I Concurso Literário Benfazeja

A subjetividade nos fatos




Foi a terceira chamada para a batalha, mas não fiz questão de me levantar da cama. Trinta minutos depois todos os meus companheiros voltaram ao dormitório, jogando nervosos armadura e armas, praguejando baixinho.

Eu já sabia.

Essa é uma guerra inevitável, mas que ninguém quer lutar.

Os líderes de ambas facções não se mostram já faz um bom tempo, nem mesmo mandam sinais de que ainda há alguma preparação em curso, nenhuma ocorrência já faz quase um ano. O que quer que esteja acontecendo, está acontecendo no plano mental, ou seja, a leve brisa deixa o ar fácil de respirar e os nervos ficam cada vez mais à flor da pele.

2012 virou a atração mais comentada no plano terrestre e foi mais uma ferramenta para a cobiça humana, alimentando ganância, avareza e, ao contrário do real objetivo, afastando cada vez mais as pessoas do caminho da evolução espiritual.

Falando sério, tudo virou mais uma grande piada.

Quando penso nisso, vejo os deuses em uma sala escura, sentados em poltronas confortáveis e com os olhos fechados, concentrados em manter o mínimo que ainda existe de esperança para o final deste ano terrestre.

No infinito universo mental de cada um deles, mesmo que convergindo em vários pontos, acontece uma história diferente e o final de nenhum deles é compatível.

Qual mente será mais poderosa, qual vontade será mais persistente e vencerá a verdade dos irmãos?

Meus devaneios são interrompidos pela general das nossas tropas.

- Você não saiu quando fomos chamados, você como líder deste batalhão deveria ser o primeiro a responder ao chamado! Explique-se!

- Fique tranquila, punirei o batalhão por não seguir seu capitão. Esta guerra não vai acontecer ainda, somos chamados para falsos alertas, quando deveríamos estar treinando e nos preparando para enfrentá-la!

Ninguém está realmente preparado para o que vem pela frente.

Não há o que esperar, portanto não há para o que se preparar.

Sou respeitado pelos generais por ser o único capaz de chegar próximo de qualquer informação antecipadamente.

Por isso me deito e descanso.

Enquanto meus homens estão sempre prontos para responder a qualquer chamado, e até que um chamado venha, treinam todos os dias para estar menos despreparados para o que vem em nosso encontro.

Neste momento a batalha é mental e por isso na Terra ela se reflete nas batalhas virtuais manifestando-se por todos os lados.

Guerreiros escondidos da malha da realidade, trabalhando no escuro da subjetividade.

E não estamos em uma guerra assim já a muito tempo?

Mas agora, o subjetivo e o real estão estreitando seus laços...

Se você tem medo de bicho papão, de agora em diante é melhor olhar embaixo da sua cama de noite antes de dormir...



Allan Lucena

nasceu e mora no interior de São Paulo, é ator, cantor e escritor, tendo protagonizado algumas peças de teatro musical como Tony de West Side Story (On Broadway), Ed (O Rei Leão), Sam Carmichael (Mamma Mia), Boq e Dillamond (Wicked) e também interpretando Sancho Pança no ballet Dom Quixote.

Graduado em Comunicação Digital enfase em Web (2008), Criou o blog www.umikizu.com onde publica desde 2009 poemas, pensamentos, contos e reflexões sobre o cotidiano, arte e espiritualidade.

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Créditos da imagem: (pode deixar que eu preencho isso)
Tudo de volta., por Ediago Quincó

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