Peripécias do Tércio
Conto, por Cláudia Banegas.
Parte 1
"Salto alto, vestido curto, bolsa enorme... não seria apropriada para ser a mãe dos seus filhos, mas..."
Primeira semana de férias! Maravilha!
Finalmente livre do stress do escritório, do tocar incessante dos telefones, do excesso de informações via net, cobrança de prazos...!
Desligaria o celular e guardaria o laptop no armário. Tecnologia, nem pensar!
A fazenda do tio Ary era tudo o que ele precisava. Ar fresco, leite quentinho tirado das tetas das vacas, manteiga caseira, broa de milho... Era bom demais! Poderia até arriscar uma cavalgada!
Terminou de arrumar as malas, onde colocou somente o necessário. Não lembrava da última vez em que tinha estado tão feliz. Juntou suas coisas, pegou as chaves do carro e fechou o apartamento. Chamou o elevador, assoviando. O assovio enfraqueceu quando a porta se abriu. Dentro, surgiu uma loira de parar o trânsito, digna de comercial de televisão. Linda de doer. Embasbacado, fez um leve cumprimento com a cabeça e entrou.
Por um momento besta, se sentiu aliviado por estar usando seu melhor perfume e ter feito a barba. Com uma pontinha de decepção, viu a loira sair do elevador, justamente e logo no seu andar. A porta ia se fechando, quando ela fez menção de perguntar alguma coisa.
Rapidamente, ele segurou a porta e demonstrando interesse misturado com educação, perguntou gentilmente:
_ Precisa de ajuda?
_ Hã... é que eu sou a nova moradora do 802; minha mudança está pra chegar e ... eu perdi minhas chaves!
“Nova moradora? Hmmm... vizinha... perdeu as chaves...”
As informações iam se encontrando rapidamente na mente de um macho pegador.
Ele saiu do elevador e ela olhou para a mochila e as malas.
_ Ai, nossa, me desculpa, não queria te atrasar!
_ Sem problemas, tempo agora é o que eu mais tenho. Hoje é o meu primeiro dia de férias.
_ Sério?! Que legal! Eu também estou de férias!
_ Puxa, que coincidência!
_ Pois é... hã, muito prazer, sou a Stella.
_ Oi, Stella, sou o Tércio. Mas, me diz... você perdeu suas chaves?
_ Ah, pois é... você se importaria se eu usasse o seu telefone?
“Se eu me importaria?! Ela está brincando...! Você de mim pode usar o que quiser, gata!”
_ Claro que não, pode ligar sim. Vem.
Ele sente no ar o perfume da moça. Inebriante. Os cabelos soltos, esvoaçantes, cheiram a chocolate. Ele adora chocolate!
Voltam juntos ao apartamento dele.
_ Fique à vontade.
_ Nossa, seu apartamento é lindo! Quem decorou, sua esposa?!
O olhar da loira é insinuante.
_ Não, não, eu não sou casado...
“Hmmm...”
Ela faz a ligação, enquanto ele a observa. Salto alto, vestido curto, bolsa enorme... não seria apropriada para ser a mãe dos seus filhos, mas se pintasse algo casual, por que não? Ela termina a ligação, com uma carinha triste.
_ O que foi? Algum problema?
_ Hã... é, boas e más notícias. A má é que a mudança vai atrasar um pouquinho e a boa, é que eu não perdi as chaves, ficaram na casa do meu primo. Ele vai trazer pra mim.
_ Você quer esperar aqui enquanto a sua mudança não chega?
_ Ah, puxa, não quero te atrapalhar, você já estava de saída...
_Não esquenta! Como eu te disse, tenho tempo de sobra. Pode ficar aqui, enquanto sua mudança e seu primo não chegam, ok?
_ Então, está bem.
_ Quer alguma coisa? Pra beber?
_ Um pouquinho de água.. pode ser?
_ Claro!
Ele vai até a cozinha com mil planos na mente. Que oportunidade surgida do céu! Que loira! O que seus amigos iam dizer quando ele aparecesse com ela na piscina do prédio? Nas baladas? Ia voltando com o copo de água quando parou no meio do corredor, estatelado.
A “deusa” em forma de mulher ajeitava alguma coisa no meio das pernas, algo que a incomodava, mas de longe parecia bem volumoso. O choque foi letal.
Por sorte, a porta do apartamento estava entreaberta. Foi quando ele viu saindo do 803, seu vizinho, o musculoso, sarado, rato de academia, o Pepeu.
Não podia perder tempo, senão estaria mesmo em uma furada. Deixou o copo em cima da mesa da cozinha e correu até a porta. Passou pela loira como um raio.
_ Pepeu! Tudo bom? Bom dia!
O rapaz até se assustou.
_ Bom dia! Tudo bem?
_ Olha só, eu estou com um pepino ... quer dizer, um problema. Estou indo “pro” aeroporto e tem uma amiga minha ali, precisando ficar em um apartamento, esperando a mudança dela chegar. A Stella...
O Pepeu estica o pescoço e dá uma olhada “no material”.
_ Nossa, que gata!
_ É, é, ela é muito gata...me faz um favor, fica com ela no teu apartamento que eu não posso mais esperar.
_ Tá brincando?! Fala sério! É pra já, manda a gata!
Ele volta ao apartamento, nervoso.
_ Stella, olha só, eu me lembrei de um compromisso que eu não posso adiar de jeito nenhum e eu não posso mais esperar. O Pepeu ali, meu amigo.. vai ficar contigo no apartamento dele até seu primo chegar com a mudança.
_ Meu primo vai chegar com as chaves...
_ É, é isso, eu me confundi. Fica tranquila que ele é legal, tá bom? Prazer em te conhecer...
Ia falando e pegando as malas, a mochila, as chaves do carro e “gentilmente” empurrando a “moça” para o corredor. Enquanto o Pepeu aguardava, o elevador chegou.
_ Vai descer agora, Tércio?
_ Segura aí pra mim, Pepeu!
Trancando o apartamento, ele emburaca pelo elevador adentro, quando finalmente vem o alívio. Um aceno sem graça e as portas se fecham.
_ Uff... que é que isso?! Coitado do Pepeu... mas pensando bem, era ele ou eu...
Enquanto o elevador desce, uma preocupação surge. O dia da volta.
Mas logo ela se dissipa, afinal, agora o problema não era seu, era do Pepeu!!
*
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Créditos da imagem:
'0215', por 'Cia de Foto'
hehehe! Quero acompanhar estas peripécias. Abraços. Cláudia, até o parte II. Paz e bem.
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