I Concurso Literário Benfazeja

Mãe e filha







Crônica de Mariana Collares.


Uma mulher senta-se em frente à minha mesa. Pede ao garçom algo para comer e beber. Dois minutos depois, chega à mesa uma menina que imagino tenha uns 17 anos. Aparentam ser mãe e filha – fato que se confirma em seguida:

Agradeço sinceramente pelos sete minutos de puro silêncio entre mãe e filha, enquanto aguardam os pedidos. A menina faz beiço.- O que vamos comer, mãe?

- Eu já pedi ao garçom.

A menina esbraveja, visivelmente estupefata:

- Você pediu por mim?

A mãe assente, calmamente e surpresa com o espanto da filha.

- Como assim, mãe? Você nem sabia o que eu queria comer! O que é que você pediu? Tem o quê dentro?

Segue-se uma discussão. Muito bate-boca, muito mimo, tudo isso ante o meu olhar atento e entediado. Fico mirabolando mil desculpas para não querer ter filhos, só para não ter que passar por esta cena lamentável. A mãe quase não responde. Mantém-se, a maior parte do tempo, calada, esperando o prato. A menina então chama o garçom. Quer algo pequeno para comer.

- Uma empada? - pergunta o garçom.

- Não, menor – responde.

- Mini-quiche? – retoma.

- Menor. – diz a menina.

O garçom pára, pensativo. Olha para o colega, pergunta-lhe algo. Sai. Volta.

- Pão-de-queijo? – pergunta.

- É pequeno? – retruca a moça.

- Bem pequeno – afirma.

- Pode ser, então.

Agradeço sinceramente pelos sete minutos de puro silêncio entre mãe e filha, enquanto aguardam os pedidos. A menina faz beiço.

O garçom traz o pão-de-queijo e um suco. A menina come, pausadamente. A mãe ainda aguarda o prato. O garçom se desculpa pela demora.

Após comer, a menina afasta o prato e bebe o suco. Acho que terminou. Mãe e filha permanecem num silêncio pesaroso.

O prato esperado vem. Bonito, quente, mergulhado em queijo, cheira bem. O garçom o coloca entre as duas. A menina olha para o prato, pega um garfo, finca na torta, abre-a ao meio para ver o recheio. Então resolve parti-la em duas fatias. A mãe se serve. Prova e olha para a filha, com um sorriso de vitória. A filha, séria, olha para a mãe. Não fala nada. Apenas pede ao garçom mais um prato e serve-se de metade da torta. Pede mais um suco. Depois de tudo isso, pede um café e um doce. Não tenho certeza, mas acho que arrematou a refeição com mais um doce ou um chocolate. Mas não parou de comer.

Depois disso, risos, brincadeiras.

Sim, são mãe e filha. O embate é presente, mas o amor também é.

Tanto melhor...


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