I Concurso Literário Benfazeja

Pessoas que não me interessam


Crônica de Camila Heloíse

Pessoas rasas não me interessam. Estas estão sempre preocupadas demais com a aparência, com o que os outros vão pensar a seu respeito. Estão sempre dando nomes aos sentimentos, procurando sentido em tudo o que fazem. Escolhendo antecipadamente as melhores palavras para então se pronunciar. São falsos altruístas que vivem aguardando o melhor momento. Anseiam sempre uma entrada triunfal. Passam a vida toda sem sentir alguma coisa pra valer, sem se deixar doer ou se transformar em cacos.
O medo antecipa o fim e tudo acontece sempre às bordas da vida. Pessoas rasas se ocupam de cultivar sentimentos líquidos e palavras miúdas. E apesar de parecerem autossuficientes, têm mais medo do que muitos de nós. Colecionam amizades interesseiras e amores desinteressados.
Essa gente rasa, meu caro, é muito perigosa. Porque aqueles que têm sentimentos demais, como a gente, acaba mergulhando muito depressa no mar deles, e quando se dá conta, mergulhou sozinho. E fica lá no fundo, completamente imerso e perdido. Enquanto isso, a pessoa rasa continua lá, te olhando da superfície com um ar de contentamento tão maléfico que suga toda a sua esperança de um dia emergir novamente. Por isso, tenha cuidado!
O mundo está cheio de gente rasa por aí, e essa gente se mistura facilmente em nossas vidas, de forma que nem percebemos. Usam disfarces perfeitos com gestos muito bem elaborados e sorrisos que hipnotizam. Com abraços falsos e promessas vãs, batizam-nos com beijos inesquecíveis e sonhos que parecem bons, mas não passam de pesadelos. Um velho amigo me ensinou uma tática que nunca falha, e desde então passei a me safar de gente rasa com mais facilidade.
Olhe sempre nos olhos do outro, e se possível toque o coração dele. Falo de tocar mesmo, estender o teu braço e colocar a mão no peito do outro e sentir o que pulsa lá dentro. Porque, meu amigo, com os olhos e com o coração não se brinca.
Não há verdade que se esconda tanto e que seja capaz de enganar um olhar, ou que possa forjar outras batidas dentro do peito.
E não há nada que essa gente rasa mais tema no mundo do que isso: ser tocado por alguém que sente de verdade e ser olhado profundamente por alguém que não tem medo e que não sabe fingir.

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Imagem retirada do site We Heart It

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