Distúrbio - capítulo 2
Leitores, o texto que se segue serve como degustação do meu primeiro romance, lançado em 2011 pela Editora Estronho. Os interessados em adquirir o livro deverão fazê-lo através da Livraria Estronho. Distúrbio
Cap. 2 - O Colégio de S. Tiago
Rossana frequentava aquele local de ensino há dois anos e ali ficaria outros seis para completar seu ensino secundário. Era a melhor escola da cidade e o fato de ser um colégio privado abrilhantava essa condição. As mensalidades altas de cada aluno serviam perfeitamente para cobrir os luxos que o diretor achasse necessários para o estabelecimento. O diretor Norberto Velosa era esbanjador, mas só o era em virtude dos seus alunos. Queria que cada um deles tivesse o melhor que lhes pudesse proporcionar. Era um bom sujeito, apesar de ter um aspecto de cientista louco e as crianças adoravam-no. Uma coisa era certa, quem frequentasse aquela escola, saía dali com uma hipótese redobrada de entrar nas melhores faculdades do país. Um aluno de S. Tiago era visto como um Menino Jesus nascido em berço de ouro. E era isso mesmo que aquela escola representava – um ninho de crianças ricas, inteligentes e com grandes oportunidades de um futuro surpreendente.
O colégio tinha, sensivelmente, 50 anos, mas continuava em ótimo estado de conservação. Passara por um frágil momento na década de 70, devido à má organização de um político que resolvera comprar a escola. Durante alguns anos, o tipo viu-se no direito de transferir as propinas para uma conta pessoal na Suíça, fugindo quando viu os seus cofres recheados. A bonita escola, nesse período de tempo, viu-se completamente abandonada. Os professores queixavam-se de salários em atraso e os alunos da falta de compromisso destes em dar a matéria necessária para a realização dos exames nacionais. Como seria de esperar, o sujeito nunca fora apanhado. Provavelmente, a Polícia Municipal recebera uns trocados por trás para abster-se do assunto e, incrivelmente, o caso nunca fora levado ao Ministério Público, apesar dos enormes pedidos dos pais que viram seus dinheiros desviados e seus filhos muito mal preparados. Entretanto, o Dr. Norberto Velosa, licenciado em Gestão, tomou o comando da instituição, conseguindo torná-la numa respeitável escola.
Perpétua vivera esse conturbado período, contava. Lembrava várias vezes aos filhos que assistira às maiores greves estudantis, tendo participado em grande parte delas. Em três anos, raramente teve aulas. Foi a chamada Época das Férias Eternas. No início, todos os alunos acharam piada, mas depois se viram confrontados com a falta de preparação escolar e assustaram-se. Perpétua gabava-se de ter estudado sozinha, sem qualquer ajuda de professores, para os testes e, portanto, considerava-se superior a todos. Fazia questão de jogar à cara de Rossana que ela era uma felizarda em ter tão boas condições e que, no lugar dela, chegaria à casa com melhores notas. Mal sabia ela que a filha era a melhor aluna do colégio. Rossana, pelo contrário, achava que a falta de ética e bom senso da mãe devia-se mesmo a isso. A falta de aulas tirou-lhe a educação, transformando-a num bichinho. Um bichinho bonito e apresentável, é certo, mas verdadeiramente arrogante. É claro que Rossana guardava estes pensamentos para si.
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Créditos da imagem: Site olhares - fotografia onlineRossana frequentava aquele local de ensino há dois anos e ali ficaria outros seis para completar seu ensino secundário. Era a melhor escola da cidade e o fato de ser um colégio privado abrilhantava essa condição. As mensalidades altas de cada aluno serviam perfeitamente para cobrir os luxos que o diretor achasse necessários para o estabelecimento. O diretor Norberto Velosa era esbanjador, mas só o era em virtude dos seus alunos. Queria que cada um deles tivesse o melhor que lhes pudesse proporcionar. Era um bom sujeito, apesar de ter um aspecto de cientista louco e as crianças adoravam-no. Uma coisa era certa, quem frequentasse aquela escola, saía dali com uma hipótese redobrada de entrar nas melhores faculdades do país. Um aluno de S. Tiago era visto como um Menino Jesus nascido em berço de ouro. E era isso mesmo que aquela escola representava – um ninho de crianças ricas, inteligentes e com grandes oportunidades de um futuro surpreendente.
O colégio tinha, sensivelmente, 50 anos, mas continuava em ótimo estado de conservação. Passara por um frágil momento na década de 70, devido à má organização de um político que resolvera comprar a escola. Durante alguns anos, o tipo viu-se no direito de transferir as propinas para uma conta pessoal na Suíça, fugindo quando viu os seus cofres recheados. A bonita escola, nesse período de tempo, viu-se completamente abandonada. Os professores queixavam-se de salários em atraso e os alunos da falta de compromisso destes em dar a matéria necessária para a realização dos exames nacionais. Como seria de esperar, o sujeito nunca fora apanhado. Provavelmente, a Polícia Municipal recebera uns trocados por trás para abster-se do assunto e, incrivelmente, o caso nunca fora levado ao Ministério Público, apesar dos enormes pedidos dos pais que viram seus dinheiros desviados e seus filhos muito mal preparados. Entretanto, o Dr. Norberto Velosa, licenciado em Gestão, tomou o comando da instituição, conseguindo torná-la numa respeitável escola.
Perpétua vivera esse conturbado período, contava. Lembrava várias vezes aos filhos que assistira às maiores greves estudantis, tendo participado em grande parte delas. Em três anos, raramente teve aulas. Foi a chamada Época das Férias Eternas. No início, todos os alunos acharam piada, mas depois se viram confrontados com a falta de preparação escolar e assustaram-se. Perpétua gabava-se de ter estudado sozinha, sem qualquer ajuda de professores, para os testes e, portanto, considerava-se superior a todos. Fazia questão de jogar à cara de Rossana que ela era uma felizarda em ter tão boas condições e que, no lugar dela, chegaria à casa com melhores notas. Mal sabia ela que a filha era a melhor aluna do colégio. Rossana, pelo contrário, achava que a falta de ética e bom senso da mãe devia-se mesmo a isso. A falta de aulas tirou-lhe a educação, transformando-a num bichinho. Um bichinho bonito e apresentável, é certo, mas verdadeiramente arrogante. É claro que Rossana guardava estes pensamentos para si.
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Imagem 1, por Fulano de Tal .
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