I Concurso Literário Benfazeja

Poemas de Camila Passatuto




Bombardeios

Os bombardeios seguem a rotina,
Destroem e constroem.

Não sei meu choro
Já faz tempo.

As ruas vastas...
Ainda.
E repouso
Minha desilusão
Pelo batente

Observo tanta ganância

Minhas mãos sujas
De amor

E o mundo acabando
Com o pouco do eu
Que me resta
Na janela.




Infante Moral

Eu recuso o tratado que o mundo oferece
Quero meu próprio tormento
Com os ventos que minha mente reproduz.

Paz. Edifico, desmoralizo,
Não adquiro sua cruz.

E o que você julga eterno
Na minha vida perece,
Muita lei e muita regra.

Olha o cheiro da liberdade...

Tem gente que até esquece.

Empurram um sofá e a arte de trena.
Vão medir minha letra
E criticar o poema.

Esqueci o clássico
O marginal
O cubismo em poesia

Não pude lembrar
Já que alienaram
Minha vontade,
Por pura hipocrisia.

(Quero mais esquina)

Eu confundia as letras
Gritava tudo errado
Era o feio certo
Mas entoava meu passado.

Hoje o mundo me concertou
Na falha da perfeição
E tento a cada brisa
Voltar à pureza daquela
Vadia claudicação.




Nosso Nirvana

O mundo nos dá feridas já cicatrizadas.
Basta florescer por entre pernas
Será batizado pelas guerras,
Bombas e retalhos antigos.

Jogam sua alma sem você saber
É uma partida perigosa
E seu corpo apenas caminha
Sem ressentimento.

Usam suas mãos para manipulações
Tão ultrajantes.
E você é apenas um jovem faminto
Um leão sem selva.

Queremos apenas a arte
De inspirar e aspirar o medo

Mas quem entende?

Fode uma poesia qualquer
E o sentido é inalado.

O mundo recolhe nossa existência
E o que fica é isso
O ofício de extravagar
Revolta e amor.



Mosteiro de esquina

Roga ao som da sineta
Na prolação da fé.
Insinua tua boca
Em pele de salvação.

Distraio em logogrifo
Alguns minutos
Da pouca vida
Prematura.

Ajoelha poesia
Na saliva minha

Ajoelha

Clama e proclama
O verso santo
Das pernas cruas

Roga ao som da sineta
Nossa liberta voz
Lutuosa de hoje
Em tom lúgubre de ontem...



Minha nossa, vida.

Vivo para o adeus das mãos quentes
Das crianças redondas, dos dentes
Das moças fáceis, dos vestidos
Das praças em fumaças, dos peixes.

Vivo para o esquecimento global
Dos meus versos, dos seus restos
Dos antigos, dos que não nascem
Dos maus vistos, dos decassílabos.

Vivo para a morte precoce que ronda
De noite com frio, de medo infantil
De poeira em espirro, de ar em suspiro
De rima torta, de segurança em escolta.

Vivo para a literatura da verdade atual
Espero no alto da sacada o carteiro,
Com as verdades capitalistas sem receio,
Descanso ao rasgar a vitalidade da mentira.

E só assim, com liberdade ou não,
Vivo meio poeta
Morro inteiro poesia.




Camila Passatuto,
25. Escreve poemas desde os 11 anos. Começou em 2007 a publicar seus poemas em blogs; durante esses sete anos, foram três blogs para poesias e um para contos, crônicas e afins... Participou em várias publicações em revistas culturais, uma antologia e publicações de mini-contos.

@CamilaPassatuto blog instagram


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Créditos da imagem: (pode deixar que eu preencho isso)
Deixe o sol invadir e florescer sua alma, por Patrícia Dellani

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