Prezado senhor G.,
Crônica, por Giovana Damaceno.
Há dias penso em escrever-lhe novamente para falar de minhas agruras neste país tropical. Com o fim do inverno – que aqui no Brasil nunca é exatamente frio – voltamos a ter dias insuportavelmente quentes e ainda estamos a dois meses do verão. Portanto, venho reiterar aquele meu antigo pedido para transferir minha morada para esta sua terra tão fresca. Sim, senhor G., quero fixar residência em Londres.
Falo desde muito jovem sobre este desejo, motivada pela invejável educação dos ingleses, sua pontualidade, rigor na formação de seus homens e mulheres, uma cidade organizada, onde tudo funciona, com transporte público eficiente, mesmo os trabalhadores menos favorecidos têm acesso a serviços que aqui no Brasil muita gente até já deixou de sonhar em ter um dia. Enfim, algo que gostaria de admirar mais de pertinho, o senhor me entende, não, senhor G.?
Depois de crescida e cada vez mais avessa à pressão, transpiração, abafamento e tudo o que provém do calor excessivo que faz por estas terras tupiniquins, apaixonei-me ainda mais pelos dias constantemente nublados e frios de Londres.
Ah... Como deve ser prazeroso usar sobretudo, botas, boinas, luvas e cachecóis, ter a pele sempre sequinha, fresca e perfumada. Como seria elegante não chegar suada e bufando a compromissos. Imagino a delícia de poder dormir diariamente aconchegada a edredons quentinhos, acordar disposta e sair para trabalhar sem levar leques e lenços na bolsa (porque o dia em que os esqueço, senhor Lord, não faz ideia do desespero).
Também deve ser muito agradável não depender – mesmo – de um ventilador permanentemente ligado na minha cara ou, no melhor caso, do ar condicionado funcionando sem descanso.
O senhor sabe, senhor G., minha relação com o calor tornou-se ainda pior depois das sessões de quimioterapia, que ficaram dois anos lá atrás, mas que continuam me menopausando até hoje, e antes da hora. Sinto um calor anormal durante a maior parte do dia, fora as ondas de quentura, que me acometem a qualquer momento, em qualquer lugar e me fazem passar muito mal.
Entenda-me, senhor G., não é que eu não goste daqui. Há muito o que dizer sobre o que me agrada por estas bandas de cá, mas seria chover no molhado, afinal, o senhor sabe muito bem o que há de melhor nas paragens brasileiras. Seria muito bom, por exemplo, se pudesse juntar num único lugar o que há de interessante nos dois: dias de sol pleno, céu azul, com temperaturas que não passem de 25 graus. Praias lindas, natureza exuberante, cidades urbanizadas e políticas públicas que garantam o direito de ser, ir e vir de todos. Claro que não existe nada perfeito, mas sonhar é possível.
Sem mais, senhor G., despeço-me, não sem antes descrever em que ambiente me encontro agora: com o calor de todo o dia de hoje, está impossível permanecer na sala, onde fica meu escritório, que mesmo tarde da noite parece um forninho, pois nela há incidência de sol a partir do meio-dia até que ele desapareça por trás dos morros. Por isso, desde o entardecer estou na cozinha, cômodo mais fresco, mas mesmo assim com o ventilador ligado aos meus pés, soprando diretamente em mim.
Agradeço sua prestimosa atenção, senhor G., e peço que considere meu pedido. Garanto-lhe que posso escrever maravilhas sobre Londres e sobre o senhor também, claro.
Com carinho e devoção, até mais ver – ou ouvir.
Senhora G.
Falo desde muito jovem sobre este desejo, motivada pela invejável educação dos ingleses, sua pontualidade, rigor na formação de seus homens e mulheres, uma cidade organizada, onde tudo funciona, com transporte público eficiente, mesmo os trabalhadores menos favorecidos têm acesso a serviços que aqui no Brasil muita gente até já deixou de sonhar em ter um dia. Enfim, algo que gostaria de admirar mais de pertinho, o senhor me entende, não, senhor G.?
Depois de crescida e cada vez mais avessa à pressão, transpiração, abafamento e tudo o que provém do calor excessivo que faz por estas terras tupiniquins, apaixonei-me ainda mais pelos dias constantemente nublados e frios de Londres.
Ah... Como deve ser prazeroso usar sobretudo, botas, boinas, luvas e cachecóis, ter a pele sempre sequinha, fresca e perfumada. Como seria elegante não chegar suada e bufando a compromissos. Imagino a delícia de poder dormir diariamente aconchegada a edredons quentinhos, acordar disposta e sair para trabalhar sem levar leques e lenços na bolsa (porque o dia em que os esqueço, senhor Lord, não faz ideia do desespero).
Também deve ser muito agradável não depender – mesmo – de um ventilador permanentemente ligado na minha cara ou, no melhor caso, do ar condicionado funcionando sem descanso.
O senhor sabe, senhor G., minha relação com o calor tornou-se ainda pior depois das sessões de quimioterapia, que ficaram dois anos lá atrás, mas que continuam me menopausando até hoje, e antes da hora. Sinto um calor anormal durante a maior parte do dia, fora as ondas de quentura, que me acometem a qualquer momento, em qualquer lugar e me fazem passar muito mal.
Entenda-me, senhor G., não é que eu não goste daqui. Há muito o que dizer sobre o que me agrada por estas bandas de cá, mas seria chover no molhado, afinal, o senhor sabe muito bem o que há de melhor nas paragens brasileiras. Seria muito bom, por exemplo, se pudesse juntar num único lugar o que há de interessante nos dois: dias de sol pleno, céu azul, com temperaturas que não passem de 25 graus. Praias lindas, natureza exuberante, cidades urbanizadas e políticas públicas que garantam o direito de ser, ir e vir de todos. Claro que não existe nada perfeito, mas sonhar é possível.
Sem mais, senhor G., despeço-me, não sem antes descrever em que ambiente me encontro agora: com o calor de todo o dia de hoje, está impossível permanecer na sala, onde fica meu escritório, que mesmo tarde da noite parece um forninho, pois nela há incidência de sol a partir do meio-dia até que ele desapareça por trás dos morros. Por isso, desde o entardecer estou na cozinha, cômodo mais fresco, mas mesmo assim com o ventilador ligado aos meus pés, soprando diretamente em mim.
Agradeço sua prestimosa atenção, senhor G., e peço que considere meu pedido. Garanto-lhe que posso escrever maravilhas sobre Londres e sobre o senhor também, claro.
Com carinho e devoção, até mais ver – ou ouvir.
Senhora G.
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Créditos da imagem: Site olhares - fotografia online
Amizade, por Rigel22.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi Giovana... não precisa ir tão longe, assim, amiga... Vá para o Sul, mais especificamente para Sta. Catarina...onde morei. à medida que eu ia lendo a sua crônica eu visualizava os lugares encantadores de lá, com praias lindas e clima ameno e agradável na maioria das estações, com exceção do verão que é mais quente e do inverno, que é mais frio. Assim mesmo, no verão você tem as praias no fim de semana para se refrescar e no inverno, a chance de usar e abusar de casacos, edredons, botas, luvas, cachecóis... Não é um sonho? Bora Giovana...
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