Edifício Liberdade
Poemas, por Marcelo Sousa.
Ele edifica ações,
deixa o concreto ereto,
alisa os seios maduros
das vigas que muito lhe pesam
e por dentro do esqueleto
passam-lhe cabos amarelos,
vermelhos, azuis, verdes e pretos,
cabos que se enfiam com força
e com toda confiança na estrutura
feita para o entrar e sair das gentes
que é como o sexo, bem guardado,
reforçado por janelas, cortinas,
muros duros que se retesam
e rimas que se constróem
sempre no sentido vertical
sempre dividindo o bem e o mal,
o asfalto, o muro alto, o edifício
que não verga, que se enxerga
como arte muito útil e prática
fruto da matemática
(ou má temática)
de algum arquiteto que talvez
querendo ser poeta, construiu
um prédio, um conceito, um sonho
feito de cimento e tédio (mas que remédio?)
ao acordar o arquiteto, viu que não era poeta
e repentinamente seu sonho ruiu
que maldade, tijolos voaram
como pombos cinzentos, feitos de pedra
e em pleno centro da cidade
mais um prédio caiu.
Nenhum comentário