I Concurso Literário Benfazeja

Homenagem a Jorge Amado



Artigo de Salgado Maranhão.

A exuberante presença do romancista Jorge Amado no panorama da literatura brasileira do sec. XX, trouxe um enorme contributo ao âmbito da linguagem e do debate de questões raciais até então sublimadas.

O arejamento instaurado a partir da Semana de Arte Moderna, em 1922, encheu o Brasil de entusiasmo criativo, especialmente o Nordeste, que elencaria na década seguinte, a mais importante linhagem de ficcionistas brasileiros.

Surgia, quase na mesma geração, José Américo de Almeida, Raquel de Queirós, José Lins do Rêgo, Graciliano Ramos, Adonias Filho – e o próprio Jorge Amado.

Porém, à parte as distinções de estilo, os demais romancistas do ciclo nordestino, mantêm uma certa coerência na temática e no manejo da linguagem, que se ajustam à maneira de falar de toda uma região. Em cada um desses autores, é o Nordeste em sua vasta cultura que se faz representar, com pouca diferença de um estado para o outro.
Ao contrário disso, Jorge Amado é o Romancista da Bahia, aquele que é universal, justamente, por contar a sua aldeia, como queria Dostoiévski.

Nenhum escritor reinventou a Bahia como ele, nem mesmo os cientistas sociais da sua geração ou da anterior, que se esmeraram na busca da exatidão de fatos históricos e culturais. A Bahia de Jorge Amado é mítica, queimada pelo sol da raça negra, que deu ginga, amor e humor a uma terra que congrega seus litorâneos para a mística e para a vida mansa. Numa edônica atmosfera de luxúria tropical, aporta em sua prosa uma enorme legião de tipos humanos, que não representa apenas o lado social periférico que a elite rejeita, mais que isso, Jorge os transforma em figuras sedutoras e até mesmo apaixonantes em suas autênticas contradições.

Durante décadas, em sua longeva trajetória de sucesso, nenhum outro escritor brasileiro o alcançou. Traduzido para mais de trinta línguas, conheceu em vida o que todos almejavam. Por isso, também, teve que enfrentar duras críticas ao seu estilo e à sua abordagem na questão da negritude. Do estilo, criticaram-lhe a verve redundante e as recorrências ao mesmo tema; da negritude, acusaram-no de exacerbar em suas obras, particularmente, a sexualidade da mulher negra, gerando um estereótipo degradante. Este, inclusive, é o aspecto de maior rejeição à sua obra, nos dias de hoje, na comunidade afrodescendente. E pode ter sido a causa do ostracismo aos seus livros de pelo menos uma década sem novas edições.

Seja como for, é impossível negar a enorme presença desse autor no imaginário do povo brasileiro. Sua hábil construção de personagens só é comparável aos grandes do passado, como Machado de Assis e Lima Barreto. Além disso, as críticas que lhe são desferidas, se por um lado se ancoram em algum fundamento, por outro, não são de todo justas, porque, dá lição de moral não é papel do ficcionista.

Como cidadão, Jorge Amado foi um homem ajustado à sua época e às suas demandas. Comunista de primeira hora, aliou-se às causas mais urgentes do seu tempo, sujeitando-se(juntamente com a sua amada de vida inteira, a também escritora Zélia Gattai)a exílios e restrições diversas em prol dos seus princípios. Extremamente afetivo, fez jus ao sobrenome Amado: mimou e foi mimado pelos amigos e pelo povo da Bahia e do Brasil, sua famosa generosidade abriu caminhos para muitos que se iniciaram no incerto mundo das letras(inclusive,a única coletânea do poeta Agostinho Neto, lançada no Brasil,tem prefácio seu).

De modo que, as comemorações que se levantam no centenário do seu nascimento, são o justo prêmio a um extraordinário escritor que amou a literatura e o seu país mais do que tudo.

Salgado Maranhão

Um comentário: