I Concurso Literário Benfazeja

Poemas de Marcelo Sousa



Marcelo Souza



HUMANO

Tem fome?
Tem sede?
Tem culpa?
Tem medo?
Tem segredos?
Tem uma chaga queimando
Logo abaixo da cintura
Por baixo de todos os panos?
Parabéns, pobre criatura
Pois acabastes de descobrir
Que és humano,
Demasiadamente humano.



QUANTAS PONTAS TEM AS ESTRELAS?

Quantas pontas tem as estrelas?
Alguém já se deu o trabalho de contá-las?
E se forem adornos dos deuses?
E se forem colares de contas?
Talvez sejam abelhas em chamas
ou simples mariposas brancas
voando tontas...

Houve quem as tentasse contar
e até poetas capazes de ouvir estrelas.
Eu, que sou bronco, e muito franco
(sou do interior de mim mesmo)
não julgo saber muita coisa delas.
Sei que brilham porque são necessárias:
toda noite a Senhora Lua as acende como velas
e de manhã vem o Senhor Sol e sopra várias
porque à luz do dia não é mais preciso tê-las.

São tão brilhantes, e tão belas
que nossa vontade é estender as mãos
e catá-las uma a uma, e retê-las
como crianças que pegam vaga-lumes.
Assim são os que amam:
No céu, até o ponto de luz mais singelo
já é desculpa pra iluminar seu interno negrume
porque amantes são bobos, e temos que os desculpar
pois quem ama tem a necessidade natural de brilhar!



DIVAGO

Divago
Ditongos me hiatam.
Aparta-me de toda rima rica.
Afasta de mim este cálice.
Traga-me odres de vinho e fel.
Desato o fecho da prosa.
Meu canto é espada e broquel.
Nada de rosa vermelha para as moças.
Nem dedos tamborilando a fina bossa.
Quero calma de copo de pinga.
Olhar a ginga dos quadris ao longe.
Estou velho para o flerte.
Mas não me falta a mão forte.
Pra segurar nas ancas da rima boa.
Divago. Como é bom estar à toa.
Delongo em milongas úteis.
Adoro subir montanhas.
Porém melhor é descer escadas.
Bem fundo, mais baixo.
Comer um cacho de uvas
Enquanto Roma jaz incendiada.
Dar as mãos a Daniel na cova dos leões.
Recusar-se a rolar os dados, girar piões.
Nadar em poças de calma.
A alma esvaziando-se calada.
Não há coisa mais eficiente
Que não fazer absolutamente nada.



ERRA AGORA

Erra agora.
E mesmo que erre sempre
Nunca será o bastante.
Tudo é rascunho.
Só morrer é definitivo.
(Por enquanto.)

Nenhum comentário