Poemas de Cris Grando
Do livro Grão.
grãO
ou
quanta informação cabe no mundo?
o pequeno que sonhava já é um grande viajante
em vermelho vivo e rutilante
trabalham os pensamentos
- rápidos ou lentos -
são automóveis, nuvens
ondas ou estrelas
grãos de areia ao vento
as coisas simplesmente sucedem
há um imenso vazio
onde sons emanam do silêncio
na ordem assimétrica do bambu
ou no caos ordenado de uma cidade
sou o que só eu sei que sou
e que ninguém pode definir
respeito o fluxo e suas mágicas formas:
delicada dança dos corpos na água de um rio
em meu estado puro
sem saber o que é ser prisioneira
vivo a espontaneidade e o silêncio
o dormir e despertar em paz
suavemente me movo
até deixar de fazer perguntas
porque tudo flui: o que sou
e o que penso que não
o universo
e todos
nós
no ar
onde somos
uma eterna árvore mutante
pedir uma só vez
com sabedoria
e saber esperar
sem forçar a resposta
sem apegos nem controle
confiar no cosmos
e em meu cérebro
que a partir de agora
só se conectará
com o belo
beijar meus próprios lábios
ao desdobrar-me em sonhos
para conhecer-me
porque o que mais importa
é saber amar
a si e ao novo que traz o viajante consigo
saber amar o espaço
que separa e une
e cruzar as fronteiras com um olhar de amor:
substância comum a todos os seres
a matéria indizível do mundo
deixar de atuar
para desenvolver-me em amor
como ser anônimo
e em diversos ritmos
no meio da multidão
de uma fazenda ou de uma selva
desconstrução
te amei como um príncipe
os lábios feito música
como se fosse único
nobre, divino e mágico
me amaste como um bêbado
numa noite de sábado
me deixaste uma lágrima
partiste como um pássaro
*
Créditos da imagem:
Grãos de areia, por Gimaui
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