Selecta amorosa
"O beijo", por Francesco Hayez.
SONETISTAS SUBLIMES
Para todos os sonetistas...
Sonetistas sublimes... No soneto,
Desenrolam o ritmo, rima e métrica,
Em emoção contrita ou mesmo tétrica,
Revolvendo o tal texto de Sol preto.
Em incensos de menta dos mistérios,
Fecundam os silentes negros versos...
Os sonetistas, vivos nos reversos,
Banham-se nos sonetos mais etéreos...
Escalo morros, pois, como alpinista,
Almejo muitas cousas sem desdém,
Em busca de um ou uma sonetista...
Não sei se sonetista tão sublime
Sou, mas sei que procuro assim alguém
Que comigo na rima rara rime!
FLAMAS INFERNAIS
Nas flamas infernais, nossas orgias...
Oh! Ah! Que gelo negro nos queimando,
E transformando nossas fantasias
Em sólido suor, tóxico brando!
Oh! Lençóis das selvagens nostalgias,
Volúpias incessantes terminando
Com nossas carnes podres tão vadias,
Em gritos virginais iniciando!
Os corpos em sublime transparência...
As almas já tingidas de pecado...
A luxúria transcorre em forte ardência...
Nas flamas infernais, fogo malvado...
As almas implorando em penitência
Por nós dois, um só corpo atormentado...
GEMA
De todas as pedras foste o meu rubi,
Imortal berilo, turquesa brilhante,
Meu perfeito amor, opala radiante,
A mais bela gema que assim conheci!
Receba os meus versos, ó meu diamante,
Safira sublime por quem eu morri,
Ímã, turmalina terrível que eu vi!
Levíssimo lápis-lazuli, que amante!
Voraz ametista, meu topázio e jade,
A ágata que manda em mim e me sustenta!
Desde os tempos priscos, citrino adorado.
Eu te quero, meu ônix, meu namorado!
Única esmeralda, anel que me atormenta,
Símbolo da pérola felicidade!
DEMÔNIO ANGELICAL
Ah! Demônio sangrento atormentado!
Por ti, minha vil mente só suspira!
Meu corpo intensamente cai e transpira
Ah! Demônio sangrento atormentado!
Nos negros olhos: cor viva do tédio
As vestes lutuosas, pretas, góticas...
Curvas no corpo tão belas e eróticas...
Nos negros olhos: cor viva do tédio
Mas na boca, há lascívia e até pureza:
Tu me beijas com tanta força e ardor,
E tu me falas coisas sobre o amor...
Com as coisas do amor casto e sublime
Não há nada no mundo que assim rime...
Ah! Lindo anjo repleto de nobreza!
"Der Kuss", por Gustav Klimt
ANTES, AGORA E SEMPRE
Quaresmeira de meu triste jardim,
Fincaste em mim inúmeras raízes,
Mas deixaste também mil cicatrizes,
Rugas que jamais, nunca terão fim.
Tronco magro que muito me fascina,
Tornando a vida suja e macilenta,
Somente a tua seiva me sustenta!
Somente tu és pulcra e grã-divina...
Antes, agora e sempre, só chorando...
Antes num quarto pálido e sem luz...
Agora acorrentado numa cruz...
Sempre e sempre, estará a boca sedenta
Gemendo unicamente um grito brando:
Somente a tua seiva me sustenta!
ECLIPSE TOTAL
Eclipse total! Lúgubre arrebol!
A Lua se embalsama de perfume,
E oferta mil presentes ao seu Sol,
O mais auspicioso e negro lume!
Apolo lentamente bem corteja
Sua irmã prateada e sensual...
Fogo nos olhos! Lâmpada que beija
Tudo formando eclipse tão total...
Eclipse total! São duas vis sombras!
Ó Sol, tu me enegreces e assombras...
Ó Lua, tu reluzes cristalina...
Eclipse total! Noite matutina!
Lua e Sol gigantesca profusão!
Um beijo de solene escuridão...
DOCE DESPERTAR
Chá vermelho, assim como o nosso Sol,
Cintilando as quentíssimas gargantas...
A tua voz escorre, tu só cantas
Enquanto em nada brilha o girassol...
Incensas-me com tuas cores tantas
E um aroma sublime do lençol
Que te revolves, lindo cachecol!
Mas nu ficais mais belo, sem tais mantas!
Oníricos são estes meus calores
E teus traços de lúgubres palores!
Nos teus braços eu entro em transe, em coma,
Suspirando por teu mádido aroma!
Dulcíssimo é, quão doce é despertar
Para mais um belíssimo sonhar.
BRASÃO
Palmas e mais louvores ao brasão!
Lá, moram meus diversos sentimentos...
Tem ele tantas curvas, movimentos
Da insígnia que me incensa de emoção...
Detalhes angulosos, fortes ventos,
Verdadeiros tornados sem razão...
Ó brisa deslizante, coração
Secando meus gigantes pensamentos!
Os gládios derramando ouro d’império...
Os arabescos soltos seguem pelo
Caminho dos caminhos do hemisfério...
E ele constitui pleno pesadelo
Embalsamando tanto o sonho etéreo...
E todos nós podemos, enfim, tê-lo!
Rommel Werneck
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