Poemas de Gilliard Alves
de Gilliard Alves
O Universo é um Cárcere
Preso dentro de um corpo neste hospício que é o Universo,
Escravos dos instintos racionais e emotivos;
Cegos por explicações; ávidos por razões e motivos
Que provem que tudo não jaz no Nada sempre imerso.
Estes clorofórmios que não adormecem o vazio do ser,
Que geme, apalpa, suplica por algum devaneio apocalíptico.
O Oculto ao se autorevelar só desmembra outro entardecer
Para os cumes da alma, tornando-nos num caos intrínseco.
Acatar e seguir os hipócritas, vazios e “úteis” valores sociais;
Amando o que em si nunca foi, mas que se deseja que exista.
Todas as coisas que fazem ou não fazem sentido são tão irracionais
Quanto todas as denominadas evidências, conceitos, ou meras pistas.
Os Caminhos e as Palavras foram criadas a fim de que insistas
Em acreditar em teus iluminismos ilusórios, porém funcionais.
Casulos Rompidos
Beije os significados abstratos de tuas ações tão viris,
Perante as mãos do Oleiro que choram tuas rendições;
Os corpos desvanecidos dos Livros para quem não sorris,
E tua alma se martiriza em tuas aporéticas contradições.
Adormeça e hiberne nos braços decepados da volúpia de teu casulo,
Pois há um abismo entre tuas ideias e suas dúbias representações.
Enxerta-te no Samsara do Irreal³, do Plausível², e das Sensações;
Sejam os trovões do futuro, sejam os relâmpagos do que não formulo!
Este torpe teatro de sombras bípedes com suas máquinas abstratizáveis,
Neste tumulto calado de gorjeios pictóricos de verbalizações filosóficas
Ainda respinga sangue nos vespertinos jornais impressos reutilizáveis.
Dançai ó Agonia nas glebas neurais do Empírico e do Ilógico!!!
Adentrai nas noturnas palavras inebriadas de cicutas impensáveis,
E o Banquete festeja nas vísceras do Pai decapitado pelo filho pródigo.
Evocações de Amar
Minha ilusão sempre evoca inutilmente o Amor
O qual é o abismo por todos os néscios volvido.
O querer só busca o não-querer sedutor e desconhecido,
Entranhado no ser pelo medo constante de sentir dor.
Nesta virtude são aspergidos os fragmentos ocultos
De todos os gestos abandonados no íntimo das Horas.
As Lembranças dos beijos são o palco dos vultos
Que tecem as febres de teu desejo que tanto ignoras.
O cair da Noite resplandeceu um agonizante candelabro
Que tu escondes debaixo dos leitos difusos de teu sorriso,
O qual imola as verdades do que se julgou ser impreciso,
Na porta de meu ser para o amor não há mais brechas e nem abro.
Os oráculos dos Traidores profetizam os augúrios do lume
Que mutila as súplicas do Vácuo que caminham em tua alma.
Abandonaste meu Pensar ao abraçar as faces do perfume
De meu Ser que em teu corpo esculpiu a ilusão da calma.
Esta Mágoa tangível adubada pela tua ausência,
Que sempre inicializa os eternos términos de meus sonhos.
Não amar, não odiar e nem nada sentir é a essência
Onde anseio em mergulhar e vomitar meus eus tão tristonhos.
Quando te amei, vi-me em teus olhos brilhantes de primaveras,
Mas uma nuvem encobriu, e revelou a luz ofídica de teus semblantes.
Nossas mãos eram enlaçadas por vontades mentirosas e distantes,
E meus Sonhos se afogaram nos rios exânimes de todas as quimeras.
Teu Reflexo na água despia tua alma tão incestuosa de mentiras;
Tuas lágrimas ensaiadas eram setas de venenos hipnóticos.
A Chama de meu coração murchou no corpo em que sentiras
A brandura real de meus sentimentos paradoxalmente lógicos.
Quero em meus templos exorcizar teus afagos de Judas,
Em que despi meus segredos por te idealizar como baluarte.
Buscar as multidões de nossa própria Solidão é a sublime Arte
Perante a qual as vozes do Cosmos se tornam em capelas mudas.
Insana Existência
Acordei. Onde acordei? Acordei de quê? Por que acordei?
Preciso me levantar, preciso viver. Mas o que é a Vida
De fato para que eu a ame, e posso vivê-la? Não o sei,
A verdade morta é uma estrela a rugir construindo feridas...
Minhas ideias polígamas são uma catarse de bílis;
Vede em minhas mãos as cinzas de quem eu fui!
Todos os caminhos buscando um refúgio são sífilis
Disfarçadas, e coagidas por nomes que te constitui.
Quem tu és, a fim de que outro tu possas te tornar?
Quando este sadomasoquismo de se viver vai nos exonerar?
Há os abismos infinitos e ignotos entre os “eus” de tua alma
E os coveiros de tuas idealizações que te prometem céu e calma.
Mas tudo jaz morto neste vil mundo tão porco de canalhas,
Nestes versos que exalam lúcidos e realistas pessimismos;
Quando nos tornamos escravos de nossos próprios abismos,
E dissecam nossos corpos com conceitos hediondos de fornalhas.
Fantoche dos amigos, do Governo, do Destino, e do sombrio inconsciente;
Ignóbil soldado ensanguentado por guerras que nunca findarão;
Estercos são tuas palavras e ações no mercantilismo dessa vida doente,
Nessa sociedade paranoica, nesta existência cuspidora de erros e podridão.
Lambendo os mamilos do pecado e dos misticismos,
Nesta geração tão divinizadora da Ciência e do Progresso;
Presos no Domingo alcoólico com suas alegrias e cinismos,
São cobaias do Conhecível e Incognoscível por onde não regresso.
Sei que cada pessoa e algo são e-videntes esfinges
Que podem nos boicotar, nos engolir, e nos iludir.
Mentimos para nós mesmos a fim de confundir
A realidade em si com a subjetividade que nos atinge.
O Mundo e a Vida são múltiplos manicômios transmutados
Os quais fingem que somos as belas primícias da evolução.
Segurança e Liberdade vindos de tudo o que está ao nosso lado
Tanto queremos; é vão seguir os caminhos da Lógica e do Coração.
Tenho 32 anos de idade. Sou formado em Letras, mas com uma forte tendência e paixão pela filosofia. Escrevo contos, poemas e ficções desde os 13 anos de idade, pois sempre fui introspectivo. Meu amigos sempre foram os livros, a imaginação, o pensar, e a o escrever. Adoro escritores como Dostoiévski, Faulkner, Nietzsche, Marcel Proust, Gilles Deleuze, Kant, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, David Hume, os filósofos pre-socráticos, os filósofos da corrente existencialista do inicio do século XX, Florbela espanca, Sylvia Plath, Dylan Thomas,Goethe, Richard Dawkins, Spinosa, etc.
Todos eles me ajudaram a desenvolver minha própria escrita a qual denomino "desfragmentação onírica".
Adoro música, principalmente rock, mpb, e música sinfônica. Nasci no ano em 18 de abril de 1980, 3 dias antes o grande escritor e filósofo Jean Paul Sartre havia morrido.
Trabalhei durante vários anos na CEF de minha cidade.
Trabalho atualmente lecionando Português em um colégio particular em Acaraú.
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Créditos da imagem
Na Sombra, por Ricardo Fernandes
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