O que eles querem, mas não dizem
Crônica de Erica Gaião
Ele
só queria um lugar para colorir a alma e repousar o seu corpo cansado. Ele só queria ser abrigo e abrigar-se no mundo encantado de uma mulher
comum. Ele só queria a paz e o conforto de saber voltar pra casa. Ele só queria
amor, mas não sabia como:
Era
assim que sonhava enquanto dormia. E quando acordava do sonho noturno de querer
pertencer, levantava, lavava o rosto com ilusão e saía em busca de aventura no
meio dos seus dias cheios, lotados de mesmices e loucuras. Iludia-se. Iludia.
Gente bonita forjando encontros, enquanto ele se divertia. Gente bonita fazendo
festa, enfeitando a sua alma com delicadezas e ele só imaginando a próxima dança.
Gente bonita implorando abraços e ele lá, vazio, fingindo paz; fingindo
felicidade por não ser de ninguém; alívio por ser o caminho que não leva a
lugar algum. Ele lá, adoçando luas com sorrisos, mãos, abraços e afagos, entre
um gole e outro, enquanto alternava aventuras. Enquanto trocava de vida. De
mulher. De casa. Mesmo quando não entrava em nenhuma vida além da sua. Era
doce, mas amargava algumas decepções. Era forte e seguro, mas a sua alma
guardava em silêncio inúmeras fraquezas. Era leve e perfumado, quando queria
ser gentileza. Era denso e arredio, quando não precisava. Era inteiro nas suas
metades. Era metade, quando inteiro fugia de alguma possibilidade. Era habilidoso quando se escondia atrás das suas certezas todas arrumadinhas, e brincava de enfileirar exceções, decepções e vontades. Ele e o seu universo
paralelo, construindo histórias que não passavam de uma noite e só. Ele que
sonhava enquanto dormia, desmontando os sonhos de tantas. Desfazendo laços com
outras. Não querendo se amarrar em nada além dos seus próprios pés. Ele que
sorria para o mundo, tentando espantar a sua tristeza latente, amedrontada,
contida. Quase inimaginável pelo tamanho do sorriso que tinha carimbado no
rosto.
Tinha coragem, apesar de... Não era uma fuga. Era só um jeito semiaberto de viver. Quase
raso. Quase fundo. Quase e só. E quando cansado de ouvir muito do mesmo - muito
daquelas falas intermináveis; muito daquele disse me disse de coisas não
recicláveis, de gente bonita e perfumada, que não se atualiza, mas se sente feliz
assim mesmo - voltava para casa, despia-se de sua armadura de homem
inalcançável e difícil-demais-para-ser-de-uma-mulher-só,
retirava dos olhos as lentes de enxergar aparências e belezas sobrenaturais. E
depois de despir-se inteiro, entregava-se ao banho solitário de lavar almas
enrijecidas. Chinelos confortáveis; vodca e bastante gelo… Arremessava o seu
corpo limpo e aliviado na poltrona fria e macia para dividir com ela a solidão.
Olhos livres e direcionados para o nada, para o abismo de uma parede que
acolhia sombras, enquanto elas dançavam tímidas naquele ambiente pouco
iluminado. Ao fundo um blues amaciando os seus ouvidos; embalando aqueles
inconfessáveis sonhos secretos de querer pertencer, que só lhe visitavam nas noites
mais silenciosas e longas. Nas noites mudas e solitárias, onde tudo em
volta silenciava e a alma sufocada, adormecia calada, tentando esconder-se dos
seus próprios excessos. Era assim que ele vivia, todo dia: Mostrando-se de
longe durante o dia. Se olhando de perto durante a noite. Era assim que ele
doía também.
Me aproximei da sua realidade em uma noite, onde eu também não dormia. Onde eu também não me encontrava e, por sorte, nossas almas se viram em algumas letras jogadas ao acaso, nessa mesma noite fria e solitária. Onde eu também, depois de vários nãos agrupados e em série, para inúmeras oportunidades, percebi que ele também sofria. Como eu. Como você. Como ela. Como aquela que ele tanto encantou. Foi aí que eu compreendi que a dor de um, pode ser a dor de muitos. Porque doer por amor não é só um privilégio delas. Daquelas. Das outras que ele conhecia e des-encontrava todos os dias. A dor do amor não é uma dor de gêneros. É uma dor e só. Como o amor é amor e só. E embora equivocado na maneira de amar. Embora vivesse esquivando-se do perigoso mundo do sentir, ele era apenas alguém, assim como eu, como você, como ela, como aquelas tantas, transitando pela vida e tentando encontrar o seu espaço perto do sol, perto da lua; perto de alguma luz capaz de atravessar os desertos da alma e romper essa barreira imaginária desenhada a partir de um não. No fundo, no fundo, ele, assim como eu, como você, como ela, como aquelas outras, só queria um lugar maior que uma poltrona fria e macia, para compartilhar em vez de uma, duas solidões. Porque ele só queria amor, mas não sabia como.
Me aproximei da sua realidade em uma noite, onde eu também não dormia. Onde eu também não me encontrava e, por sorte, nossas almas se viram em algumas letras jogadas ao acaso, nessa mesma noite fria e solitária. Onde eu também, depois de vários nãos agrupados e em série, para inúmeras oportunidades, percebi que ele também sofria. Como eu. Como você. Como ela. Como aquela que ele tanto encantou. Foi aí que eu compreendi que a dor de um, pode ser a dor de muitos. Porque doer por amor não é só um privilégio delas. Daquelas. Das outras que ele conhecia e des-encontrava todos os dias. A dor do amor não é uma dor de gêneros. É uma dor e só. Como o amor é amor e só. E embora equivocado na maneira de amar. Embora vivesse esquivando-se do perigoso mundo do sentir, ele era apenas alguém, assim como eu, como você, como ela, como aquelas tantas, transitando pela vida e tentando encontrar o seu espaço perto do sol, perto da lua; perto de alguma luz capaz de atravessar os desertos da alma e romper essa barreira imaginária desenhada a partir de um não. No fundo, no fundo, ele, assim como eu, como você, como ela, como aquelas outras, só queria um lugar maior que uma poltrona fria e macia, para compartilhar em vez de uma, duas solidões. Porque ele só queria amor, mas não sabia como.
Créditos da imagem: Olhares.com
Lindo texto!! Erica é show! bjo
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