I Concurso Literário Benfazeja

Alex Azevedo Dias



Alex Azevedo Dias é niteroiense. Escritor nas linhas e psicólogo nas entrelinhas. Graduado em psicologia pela UFF e com formação em psicanálise.

Desde a época da faculdade, escuto que meus textos eram mais romanceados do que relatórios técnicos. Já no primeiro período, na disciplina de antropologia, pediram aos alunos que descrevessem fatos cotidianos como se fossem produções alienígenas, distantes da nossa realidade, de espanto e inquietação. A ficção rendeu, no mínimo, boas risadas. Mas foi numa matéria de desenvolvimento que, ao ser solicitado a observar, escondido, crianças brincando, eu resolvi dar asas à imaginação, permanecer em casa mesmo, inventando uma história. Ao lê-la em sala de aula, os colegas, unanimemente, consideraram o meu texto um romance, com certo conteúdo dramático, e pouco ou nada científico. Foi aí que me dei conta do meu compromisso com a literatura. Desde cedo fui mordido pela psicanálise, pelo teor de ficção nos relatos clínicos. E, sem saber, justamente pelo amor à psicanálise, nesse aspecto, já tinha sido mordido pela literatura, muito antes da própria psicanálise. Sem ela, a literatura, não teria escolhido os meandros psicanalíticos, nem me aventurado em seu ficcionismo. Afinal, o único prêmio que Freud recebeu não foi em medicina, psicologia, nem em outra categoria científica. Freud ganhou o prêmio Goethe de literatura pelo conjunto de sua obra. Foi num final de análise pessoal que comecei a escrever contos quase que compulsivamente. Minha cura na psicanálise foi ser infectado pela literatura. A partir daí, fui aprimorando, a literatura tomando conta do meu corpo progressivamente, sem volta e, por isso, hoje estou aqui, na Benfazeja. Compreendo a literatura como um estar dentro e fora simultaneamente. Um estar dentro sem entrar. Estar fora sem sair. Quando eu escrevo, as histórias vêm me visitar. Convido-as a entrar, mas elas já estavam dentro sem que eu soubesse. Elas destrancam a porta sem que lhe batam. Não tocam a campainha. Saem de fininho, à francesa, sem que se despeçam. Novos universos se descortinam ludicamente, mas sem que se desembaracem do último véu. Ao escrever, desmaterializo a verdade dos meus afetos para que os leitores - compositores da cena real - rematerializem a vida que pulsa em cada letra. Escrevo dentro para criar o fora. Mergulho do lado de fora para respirar dentro. Escrevo para reinventar o real. Leio no real para me transformar em ficção.

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