Lua
Poema, por André Al. Braga
Olha a Lua, que "da hora", falta vinte para as nove
Corre ponteiro, corre, se move pela noite que
Move a vontade e que faz a vaidade fazer isso
Com o relógio, o nosso biológico
Ilógico sentimento de tempo passando
Passando rápido, mas que nunca passa
Nunca passa todo e está sempre em falta
E que falta faz o tempo em que se havia tempo
Para alguma coisa, qualquer coisa qualquer
Que se quisesse não fazer...
O tempo só passa; a perna em nós
E nós correndo atrás do mesmo
Fazemos nós da vida atando-a ao tempo
E lá em cima, no infinito
Já há muito tempo antes do meu infinito
Fica ela cercada de estrelas mortas
De brilhos quase findos
E que só eu vejo
Fica lá ela inacessível e só
Pela metade ou cheia ou minguada
Nívea para os poucos olhos humanos
Fica lá ela só, sem saber que só passou a existir
Mesmo há muito tempo já lá
Só depois de mim
Só
Só depois de mim
É que ela lá
Lá em cima só
Só depois de mim
Ela passou a existir
Depois que eu sem crença
Sem submissão sem Ciência
Nem rituais nem nada mais
Só depois de mim
Observado poético
É que a Lua passou a existir
Só
Só depois de mim...
O astronauta flutuando no espaço
Com fome e com saudade
Esse, só te pisou
Arrancou-te pedaços
Fincou um espinho em tua pele
Subcutâneo cravou sua conquista
Deu-te as costas e disse:
A Terra é azul!
Esse, esse astronauta
Ignorou o fato de que olhava
Não para outro planeta
Porque não existe um outro planeta
Só existem os nossos planetas
Ele ignorou que olhava
Para um espelho
Que refletia teu olho
Teu onipresente e atemporal olho azul
Azul do teu olho infinito
Que me dá o céu
O teu azul que me dá o mar
Azul que me da Azul e outras cores
O Azul que também só passou a
Existir depois de mim
Só
Só depois de mim
É que o Azul passou a existir
Tudo só passou a existir depois de mim
A Lua
O tempo
O Azul
O tudo
Só
Só depois de mim...
E só agora que vejo
Em você que sempre esteve ai
E que me da Azul
E que sempre brilha
Eterna e atemporal
Agora que vejo que
Você também é um espelho
Que reflete o que sou
Reflete minha utopia
Meu desejo de ser
Reflete minha crença
E os meus dias nesse meu planeta
São reflexos que brilham em
Tua superfície alva e manchada
Manchada com outra utopia minha
Só
Inacessível e
Só
Você é só
Um reflexo
De toda minha utopia
Humana
*
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Créditos da imagem
The Moon..., por Miguel Fonseca
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