Infinito em expansão
Somática
a sensação ruim
que
meus músculos recebem como resposta cerebral
Não
há livros que me prendam (ou me roubem)
Nem
imagens que fixem meus olhares sobre
A
música destoa em meus ouvidos e em minha boca
Sou
dispersão pura
um
nada em dor que pensa só
no
escuro de tudo
A
noite nem chegou e já sei
que
será longa...
Densa,
escura e longa...
A
luz que há é morta
O
céu noturno é um velório
A
Lua viúva
pálida
cercada
de luto
vela
estrelas
Estrelas
que só existem em mim
porque
na verdade são apenas brilhos mortos
que
correm no negro infinito do infinito
do
nada para o nada
O
peso do universo é insuportável
bambeio
as pernas
paro,
respiro
e
sigo insuportavelmente carregando-o
Penso
que a Lua é uma viúva carpideira
que
me olha
me
vela
míngua
finge
que chora
por
mim
deitado
corpo
esperando o bisturi na pele
(Mas
já estou oco há anos)
Depois
ela me amortalha no lençol
podre
de tão branco que é
e
me deita num colchão de mármore
me
coroa
tampa
desce
sepulta.
Fecho
os olhos
mas
a noite existe dentro deles
Então
penso em nada
mas
o nada é carregado de universo
e
o universo é um luto infinito
e ainda em expansão
O
ar me sufoca
Quero
sangue
Preciso
esfaquear meu coração!
É,
preciso esfaquear meu coração
Expor
as artérias
Vasos
venosos pulsando
pulsando
e expulsando todo meu vermelho
Preciso
do vermelho do sangue
jogá-lo
na noite
na
Lua minguada
no
universo
para
que ele expanda junto
meu
vermelho sangue pulsando e expandindo
Virando
vinho ou vinagre
vivendo
vadio
vulnerável
vulcão
vontade
vascular vingando
várias
variações variando
veneno
e vitória
Vitória...
é, vitória!
(O
que é a vitória?)
(Penso
que a vitória seja um misto de reconhecimento e glória originados do emprego de
nossa força em alguma coisa que resulta em outra coisa... mas para ter
reconhecimento e glória, o que para muitos é essencial para sentir-se
vitorioso, vencedor, é preciso que outro me conceda essa alegria, pois ela para
existir, mesmo não existindo, é preciso da aprovação alheia. Minha vitória, ou
minhas vitórias, todas elas, sinto-as só, sem o olhar julgador do outro, sem a
contemplação dos demais, sem os aplausos dos meus semelhantes, que muitas vezes
soam por educação e indiferentes; vitória sem medalhas de honra ao mérito ou
diplomas enquadrados, sem os louvores das massas, sem fama, troféu, sem nada,
meu êxito existe por si só, meus ouvidos são surdos aos aplausos, minhas
paredes são límpidas das obrigações subservientes, minha pele não tem broches
brilhosos e coloridos, minha vitória é sem pódio e não tem o beijo da menina
que segura o guarda-chuva... não preciso da ilusão alheia, crio minha vitória
com minhas ilusões. Mesmo sendo minhas, não deixam de ser passageiras...)
Eu
também sou o outro
Sou
o outro da Lua
e
sendo o outro da Lua
transformo
a lua em Luar
E
viro a vitória do Luar sobre a lua
O
Luar vitorioso brilha através dos meus olhos
Olhos
negros como o universo
infinito
em expansão como o nada do nada que corre pelo tempo e forma o negro que nos
cobre, nos inquieta e nos faz querer mais do que amar
Nos
meus olhos há um universo que brilha
que
carrega a vitória alheia
que
é cercado de um branco contrário ao das estrelas mortas
que
quer mais querer que amar
que
acende o Luar da lua
que
luta contra o luto do universo (que está em expansão)
O
universo está nos meus olhos
Então
o vermelho venoso está lá também
porque
o coração é matéria e metáfora
utopia
pulsando no peito dos olhos
Nos
olhos da cabeça que pensa tudo
E
faz dos olhos uma outra matéria e metáfora
Utopia
que olha para ver
Ver
até enxergar
que
tudo parte dum ponto único
Eqüidistante
sou o universo de tudo
O
sangue do coração e tão banal quanto o luar
E
não adianta esfaqueá-lo
as
veias
o
universo
a
lua
o
brilho que vai do nada ao nada
as
dores somáticas
a
noite densa, longa e escura
tudo
parte
de mim que sou a outra parte de tudo
O
universo
infinito
em expansão
sou
Eu
Preciso
expandir
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