Novos poemas de Flá Perez
Poemas, por Flá Perez.
Evolucionismo ( Evolu(vel)ção)
Sou um animal
extremamente irracional
e eficiente.
Instinto, efeito hormonal,
que seja:
escolhi macho saudável, novo, belo
com gens à flor da pele
e produzi a prole forte
pra perpetuar a espécie.
Carma, Darwin, Deus,
whatever!,
devem estar contentes.
Sou animal que morde e cospe
a compreensão das linhas tortas.
Isso já não me importa tanto
( foi uma uma boa troca).
Enquanto me livrar
das frases fáceis,
da morte chata
e da vida certa,
ainda tenho sorte.
Geodésica
Você diz que nesse andar,
sou horizonte sempre
e não chego ao Algum Lugar.
Que serpenteio, bailo
versejo pelas ruelas,
que sou elipsoidal
e ando em círculos
nas paralelas.
Mas meu corte é a transversal
onde você caminha,
mesmo que eu trance as pernas.
Nem que se apaguem linhas,
ainda assim,
cabem perfeitamente em mim
as suas taras.
Quer saber de verdade, cara,
o que me dana?
Essa distância entre nós
ser muito plana.
O que me estaca, o que me mata,
é a menor distância entre dois pontos,
que é muito chata.
Andrógino
E foi inevitável
- como se me soubesse inválida
e me quisesse em festa-
que esse cacho doce
de uva roxa-em-sangue
caísse
nessa boca ávida.
Ai, deus pagão (como eu)
que apaga quem me ultraja,
e tinge em novo,
entalha
a pele-trama
da tela
agora entregue
e finca tatuagem
nos quadris,
nas pernas,
como quem nada quer!
Ai, Baco de Caravaggio,
Evoé, Evoé!!
Gingado
Gosto de me submeter
a esse homem fraco.
Entre minhas pernas tantas
e nos meus braços brancos
o torno poderoso,
até um pouco nobre.
Ele é sensível, covarde,
vagabundo,
tem músculos troianos,
pele transparente
e cabelos cor de cobre.
Gosto de me submeter
a esse homem nada heróico
e indiscreto.
Enquanto trabalho
ele dorme e mente
debaixo do meu teto.
Depois
com quadril mole
me fode
que nem preto.
*
Créditos da imagem: Olhares.com
A parte animal da família - Parte 4, por Silva
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