Dois Vídeos Poemas de Clara Baccarin
O sonho interrompido.
O gozo desperdiçado.
O sorriso engolido.
O amor assassinado.
O fel rompido na boca doce.
A viuvez prematura.
Do vinho para a catuaba.
Das manhãs para as madrugadas.
Dos sóis para os eclipses solares.
A orfandade na maioridade.
A tulipa murchando na primavera.
A mão espalmada na inocência.
A cauterização no coração aberto.
O cinza no arco íris.
O sonho interrompido.
Ficam
esses olhos serenos
que não sabem mais ver horizontes
essa casa organizada
os poemas encaixotados
os vinhos secos
essa intimidade com o vazio
cuidadoso
manso
essa economia de palavras e tons
quietude
esse corpo cansado de perseguir o não vivido
e essa alma que desconfia do infinito
Ficam
essas asas de borboleta manca
esse medo do luto
essa habilidade de varrer
para debaixo do tapete
artigos em decomposição
Ficam
essas mãos
respeitosas e distantes
esses calendários
feitos de segundas-feiras
essas pilhas de papeis
contratos quitados
essa falta de fome
e esse engolir de hóstias
que já não tapam buracos
*
Foto, textos e vídeo: Clara Baccarin
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