I Concurso Literário Benfazeja

O mel secreto





Crônica de Marcelo Sousa.


Aos dezessete anos ela te olha nos olhos sem titubear, ela te ouve e te toca com a ponta dos dedos, e quer conhecer a tua casa, quer saber da tua vida, e descobre o caminho do teu quarto, e te deixa chupar-lhe os peitinhos duros.
Enquanto ela, lá longe, no colo do pai aflito e irado, te olha com um breve sorriso safado e soletra em voz baixa: "Foi gostoso demais!
Ela abre os botões da camisa num vagar de milhões de anos. Ela te pega pela nuca e acaricia enquanto você perde o fôlego, a língua queimando sobre aquela pele morna. E aperta seu pênis ereto por cima da calça. E te fala coisas que você, do alto dos seus trinta anos, jamais tinha ouvido.

E quando você, em êxtase, diz que a ama, ela grita em desespero, faz escândalo, chama a mãe e a polícia. Você vai algemado para o distrito, o delegado já babando de tesão, querendo foder você com força, por trás.

Cabeça baixa, safanões dos populares, ignorados pelos meganhas. As velhas te chamam de anticristo! Você segue seu rumo, sua anátema, seu armagedom. Enquanto ela, lá longe, no colo do pai aflito e irado, te olha com um breve sorriso safado e soletra em voz baixa: "Foi gostoso demais! Gostoso demais!"

E você querendo responder: "Maldita! Puta!" (...) Apenas cala, e pensa consigo mesmo: "Eu te amo! Te amo!"

Ah, não há demônio mais insidioso que uma debutante, uma jovem perfumada de leite e fel. Mas todo o risco vale, pois é naquela colméia maldita que se encontra o mais delicioso mel!

*

- Trecho de "A Colméia", livro de contos e crônicas. [Work in Progress]

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