I Concurso Literário Benfazeja

Eles (Nós)




Eles estão aí, nos bares à meia-luz nas quartas-feiras, bebendo a redentora cerveja, aí nos cinemas sonhando com histórias perfeitas em que sempre tem recomeço, estão nos engarrafamentos do rush ouvindo baladas românticas em armaduras chamadas carros, e eles correm velozes como para chegar logo a qualquer lugar, mas quase sempre não o lugar certo, e estão nas portas das noitadas na madrugada, cigarros baratos com bebidas dóceis que devolvem a alegria cedo perdida, e sorrindo por fora e se afogando por dentro, e um abraço ou um beijo seria uma maneira simples de curar, mas não é tão simples de se encontrar, e abraçando coisas eletrônicas que tem promessas falsas, e eles vegetando em suas casas, quartos-labirintos abrigando instintos incompreendidos, eles estão contando piadas e se sentindo também palhaços, estão cansados, embora tanto corram, formigas, e sabem todas as coisas de sobreviver hoje em dia, mas veja bem, viver não é sobreviver e poucos percebem isso com o impacto necessário, e eles estão então nos shoppings enchendo sacolas como seus corações se encheram de mágoas e tristezas, e estão lendo livros que falam de princesas, e príncipes, e magias capazes de criar outros mundos, e estão mudos, mudos diante de tanto barulho nos outdoors e nos números tão exatos, eles estão esperando alguma coisa, insensatos, todo mundo espera no fundo alguma coisa, essa coisa vem dia e vai dia, vadia, vai indo embora, adeus cruel, mas a vida diz que não é por querer, mas e a culpa por tudo o que você – não – fez, e essa coisa que você procura, eles procuram, nós procuramos, capaz de dar sentido ao que é breve, estranho e até humano, isso chamado vida, isso chamado "eu", isso capaz de saber tudo sem explicar nada, e explicar tudo sem saber nada, isso que de fato é a existência da alma, é apenas isso, milhares e bilhares de almas nas calçadas, isso que a gente procura e às vezes encontra e às vezes até mantém, porque a felicidade aparentemente existe, acreditemos, isso que a gente procura em tudo como impuros cegos, isso, isso que dizem haver nos bares à meia-luz, nos cinemas, nas baladas e nas noitadas, e telas frias inventadas, e casas velhas amarrotadas, isso que eles procuram, que a gente procura e que deve ser a maior loucura imaginável é esse tal de amor, mas onde ele está, e qual é a cura para a própria cura?

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