I Concurso Literário Benfazeja

Sinais



Tenho uma amiga que vive dizendo que o céu manda sinais. Ela mesma tem vários macetes para entender os tais sinais do além, e diz que eles se mostram de diferentes formas, seja através de pessoas, seja através de coisas. Aliás, qualquer coisa, segundo diz, pode nos 'dizer' algo importante, ou que estava sendo esquecido, ou que deveria ser pensado ou repensado, enfim.

De minha parte, nunca tive muito jeito para entender dessas coisas. Fico me achando maluca se começo a prestar muita atenção nos signos à minha volta, procurando um tal “sinal”, ou uma mensagem subliminar que revele se devo ir para frente ou para trás, ou fazer algo ou outra coisa.



Mas, como “no creo en las brujas, pero”... acabo questionando o que cada circunstância ou objeto ou pessoa tem a dizer, ou mostrar, ou segredar, o que seja.

Ontem foi um dia em que parei para ler um livro aparentemente sem grande significado para mim. Algo tão diferente da minha história que imaginei que teria com ele não muito mais do que alguns “orgasmos literários”, coisa que gosto de apreciar nos livros: a linguagem, as formas escolhidas para dizer alguma coisa, as imagens formadas, em si consideradas, sem muita relação com a história contada, coisa minha, não dêem por isso.

Mas o fato é que o tal livro me tocou. Não entendi direito.

Não era a história em si, mas algo dentro dele, algo quase dito, soprado, que meu subconsciente pegou de jeito e me fez acordar hoje mais tranquila do que de costume. Mais sóbria. Mais consciente.

Fiz relações, mexi com os neurônios esquecidos, multipliquei sinapses e hoje me vejo estranhamente calma, “compreendendo” a difícil circunstância da passagem dos seres por nossa existência, e os motivos “divinos” para que isso ocorra num dado momento. Tudo é sinal, afinal.

Os que têm olhos de ver, vejam. Depois pensem, pensem e pensem. Porque sinal nenhum tem força contra o cego que não quer ver e o surdo que não quer ouvir. Então estejamos atentos.

O Divino nos testa a todo o momento, nos traz pessoas e coisas para que elas efetivamente façam alguma diferença em nosso viver. Se não as “virmos”, seguimos sem elas, porque a vida segue. Os dias sucedem-se em horas e elas não param nos esperando compreender o que está à volta.

E então, num dia longínquo, talvez, e só talvez, tenhamos a noção do quanto de sofrimento e culpa e medo e bobagens poderíamos ser privados se tivéssemos tido a grande sabedoria de olhar o mundo com olhos de que não está acostumado. Porque quem assim faz, entende melhor o que “vê”.


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Créditos da imagem: (pode deixar que eu preencho isso)
Sinal, por Marinas F Silva

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