Sementes e armaduras
Crônica de Leila Krüger.
Por que a gente tem que envelhecer?
Se em algum lugar da alma remanesce sempre aquela criança, aquele adolescente, aquela semente recém começando a brotar sem medo de mirar o céu.
E viver de uma forma simples e cândida era bobagem, e acreditar em sonhos absurdos, pueril.
Sorrir, abraçar, brincar todo dia era bobo?
Acho que somos mais gente antes de sermos adultos. Antes de vestirmos a pesada e antiga e enferrujada armadura das pessoas que sabem viver. Das pessoas que sabem falar, que sabem fingir e que sabem fazer exatamente o que se espera que elas façam.
Creio que eu ainda tenha oito, ou quatorze, ou dezesseis anos no máximo. E essa armadura ficou muito grande, estou procurando preencher meus vazios. Eu um dia não era coberta de titânio. Eu um dia podia erguer os braços mais fácil e pular mais alto. Um dia achava que não havia tantos ecos. Dentro e fora de mim.
Eu hoje acordei sentindo saudade daquela remota imagem animada que guardo na alma. Que você também guarda, que todos guardam e alguns jamais encontram novamente.
Aquela imagem sou eu.
E eu não posso me esquecer de quem eu sou.
Eu sou livre. Livre! Eu preciso de amor, diversão e fé. Deus um dia esteve mais perto. Eu um dia estive mais ciente das coisas belas.
Mas a gente não tem que envelhecer tanto.
O que envelhece, mesmo, é a alma. O resto apenas se transforma.
E eu quero uma alma, de agora em diante, sem rugas e sem cabelos brancos.
Eu quero nos olhos o brilho dourado de algo que renasce sempre.
Eu não quero armaduras.
Eu quero amar... crua.
Um dia...
Quando eu for outra vez quem eu sou.
*
Créditos da imagem:
We Heart It
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