a crítica literária e o feminismo

Crônica de Rogério Fernandes
há alguns dias venho lendo textos sobre protocolos de leitura e acabei caindo na questão da desconstrução e o feminismo. para robert scholes, o feminismo foi arquitetado de modo semelhante à desconstrução, ou seja, assim como o desconstrutivismo, as feministas constituem um partido ou núcleo dentro de um organismo maior, acadêmico ou de discurso. Só se adere a tal partido, e partido aqui com muitas "aspas", produzindo-se um discurso que compartilhe o paradigma do feminismo. agora, olha só onde o bicho pega. estamos tratando de um conceito criado em estruturas da ciência, da vida acadêmica. e o feminismo possui, em relação ao desconstrutivismo, uma diferença crucial: a questão de classe. diante disso, a leitura feita por uma mulher feminista de uma obra literária sempre vai estar excedendo o mundo acadêmico pois há em seu discurso uma consciência de sua responsabilidade pessoal para com as outras mulheres. separei alguns trechos bacanas do livro do scholes:
"Uma crítica literária feminista escreve, é certo, para outros críticos, mas escreve também em nome de outras mulheres e, como crítica, sente-se fortalecida pela consciência que tem da sua responsabilidade pessoal. Um crítico do sexo masculino, por outro lado, atuará porventura dentro do paradigma feminista mas nunca será inteiramente da classe feminista. Lidando com os mesmos problemas e com os mesmos textos, nunca agirá com autoridade idêntica à da mulher[...] O feminismo tem um interesse e um valor especiais devido à maneira como essa classe e esse paradigma se reúnem sob o estandarte. O feminismo não é apenas uma maneira de ler, mas sim uma maneira de fazê-lo com base em preocupações ético-políticas. A leitura proposta pelo feminismo não é um individuo que lê para si próprio e sim um elemento com consciência de classe pertencente à classe das mulheres e que lê em nome de todos os membros daquela, incluindo em seu próprio nome."
isso pra dizer o seguinte: cuidado com o que nós homens falamos e escrevemos. há sempre perigo na esquina. o peso do patriarcado é muito grande e isso explica porque alguns tantos tem se incomodado com as reivindicações do feminismo. sinal de que o caminho é esse mesmo. mas há tantas outras lutas e tantas outras coisas para se desconstruir. a começar com o conservadorismo de base, aquele que está em todos e que devemos lutar contra a todo o momento.
há uma luta sendo travada lá fora, são estudantes, operários, mulheres, meninos e meninas que, ao optar pela luta, não podem excluir ninguém do discurso por igualdade e de nossas preocupações ético-politicas, pois a luta transcende o espaço em que estamos e passa a representar todos aqueles que, alienados ou não, excluíram-se do jogo.
é isso, boas noites.
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Créditos da imagem: olhares.com
AI, AS MULHERES!, por Marina Aguiar
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