Sobre as coisas que acontecem de repente

Crônica de Erica Gaião
A vida é um amontoado de coisas que acontecem dentro e fora do tempo; dentro e fora da gente. Mas nem sempre conseguimos explicar porque acontecem e passam. Passam e é só isto que fica: Passado.
De repente você se dá conta do quanto é saudável se apaixonar e mais saudável ainda desistir de sofrer, quando sofre sabe-se lá pelo quê, simplesmente porque se acostumou com isso. E temendo outro efeito de-vasta-dor, se recolhe, esconde o amor dentro de uma caixa, encolhe a sensibilidade, resseca o fluxo das entregas espontâneas e deixa de fluir, de se misturar, de se completar. Não se permite sair do lugar, porque já aprendeu – dentre tantas coisas inúteis e desnecessárias que aprendemos todos os dias – adormecer a dor e anestesiar o sofrimento. Sabe, a verdade é que a gente se acostuma com a dor quando ela é reincidente, entende? Quando ela vem, vai, vem, vai e você fica. Fica engolindo desacertos, mastigando ausências compulsivamente, achando que é destino esse desatino todo. Ela vem, vai, vem, vai e você fica. Fica feito ratazana revirando o lixo emocional, analisando cada farelo, cada migalha; roendo até os ossos dessa dor dilacerante, para compreendê-la na sua totalidade e tentar descobrir onde foi que errou, sem lembrar que, algumas vezes, as coisas não se reduzem a uma explicação qualquer, muito menos aos erros e acertos. Algumas vezes, as coisas simplesmente não são; não só por não se encaixarem no outro, não se encaixarem em você, mas, por divergência ou desistência mesmo. Não são, porque não querem, não podem, não conseguem ser. Não são, porque existir por si só dá um trabalho danado, imagine existir por você e com o outro, tudo ao mesmo tempo? Há os que acreditam que amor é isto: Existir pelo outro. Eu, particularmente, acho que não é bem assim, não. Existir é abstrato demais para alguém conseguir abraçar dois sem se sentir pela metade, entende? É preciso mais tempo para aprender a ser grande ou espaçoso o suficiente a ponto de não precisar reivindicar mais espaço. Mas tem gente que acredita. E acreditando que existe pelo outro, quer que o outro faça o mesmo. Exige demais, precisa demais, mas nem sempre o outro, que também tem as suas limitações, consegue oferecer o mesmo.
Uma coisa é fato: Amor não se encaixa em exigências. E pela grandeza que carrega nos seus múltiplos conceitos, inevitavelmente, esbarramos em alguns limites quando decidimos sentir e explorar as suas possibilidades, ainda que a sua autonomia não nos permita limitá-lo. O amor pode muito e nós podemos pouco, entendeu a diferença? Às vezes somos rasos demais para dar conta da sua profundidade e é exatamente aí que a coisa afunda. Por outro lado, de que adianta tentar explicar aquilo que mora na casa dos sentimentos? Amor também faz parte desse amontoado de coisas que compõem a vida, mas não cabem em explicações. Amor a gente sente e é só isso.
E quando o encontramos é assim: De repente! De uma hora para outra, quando você se dá conta de que não é mais um, porque se vê inteiro no outro, mesmo não sendo pelo outro. Quando você decide, com toda segurança do mundo, percorrer caminhos desconhecidos, sem desejar voltar para refazer a rota. Quando você ouve aquele barulhinho bom de coração fazendo festa, e sente as pernas bambas, de quem chega ao final da festa exausto de tanto dançar ao som desse barulhinho bom, exibindo na boca um sorriso gigante de quem não deseja sair do lugar, só para não perder cada segundo de felicidade. E aí, também de repente, você se dá conta de que inverteu as coisas: Desistiu de sofrer, porque guardou a dor na caixa e libertou o amor!
Aí…
De repente você se dá conta do quanto é saudável se apaixonar e mais saudável ainda desistir de sofrer, quando sofre sabe-se lá pelo quê, simplesmente porque se acostumou com isso. E temendo outro efeito de-vasta-dor, se recolhe, esconde o amor dentro de uma caixa, encolhe a sensibilidade, resseca o fluxo das entregas espontâneas e deixa de fluir, de se misturar, de se completar. Não se permite sair do lugar, porque já aprendeu – dentre tantas coisas inúteis e desnecessárias que aprendemos todos os dias – adormecer a dor e anestesiar o sofrimento. Sabe, a verdade é que a gente se acostuma com a dor quando ela é reincidente, entende? Quando ela vem, vai, vem, vai e você fica. Fica engolindo desacertos, mastigando ausências compulsivamente, achando que é destino esse desatino todo. Ela vem, vai, vem, vai e você fica. Fica feito ratazana revirando o lixo emocional, analisando cada farelo, cada migalha; roendo até os ossos dessa dor dilacerante, para compreendê-la na sua totalidade e tentar descobrir onde foi que errou, sem lembrar que, algumas vezes, as coisas não se reduzem a uma explicação qualquer, muito menos aos erros e acertos. Algumas vezes, as coisas simplesmente não são; não só por não se encaixarem no outro, não se encaixarem em você, mas, por divergência ou desistência mesmo. Não são, porque não querem, não podem, não conseguem ser. Não são, porque existir por si só dá um trabalho danado, imagine existir por você e com o outro, tudo ao mesmo tempo? Há os que acreditam que amor é isto: Existir pelo outro. Eu, particularmente, acho que não é bem assim, não. Existir é abstrato demais para alguém conseguir abraçar dois sem se sentir pela metade, entende? É preciso mais tempo para aprender a ser grande ou espaçoso o suficiente a ponto de não precisar reivindicar mais espaço. Mas tem gente que acredita. E acreditando que existe pelo outro, quer que o outro faça o mesmo. Exige demais, precisa demais, mas nem sempre o outro, que também tem as suas limitações, consegue oferecer o mesmo.
Uma coisa é fato: Amor não se encaixa em exigências. E pela grandeza que carrega nos seus múltiplos conceitos, inevitavelmente, esbarramos em alguns limites quando decidimos sentir e explorar as suas possibilidades, ainda que a sua autonomia não nos permita limitá-lo. O amor pode muito e nós podemos pouco, entendeu a diferença? Às vezes somos rasos demais para dar conta da sua profundidade e é exatamente aí que a coisa afunda. Por outro lado, de que adianta tentar explicar aquilo que mora na casa dos sentimentos? Amor também faz parte desse amontoado de coisas que compõem a vida, mas não cabem em explicações. Amor a gente sente e é só isso.
E quando o encontramos é assim: De repente! De uma hora para outra, quando você se dá conta de que não é mais um, porque se vê inteiro no outro, mesmo não sendo pelo outro. Quando você decide, com toda segurança do mundo, percorrer caminhos desconhecidos, sem desejar voltar para refazer a rota. Quando você ouve aquele barulhinho bom de coração fazendo festa, e sente as pernas bambas, de quem chega ao final da festa exausto de tanto dançar ao som desse barulhinho bom, exibindo na boca um sorriso gigante de quem não deseja sair do lugar, só para não perder cada segundo de felicidade. E aí, também de repente, você se dá conta de que inverteu as coisas: Desistiu de sofrer, porque guardou a dor na caixa e libertou o amor!
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Créditos da imagem: Olhares.com
Caixinha de afecto, por Isabel
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