I Concurso Literário Benfazeja

Amor eletrônico



Crônica, por Mariana Collares.

Não quero mais romances mantidos pelo MSN. Aliás, quero a net para trabalho. Nada mais. A vida social, quero fora dela - no mundo real, onde as coisas têm cheiro, forma, cor, gosto. Onde um olhar indica mais do que um olhar frio de foto-bonita. Não quero o mundo irreal, onde tudo foi colocado para demonstrar perfeição, sucesso e felicidade. Todo mundo na internet foi fadado ao sucesso. Na vida real não. Nela somos mais um número. Não temos “Nick”, “avatar”, “codinome”. Na vida real temos RG e CPF e contas pra pagar. Temos obrigações, horários, mau humor e insucessos. As incertezas são mostradas pelas rugas que adquirimos, os cabelos brancos e a calvície que exibimos, e não ante um universo amorfo de seres “desconhecidos-conhecidos”, mas àqueles que habitam verdadeiramente o nosso espaço cósmico e efetivamente fazem alguma diferença no nosso espectro da mecânica-física.

Me quer? Entre em contato real. Não quer? Deixe espaço para o tempo passar. Afinal, o tempo precisa da estrada descoberta, sem trânsito de amores não resolvidos, malfadados ou inconvenientes. O tempo precisa de faxina pra passar, então saia à francesa! Não precisa nem dizer que se foi. A ausência física já dizia isso, embora eu tenha desejado realmente acreditar que o distante estava aqui, como física-quântica. Mas isso não me basta. Tenho corpo e vontade de toques. Tenho sono e ânsia de dormir num braço. Quero a conquista verdadeira, que chega 15 minutos mais tarde, mas chega. Quero jantares, cinema, mãos dadas. Quero beijos, não carinhas engraçadas numa tela branca dizendo um falso “te amo”. Aliás, amor não se faz com ausência. “Querida, vou passar uma procuração para um amigo meu te dar um colo, fazer amor contigo e depois te trazer chá com biscoitos na cama” - isso não existe! Quero um homem chegando em casa após um dia cansativo de trabalho e me dizendo pra trazer os chinelos, porque está cansado. E depois do banho e do jantar, quero um aconchego para ver TV ou ler um livro. Nada de almofadas. Quero o calor de um corpo.

Sabe o quê? Pra vida fictícia, estou atualmente “off”.


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Créditos da imagem: Olhares.com
Romance, por Doug Simão

Um comentário:

  1. É mesmo, Mari, essa maquininha entrou de tal forma em nossas vidas, que muitas horas acabamos por entrar e morar nela.

    E essa linha nem sempre é visível!

    Ótimo texto.

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