I Concurso Literário Benfazeja

Abóboras


Crônica, por Mariana Collares.

Talvez por ser menina-da-cidade impressionei-me sobremaneira ao me deparar com um campo de abóboras. Enormes, alaranjadas, suculentas, estufando em saúde a natureza que lhes é ínsita, como um verdadeiro presente dos deuses, eis que me deparei com aquela paisagem marciana em meio ao nada e fiquei sem palavras. Nunca tinha visto um campo de abóboras.

Saí, então, correndo ao redor delas, tanto quanto me era possível correr sem cair, tão impressionada estava e tantas eram as abóboras, e percebia algumas de tamanho incomum para alguém que não entende absolutamente de abóboras, já que nem comer como muito, a não ser, e em tempos longínquos, o doce de abóbora que minha avó fazia quando era pequena, reservando-o em potes de café para os dias de inverno, na despensa. E isso já vai longe...

Então quando me deparei com aquela paisagem surreal não pude crer fosse o nascimento das abóboras algo tão especial. Mas era. Ao menos para mim, que costumo achar tudo sobrenatural, até hoje, quando o tempo já deveria ter feito com que meus olhos ficassem acostumados... E não sei se por inocência ou resignação nunca me acostumei com as abóboras.

Num campo verde e quase sem distinções, eis que surge um bulbo, ou raiz, ou sei lá o nome que a botânica as chame... O que importa é que no meio do nada, voilá: aparece uma abóbora. No início, nada. Quase não entende bem, alguém desavisado como eu. Surge um broto em forma de lágrima, verde, miúdo, quase sem qualquer desatino, e então um dia, ei-lo belo e alaranjado em sua formosura e polpa. Nasce uma abóbora. E quando achava que aquilo era tudo de melhor que poderia divisar, eis que vi nascerem outras, e tantas e quantas podem nascer no meio do nada, ou seja, infinitas. O que me faz pensar que se Deus tira do nada uma abóbora, imagine o que poderia tirar de um pouco que fosse... Não é maravilhoso o mistério da vida?

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