I Concurso Literário Benfazeja

Voltando à infância, de novo




Aos 45 anos, já na reta de completar meio século de vida, eis que me chega uma surpresa na tarde do meu aniversário: uma bicicleta! Utilitária, com cestinha e acertada na cor: vermelha. O presente faz parte de um projeto de saúde, iniciado ainda em novembro, após me dar conta de que se fui capaz de me curar de um câncer, sou também capaz de cuidar de outras questões mais fáceis, como encarar uma rotina de atividade física permanente. E a bicicleta foi uma das alternativas pensadas, não para a prática esportiva, mas para que possa, aos poucos, substituir o carro em tarefas leves.

Por que, então, voltando à infância?



Ganhei minha primeira bicicleta aos cinco anos, do Papai Noel. Acordei de manhã e lá estava ela, na sala, em cima dos meus sapatos. Era verde e tinha rodinhas laranja. Como morava em uma casa de quintal grande, aprendi ali mesmo a me equilibrar, sempre com um irmão segurando o selim, e o processo foi rápido.

Dali em diante, vivi sobre duas rodas, substituindo a bike conforme ia crescendo. Pedalei muito até pouco tempo depois de ter meu filho e então, abandonei minha companheira no quintal, até ser doada.

Meu filho já está com dezesseis anos, passei por uma cirurgia em que perdi a função original dos músculos retroabdominais e cá estou, novamente, aprendendo a andar de bicicleta. Preciso (re)conhecer o sentido do equilíbrio ao manejar outros músculos que mantenham meu tronco estável, pois caso vire de repente para trás, nada me segura de pé. Portanto, tenho dado uma saidinha básica e rápida em dias alternados, na ciclovia da orla do Paraíba, até que esteja segura de que tenho condições de enfrentar o trânsito e sair pela cidade. Não vejo a hora!

Um tempo atrás, numa crônica publicada no meu blog pessoal - Sobre desejos contidos e realizações -, falei sobre a admiração que tenho por pessoas que tentam, em qualquer idade, realizar seus sonhos, e se sentem vitoriosos pela conquista, mesmo que seja pequena. Não digo que voltar a pedalar seja a realização de um sonho, mas um desejo que posso, sim, satisfazer. E a certeza desse poder já faz um bem enorme para a saúde.


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Foto: Corbis

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