de Artes e Letras – e Poeta José Luís Mendonça ?


TAMBÉM TU, MULHER...

Também tu, mulher, és uma riqueza
para a minha alma amargurada.
Dás-me saúde e alegria, vontade de viver
coisas tão simples e boas como a verdade.
Demais só de pensar-te o meu olhar se ilumina
e todo o meu corpo se eletriza
com o calor subindo do meu sexo.
Assim te procuro atento na selvagem cidade
viajante errante nos caminhos da vida
como busco o pão, a casa e a flor.


Escritor e jornalista angolano, José Luís Mendonça nasceu a 24 de Novembro de 1955, na província do Cuanza Norte, no Golungo-Alto. Integra a denominada "novíssima geração", expressão escolhida para designar o conjunto de jovens que começaram a despertar, no início dos anos 80, para o que é literário. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, tem vindo a exercer, também, o jornalismo nas colunas de diversos jornais angolanos. Sua primeira publicação é o livro Chuva Novembrina, em 1981 - portanto, depois da independência de Angola. Integrando a Geração das Incertezas - para além do autor, nomes como os de, entre outros, João Maimona, José Eduardo Agualusa, Lopito Feijó, Ana Paula Tavares, João de Melo, Ana de Santana, representam o momento poético desta década de 80, encontrando-se repartido por dois movimentos fundamentais: a Brigada Jovem de Literatura e o grupo da revista Archote.

 Iracy de Souza A poesia de Angola, nestas últimas décadas do século passado, particularizou uma temática muito concreta dentro da problemática social, política e cultural, podemos dizer que é uma poesia formalmente existencial e voltada para o conflito bélico. Essa “poesia beligerante” foi capaz de formalizar um modelo próprio que respondia as demandas patrióticas e que acabava por inserir o cidadão dentro de uma nova conscientização de luta contra todos os tipos de agressões internas e externas. Contra o neocolonialismo que teimou em reduzir Angola aos velhos tempos despóticos. Você considera que esse espaço (poesia beligerante) foi quantificado com a relevância que merecia?

Resposta José Luís Mendonça – Eu tenho a impressão que esse aspecto não foi tão bem analisado como o foi na época da luta de libertação. Até porque, durante a Luta de Libertação, a poesia era mais direta e mais retórica, menos formal. A poesia de intervenção dos anos pós-independência que teve cultores devotados como Manuel Rui (Onze Poemas em Novembro), David Mestre (Em Soweto, Alexandra), e alguns outros que redesenharam a questão social interna com o lápis da metáfora, ainda não foram sucintamente estudados. Angola carece de uma escola de critica literária, não temos críticos de Literatura dentro de portas, os grandes analistas são professores de literatura em Portugal e no Brasil e desconhecem, a maior parte das vezes, a idiossincrasia dos nossos povos e a problemática sócio-linguística dos países saídos do colonialismo.

Iracy de Souza Sem perdermos de vista que a poesia em África foi o motor de muitas mudanças sociais e mentais. Poeta, podemos pensar que esse antigo modelo impermeabilizou a criatividade poética angolana?

Resposta José Luís Mendonça – Essa forma de escrever poesia só poderá ser antiga se o poeta assim quiser. Temos exemplos no país de cultores da poesia de intervenção político-social, como por exemplo, Ruy Duarte de Carvalho, ou Paula Tavares, cuja obra é da arte mais moderna. Portanto, o que conta não é a temática a abordar, desde a poesia de amor à poesia beligerante, o que conta é a Arte aí implicada no recriar do objecto poético.

Iracy de Souza Hoje um novo espaço ético e estético surge na poesia angolana, transgressor, que revindica todos os atributos da terra angolana desde essa latitude telúrica e de louvar a paisagem sem a idealizar, com todos os recursos que essa terra produz, em termos de cultura. Esse destino serve ao próprio poeta para se interrogar sobre sua força e enfatiza a modernidade e a tradição duma cultura ancestral como elementos formativos de seu país?

Resposta José Luís Mendonça – Há, neste caminho da nova poesia angolana, duas marchas ou dois andamentos diferenciados. Há uma poesia de cariz bucólico, rural, que vai à poesia tradicional buscar o seu alimento estético e imaterial, como é o caso de um Ruy Duarte ou de uma Ana Paula Tavares e há uma outra poesia que é bem mais uma certa colagem a alguns autores universais e que se expressa num ritmo pegajoso, ocidental. Depois há também uma poesia ainda à moda antiga, de um lirismo popular, que trata as coisas pelo nome da rua. Aos críticos cabe agora peneirar tudo e arrumar nas prateleiras da teoria da literatura.

Um pouco mais a respeito do Escritor: membro da União de Escritores Angolanos, José Luís Mendonça escreveu os seguintes livros: Chuva Novembrina ( s/d, saído em 1981), edição do INALD, galardoado com o prémio de poesia "Sagrada Esperança" - 1981, no concurso de literatura Camarada Presidente; Gíria de Cacimbo, Prémio Sonangol de Literatura, edição da União de Escritores Angolanos; Respirar as Mãos na Pedra (1989), grande prémio Sonangol de Literatura de 1988, edição da União de Escritores Angolanos; Quero Acordar a Alva (1997), edição do INALD, prémio de Literatura "Sagrada Esperança - 1996" (ex-aequo com Se a Água Falasse, de João Maimona); Logaríntimos da alma. Poemas de amar (1998); e Ngoma do Negro Metal (2000), Edições Chá de Caxinde.

Indicamos o ensaio do Escrito por Augusto Kawbwa: José Luís Mendonça: Poemas de Amar e de Amor dos Logaríntimos Até á Gramática; in:

U E Angola

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